O Relatório Global de Monitorização da Educação da UNESCO, de 2023, concluiu «[que] crianças entre os dois e os 17 anos mostram menor bem-estar físico nos casos de exposição prolongada a dispositivos electrónicos, e, por isso, recomenda a existência de limites claros para a utilização (ou proibição) dos dispositivos eletrónicos.»
Hoje, as nossas crianças são expostas demasiado cedo ao iPad e ao telemóvel. Apesar de haver cada vez mais recomendações, nacionais e internacionais, psicólogos e psiquiatras a alertar para os perigos que as crianças correm, os pais, demasiado ocupados e indiferentes aos alertas, continuam a entregar os seus filhos aos écrans e, compreendam ou não, a abandoná-las à sua sorte.
Quantos pais, param para pensar que, hoje, os seus filhos são bombardeados com mais informação do que um Imperador Romano no auge do império?
A medicina diz-nos que numa idade tão tenra as crianças não têm capacidade/maturidade para processar e filtrar tudo o que ouvem e vêem.
Apesar dos alertas, as crianças continuam a ser separadas dos pais cada vez mais cedo e deixadas ao cuidado de estranhos, carregam mochilas pesadas às costas e têm horas marcadas para um sem-número de actividades que visam mantê-las ocupadas enquanto os pais se desunham a trabalhar para lhes garantir tudo-e-mais-alguma-coisa. Tudo, menos aquilo de que elas mais precisam: a presença, a direcção e o acompanhamento dos pais.
Acredito que esse «abandono» é a razão para haver cada vez mais crianças a consultar psicólogos e psiquiatras e a serem medicadas com calmantes e anti-depressivos. Hiperactividade, déficit de atenção, os dois em um (transtorno do déficit de atenção com hiperactividade (TDAH)), são os transtornos da moda e, nalguns casos, também têm sido os rótulos escolhidos para «castrar» os rapazes que não conseguem estar parados horas a fio numa sala de aula e muito menos concentrar-se, e que acabam por ser “domados” com drogas.
Alguma vez parou para pensar o que tem levado cada vez mais rapazes a abandonar o ensino?
Por outro lado, e do meu ponto de vista, a hiperactividade também tem sido o nome escolhido para desculpar a má-educação e mascarar a incapacidade de pais que não conseguem educar, corrigir e impor regras aos petizes, que parecem cada vez mais nervosos, irritadiços, birrentos, acelerados e exigentes. Nunca, em toda a minha vida, vi filhos pequenos a constranger os pais de tal forma, que estes acabam por lhes dar tudo o que exigem só para os ver calados.
Mas, e voltando ao uso dos écrans para entreter os mais pequenos, quero fazer um apelo aos pais: Se amam os vossos filhos e querem que eles sejam saudáveis, não lhes dêem iPads nem smartphones.
Eu sei que, hoje, todas as pessoas têm um iPad e um telemóvel. Eu sei que nós, adultos, pais ou avós, muitas vezes, damos mau exemplo aos nossos filhos e aos nossos netos, quando, em vez de conversarmos e brincarmos com eles, ficamos agarrados ao telemóvel. Mas, urge perceber que aqueles que mais amamos estão em risco de serem vítimas de tráfico humano, abuso sexual, exploração infantil e muito mais.
De acordo com notícias recentes , «quase toda a interacção social — e interacção sexual — de crianças e adolescentes é moldada pelos pequenos e sempre pulsantes dispositivos que carregam consigo aonde quer que vão. Isso deu origem ao cyberbullying e a uma onda de suicídios, sexting e exploração sexual de adolescentes por adolescentes, e à exposição quase ininterrupta à pornografia. Adolescentes — e crianças — são atraídos para as redes sociais, do Facebook ao Instagram, do Snapchat a meia dúzia de outros ambientes cibernéticos subterrâneos, onde as interacções e o conteúdo são direccionados apenas para as crianças que os povoam, livres da supervisão dos pais ou de adultos responsáveis.»
As crianças acabam por perceber que isso está a tornar as suas vidas miseráveis. Algumas confessam isso e também dizem que não têm como sair. Grande parte das suas vidas é vivida on-line e optar por sair é auto-condenar-se ao isolamento. A moeda de troca pode ser fotos sem roupa ou sexualmente explícitas ou “selfies” — e, cada vez mais, isso não é opcional.
