Desengravatados e imbuídos de uma confiança desmedida pelos seus modestos sucessos, semelhantes aos de tantos outros que ficaram pelo caminho, renegam os seus antepassados e cultura juntamente com os valores que lhes foram legados. Convencidos de que são uns desempoeirados, despojaram-se de títulos e convenções, contudo, exibem com toda a fatuidade as mais medíocres e artificiais distinções, inventadas por um qualquer anónimo.
Já os conhecemos a todos antes de os conhecer. Os seus gostos e estilos são todos modas. Todas as experiências que consideram especiais, como músicas e filmes, são igualmente especiais para todos os outros, logo nada especiais. A maioria das suas vivências foram compradas e não existem fora de um “pacote de experiências” já provavelmente desactualizado. Desenraizados e avessos à leitura, não vão além do que lhes é transmitido através de cabos e antenas.
Não são empreendedores ou empresários de sucesso. Quando procuram iniciar um negócio, limitam-se a abrir “novos conceitos”, que não passam de vendas de empadas ou algo semelhante. No entanto, sonham no seu íntimo com cargos de projecção global. Ensinados a não admirar ninguém, excepto a imagem que fazem de si próprios, são facilmente substituídos, pois são todos iguais.
Vivem num circuito que se resume ao espaço entre casa, escritório e locais de aprimoramento corporal. Nos tempos de lazer, gostam de viajar, mas o inconveniente é que viajam na sua própria companhia. As suas viagens expandem os horizontes apenas no sentido do relativismo cultural e moral para abraçarem melhor o seu desenraizamento e vulnerabilidade.
Vivem no crepúsculo do pensamento e na monotonia autocentrada: se frequentam o teatro é para publicar nas redes sociais; se visitam museus é apenas para completar uma checklist de destinos turísticos; se lêem um livro, escolhem-no do topo de vendas; se ajudam os menos afortunados, fazem questão de partilhar uma selfie. Em suma, aborrecem-se uns aos outros porque são intrinsecamente aborrecidos e os seus fartos sorrisos já não distinguem os afectos do sentimentalismo.
Viciados no economês, julgam o valor das coisas pela oferta e procura, pelo exterior e efeito que produz, incluindo o valor deles próprios. Desconhecem valores intrínsecos e que as melhores coisas são aquelas que estão fora da lógica da procura e da oferta. Só conhecem “o preço de tudo e o valor de nada”. Para eles, nada é um fim e tudo é meramente instrumental.
Pregam a religião do Homem, que lhes deu um aparente sucesso. A vida frenética leva-os a acreditar que dominam a existência humana. O seu maior receio converteu-se na sua “saúde mental” que tratam com receitas de desenvolvimento pessoal. Vivem no mundo do empírico, escravizam-se com métricas e reduzem-se a uma origem símia. Desconhecem o pensamento abstracto e anseiam pela inteligência artificial.
Educados pelos mecanismos do mercado, para o mercado, dentro do mercado, valem tanto quanto qualquer mercadoria. Obcecados pelo devir, menosprezam o passado, sem nunca atingirem o ser.