A neutralidade climática não se consegue atingir só reduzindo emissões. A redução é crítica, mas é necessário evitar a destruição dos sumidouros naturais já existentes, como as florestas, e aumentar a remoção e sequestro dos gases com efeito de estufa que já estão na atmosfera, plantando nova floresta e regenerando os ecossistemas.

Falar de mercados de carbono é importante e avizinham-se novidades a breve trecho em Portugal a este respeito, com o futuro diploma legal que irá regular o mercado voluntário de carbono. A regulação vai conferir clareza e segurança às transações de créditos de carbono, tanto do lado da oferta como da procura. O segredo aqui será desenhar um mercado que não seja nem demasiado amplo (o que inundaria o país de créditos de carbono “fáceis” e de baixo preço, tornando desinteressantes, do ponto de vista económico, os projetos que os geram), nem demasiado restrito (o que o tornaria um mercado-nicho, sem impacto). Mas, se bem balizado, este mercado vai gerar confiança, tanto nos promotores dos projetos, como nas empresas que procuram estes créditos de carbono, como mais uma das componentes da sua estratégia de descarbonização, canalizando o investimento também para a ação climática.

Contudo, os mercados de carbono não nos devem distrair do que é mais importante. Não basta compensar emissões comprando créditos de carbono, aquilo que as empresas se devem perguntar é se o que estão a fazer trará verdadeiramente um balanço positivo para a natureza e para o clima.

Num contexto em que investidores, financiadores, clientes e consumidores, toda a sociedade, atribuem crescente responsabilidade ao mundo corporativo em matéria climática e ambiental, a sustentabilidade está finalmente a ser reconhecida como a estratégia central de negócio das empresas, essencial para o seu posicionamento no mercado.

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O desafio para as empresas é, e deve ser, antes de mais, descarbonizar as suas operações o mais possível, promover a descarbonização da sua cadeia de valor, estimular (e ajudar quando necessário e possível for) fornecedores e clientes a reduzirem as suas emissões. Mas, para atingirmos as metas de Paris, teremos de ir mais além. Uma empresa, para se destacar face aos seus concorrentes, terá de fazer algo mais do que (um dia) ser “neutra em carbono”, reduzindo emissões e compensando aquelas que não consiga reduzir.

Com a regulação europeia a impor mais e mais obrigações de reporte às empresas, obrigando-as até, em breve e nalguns casos, a adotarem planos de descarbonização detalhados, chegará o momento em que a redução e a neutralização das emissões deixará de ser um elemento distintivo entre concorrentes.

As empresas verdadeiramente “sustentáveis” serão as que se evidenciem pelo impacto positivo na natureza e no clima, e que vão para além da sua atividade mais direta e, até, das suas cadeias de valor. A nova concorrência entre empresas destacará aquelas que complementem os seus planos internos de descarbonização com uma estratégia de ação climática mais vasta, as que invistam em instrumentos e projetos de base natural com um impacto positivo e real nos territórios de proximidade. Estes projetos devem ser incrementais, restaurando e protegendo simultaneamente a natureza e a biodiversidade, trazendo benefícios sociais relevantes para as comunidades e economias locais.

Deixo-vos com uma nota preocupante e paradoxal, que nos deve a todos fazer pensar bem no legado queremos deixar: Hoje, uma floresta ainda vale mais morta do que viva. Soa errado, certo? E é.