Os pais não podem controlar o novo mundo dos adolescentes. Em muitos casos, nem sequer conseguem entrar nele. É por isso que um pai ficou tão perplexo quando a sua filha se enforcou depois que um adolescente ter postado um vídeo dela no chuveiro, no Snapchat — essa foi a primeira vez que o pai enlutado ouviu falar do Snapchat. Para os pais que desejam resgatar os seus filhos da selva cibernética ou poupá-los da dor que está a engolir milhões, há uma série de respostas: dar-lhes iPads e smartphones o mais tarde possível; conversar abertamente sobre os perigos que se escondem on-line; supervisionar do uso das redes sociais e usar software de responsabilização e filtros em todos os dispositivos tecnológicos.
Pais, não dêem iPads nem smartphones aos vossos filhos.
Este conselho é muito impopular nalguns círculos, mas é essencial. Crianças, e a maior parte dos adolescentes, não precisam de um telemóvel com acesso à Internet, não precisam de acesso ininterrupto a sites e a redes sociais que os colocam sob a influência dos pares e de adultos perversos, não precisam da pressão social que inevitavelmente acompanha a sua entrada num mundo cibernético de adolescentes com novos padrões e uma nova moeda de troca.
E acima de tudo, crianças e adolescentes não deveriam ter acesso a toda a pornografia que a web pode oferecer, material hediondo e vil que está a definir novos padrões sexuais aos quais os adolescentes estão a começar a conformar-se, seja por pressão dos pares, seja por solidão ou escolha.
Termino este artigo com o testemunho daquele que tinha tudo para ser um homem comum. Inteligente, gentil e extrovertido, Ted Bundy era a imagem de um homem em ascensão. Mas Bundy não era um jovem normal. Era um serial killer que violou e matou dezenas de mulheres jovens.
O Dr. James Dobson entrevistou-o poucas horas antes da sua execução. O homem, que não tinha nada a perder, abriu a sua alma sombria e confessou:
«Eu tive uma infância normal. E isso faz parte da tragédia de toda esta situação, porque cresci num lar maravilhoso, com pais dedicados e amorosos, como um de cinco irmãos e irmãs, num lar onde nós, como crianças, éramos o foco das vidas dos meus pais, íamos regularmente à igreja, os meus pais, cristãos, não bebiam, não fumavam, não havia agressões físicas nem discussões feias em casa. Mas, quando era um adolescente, encontrei, fora de casa, na mercearia local, na farmácia local, a pornografia «leve» a que as pessoas chamavam soft core […]. E de tempos em tempos, deparava-me com livros pornográficos de uma natureza mais pesada, e de uma natureza mais gráfica e explícita do que a que encontrava na mercearia. Quero enfatizar que os tipos de pornografia mais perigosos, e falo por experiência própria, são aqueles que envolvem violência e violência sexual. Porque o casamento dessas duas forças, como só eu sei, traz cá para fora um ódio que é simplesmente muito, muito difícil de descrever. […] Aconteceu gradualmente. A minha experiência com a pornografia em geral, mas principalmente com a pornografia que lida com a sexualidade num nível violento, é a de que uma vez viciado – e vejo isso como um tipo de vício como qualquer outro – eu ia à procura de materiais mais violentos, mais explícitos, mais gráficos. Até que se atinge um ponto em que a pornografia só vai até ali, um ponto limite em que começamos a perguntar-nos se fazer tudo aquilo, ao vivo e a cores, nos poderá dar algo que esteja para além de apenas ver. […] É uma coisa muito difícil de descrever, a sensação de se atingir aquele ponto em que eu sabia que… que alguma coisa tinha, por assim dizer, estalado […] é uma compulsão … uma construção dessa energia destrutiva. O que o álcool fez em conjunção com a exposição à pornografia foi reduzir as minhas inibições, e ao mesmo tempo, a vida de fantasia cujo combustível era a pornografia corroeu-as ainda mais.» (Ben Shapiro, Geração Porno, Vide Editorial, págs. 191-193)
Então, Ted Bundy violou e matou.
Pais, como mãe e avó, rogo-vos mais uma vez: não dêem iPads nem smartphones aos vossos filhos.