Comecemos pelo dado imperativo: os futuros profissionais do setor da saúde, assim como os que já se encontram no terreno, devem estar prontos a identificar necessidades e adotar inovação nas várias áreas da saúde. De facto, a transformação digital dos cuidados de saúde faz-se sentir em todo o mundo e em Portugal essa realidade social e tecnológica não pode – e não deve – ser adiada.

Efetivamente, em hospitais e noutras unidades de saúde, a inovação digital e a criatividade compõem elementos-chave para potenciar ganhos de produtividade, reduzir custos e, mais importante, levar aos utentes um serviço de maior qualidade e melhores resultados. Esta necessidade de inovar em saúde torna-se ainda mais premente numa época marcada pelo envelhecimento populacional, que exige, pois, uma resposta assente em tecnologias digitais com potencial de tratamento mais eficaz e eficiente de doenças crónicas, por exemplo – não apenas presencialmente, mas, também, à distância.

Porém, esta mudança só acontece quando as soluções estão alinhadas com os problemas no terreno, o que, frequentemente, não acontece. É, por isso, necessário incutir uma cultura de inovação nos profissionais das diferentes áreas, mas deve sempre ser o problema a dar origem à solução, e não uma solução à procura de um problema. Isto requer uma mudança estrutural, que passa por promover programas de educação e formação pós-graduada que aumentem a literacia no processo de inovação e estimulem o empreendedorismo. Dessa forma, criam-se as bases necessárias para fomentar a presença de soluções inovadoras na saúde e, mais ainda, fomentar a adoção das já existentes.

Estas formações devem, igualmente, envolver todos os intervenientes – estudantes, profissionais de saúde, potenciais parceiros académicos e da indústria e, claro, os próprios cidadãos. Só com este caráter de multidisciplinaridade se poderá construir um ecossistema de inovação sólido, em que todas as partes contribuem para um sistema de saúde mais capaz.

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No que à educação de inovação em saúde diz respeito, podemo-nos orgulhar da existência de alguns programas que prometem preparar os profissionais recém-formados para a realidade em vigor. A EIT Health Ageing PhD School é uma excelente referência europeia no domínio do envelhecimento, por exemplo. Falo de uma iniciativa que reinventa os profissionais especializados em gerontologia, ao dotá-los de habilidades empreendedoras e, como tal, de competências para desenvolver soluções inovadoras no âmbito das ciências do envelhecimento. As competências adquiridas no programa oferecido tornam-se ainda mais relevantes dadas as parcerias existentes com a escola. Refiro-me a parceiros académicos e não académicos, à escala europeia, liderados pela Universidade de Coimbra.

O programa StarShip também merece destaque. Tendo por base a metodologia de Biodesign de Stanford, o programa incentiva os estudantes a desenvolver respostas inovadoras para desafios propostos por parceiros industriais, começando pelo mapeamento e avaliação de potenciais problemas e necessidades reais. Em conjunto com equipas multidisciplinares altamente qualificadas, preparam-se profissionais prontos a levar este conhecimento para dentro das organizações, ou lançar os seus próprios projetos.

A área da saúde é ainda um setor conservador à mudança. Mas com os estudantes, os profissionais e os cidadãos mobilizados para o mesmo objetivo – encarar inovação em saúde como um processo contínuo e sistemático – chega a certeza de encontrarmos resposta às várias necessidades rumo a uma vida mais saudável.