Num mundo em permanente mudança e transformação, há coisas que não nos podem escapar. E uma delas é o papel da sensibilização para a diferença e para a inclusão. Enquanto colaborador do terceiro sector, não me posso demitir de dar o meu testemunho das inúmeras instituições e associações sem fins lucrativos que trabalham no terreno para ajudar quem mais precisa. É preciso pararmos e olharmos para estas pessoas, equipas, que todos os dias dão o seu melhor em prol de uma sociedade mais justa e mais inclusiva. E são a elas, que os agentes políticos, entidades públicas e empresas devem recorrer quando precisam de incluir. Porque a inclusão não é uma mera e pontual integração de uma pessoa com deficiência numa empresa para cumprir a quota, não é ajudar alguém na rua com um pedaço de comida, não é dizer que temos imensos utentes acompanhados ou ajudados.
Inclusão vai muito mais além. Vai ao ponto de sentirmos que ao ajudarmos uma pessoa ou uma família apenas, ficamos de coração cheio. E é quando o sentimos como um gesto imenso, que estamos a fazer inclusão. Porque inclusão sem qualidade não é inclusão, pode muitas vezes tornar-se em exclusão, principalmente na área da deficiência intelectual ou na prevenção da saúde mental. Inclusão com qualidade é agarrar aquela pessoa, aquela família com unhas e dentes e dizer, caramba eu vou ajudar-vos até ao fim, não vos largo nem vos deixo um segundo sem que a empresa, entidade, ou escola as perceba e aceite. E é esta mudança que me parece fazer mais sentido atualmente, em que toda esta crise pandémica, e consequente crise económica e social vai trazer.
Está na altura de deixarem o terceiro sector atuar, porque melhor do que ninguém sabe o que está a fazer e a acontecer no terreno. Conhece realmente os problemas que co-habitam muitas vezes ao nosso lado e nem damos por eles. Pessoas e famílias precisam de ajuda como nunca. E é sensibilizando, desdramatizando muitas vezes o que é simples, que podemos ajudar todos e, fundamentalmente, em rede. É necessário um espírito de equipa e de coesão entre todos os agentes principais nestas matérias, desde a saúde à educação, ao poder local, às instituições. Só assim poderemos mudar vidas, transformar futuros. Se todos unirmos esforços em prol de uma sensibilização adequada e bem direcionada, estaremos certamente a fazer o nosso papel enquanto cidadãos com responsabilidade social.
Trata-se de fazer inclusão sustentável, de longo prazo. Para a maioria das empresas ainda são números e é, de facto, compreensível que assim seja, pois as empresas vivem disso. Aqui, o grande desafio é mudar este mind set da maioria das empresas, porque algumas já fazem, e bem, este caminho e temos isso bem presente na APSA, através do nosso Programa Empregabilidade. Mas sabemos também que muitas ainda estão longe de atingir o verdadeiro sentido da inclusão. Claro que a lei das quotas tem vindo a acelerar todo este processo e existem empresas, inclusivamente, a criar departamentos de inclusão especializados, mas ainda que esse caminho seja positivo, é preciso perceber se esses departamentos são realmente eficazes. Acima de tudo, estamos a falar de vidas humanas. E se estas vidas forem bem acompanhadas e bem integradas podem dar muito valor à empresa. Esta sensibilização é fulcral, sobretudo junto dos dirigentes/chefes de equipas e CEO’s das empresas.
Existem já programas em curso, que visam a formação e sensibilização de quadros empresariais, programas que a APSA já implementa há bastante tempo e que são fundamentais para mudar a cultura de uma empresa. Aquilo que esperamos, enquanto agentes no terreno, é que um dia se deixe de falar em “inclusão” ou departamento inclusivo, e se assuma, com naturalidade, que aquela ou aquelas pessoas com deficiência deverão ter as mesmas oportunidades que todas as outras e serem tratadas de forma igual. O nosso papel é explicar, desdramatizar e sensibilizar para características diferentes e que, de certa forma, se tornarão comuns se a sociedade em geral for capaz de mudar o seu mind set através de uma melhor compreensão e perceção destas realidades. Neste momento, são já as empresas que procuram a ajuda da APSA para integrarem jovens com síndrome de Asperger, o que é fantástico. Mas o caminho para a inclusão plena é ainda longo e existem ainda muitas pedras para partir. Acreditamos que todos juntos faremos a diferença. E nem que seja na vida de uma só pessoa, já valeu a pena!