Olhando para as notícias, títulos e comentários na Comunicação Social relativos à Convenção Nacional da Iniciativa Liberal (IL), realizada no passado mês de janeiro, percebe-se um certo tom crítico (falaram em amadorismo por causa dos atrasos) e alguma surpresa com a quantidade de listas apresentadas a sufrágio aos vários órgãos da IL, e, mais ainda, com alguma crispação em algumas intervenções ao longo da Convenção.
Na verdade, se as coisas têm corrido tão bem em termos eleitorais, se João Cotrim de Figueiredo goza de uma excelente imagem junto dos membros e simpatizantes da IL em geral, e até junto de pessoas de outras áreas políticas, como é possível tal insatisfação?
Estas interrogações mostram que, no domínio da política, as pessoas ainda têm muita dificuldade em compreender a realidade quando esta escapa às suas pré-compreensões, e, nestas matérias, a pré-compreensão é: “em equipa que ganha não se mexe”.
Aparentemente é assim nos partidos políticos que se habituaram aos modos da Corte e se orientam pelo que passa, ou não passa, na Comunicação Social ou pelas judiciosas observações da legião de comentadores políticos que enxameiam os jornais e as televisões. Se o partido tem bons resultados eleitorais não se critica o líder, muito menos em público e, muito menos ainda, nas convenções e congressos.
E se o líder tem telhados de vidro, então temos a velha e pusilânime atitude do don’t ask, don’t tell. O que interessa é continuar a ganhar eleições, custe o que custar, ainda que cheire mal por todo lado.
No que se refere à IL, e para compreender bem o que se passou na Convenção Nacional, importa ter presente três aspetos.
Em primeiro lugar, qualquer membro da IL pode participar nas Convenções Nacionais; na IL os direitos estatutários são exercidos diretamente por cada membro e não através de “delegados”. Na IL ainda vigora o princípio de que todos os membros são livres e iguais.
Em segundo lugar, é importante lembrar que, embora os membros da IL partilhem uma visão comum de uma ideia de justiça para Portugal, é natural haver perspetivas diferentes sobre os métodos, a organização, os tempos de realização de objetivos, o estilo de liderança. Ainda que partilhando a mesma ideologia política, cada um de nós tem uma história própria, valores morais próprios, um contexto próprio. E esta diversidade deve ser encarada com naturalidade, sem dramatismos, sem crispações e sem receios. Os liberais amam a liberdade e, por isso, não receiam as suas consequências e o risco que ela envolve.
Finalmente, a IL nasceu sob o signo da Liberdade (assim mesmo, com “L” grande); na IL defende-se a liberdade intransigentemente, custe o que custar, em todas as suas dimensões, e porque liberdade implica responsabilidade, somos exigentes com quem dirige os destinos do partido.
Houve atrasos porque demorou a haver quorum; havia mais de 2300 membros inscritos na Convenção e talvez nem todos tivessem noção da importância de respeitar horários. É um partido novo com muita gente que nunca tinha tido atividade política. Também houve atrasos porque toda a gente que quis falar pôde falar, ainda que muitos gostassem de ter tido mais tempo para o fazer. Na IL, há liberdade para pensar e liberdade para dizer o que se pensa.
Criticou-se o facto de na Convenção “não se ter falado para o país” (as pessoas adoram chavões). Não se falou para o país porque os membros da IL estão todos de acordo sobre as medidas e os objetivos essenciais para o país, que estão no Programa Eleitoral preparado para as últimas eleições legislativas. A Convenção foi feita para eleger os titulares dos órgãos da IL e para discutir as diferentes visões dos seus membros relativas à organização interna da IL.
O que se passou na Convenção Nacional foi um exercício de liberdade. Uma parte dos membros da IL não está satisfeita com a organização interna e com o estilo de liderança de alguns dirigentes e reagiu de forma veemente, e sim, aqui e ali também de forma algo crispada, ou talvez apaixonada. Muitos membros da IL são pessoas que aderiram a um partido político pela primeira vez e trazem nelas a esperança de que, finalmente, é possível fazer política com verdade e com coragem, e, mais ainda, trazem a exigência a que se habituaram nas suas vidas profissionais e pessoais. Estas pessoas não se remetem ao silêncio por cobardia ou por oportunismo.
E não se diga que as discussões foram despoletadas pela renúncia de João Cotrim de Figueiredo, porque já antes havia várias candidaturas para os outros órgãos da IL. Essa renúncia apenas levou à necessidade de realizar eleições também para a Comissão Executiva.
Com a Convenção Nacional, os portugueses ficaram a saber que na IL, mesmo com sucessos eleitorais, existe exigência e, além disso, existe liberdade efetiva, coragem e frontalidade para discordar. Ficaram a saber que os membros da IL praticam na sua própria casa aquilo que defendem para Portugal, sem a duplicidade e a hipocrisia a que outros partidos nos habituaram. Expusemo-nos à crítica? É o risco da liberdade.
E depois da Convenção Nacional? Os vencedores estão obrigados a ser competentes, rigorosos e transparentes; os vencidos têm de continuar a ser exigentes, corajosos e frontais, sempre com lealdade e espírito construtivo, tudo sem perder de vista o objetivo mais importante: tornar Portugal mais livre, desenvolvido e mais justo para todos os portugueses.