O universo das startups continua a atrair uma atenção significativa, com os empreendedores a serem vistos como uma espécie de heróis, com coragem para arriscar e impulsionar a inovação nas mais diversas áreas. Sendo o papel dos empreendedores inquestionável, a verdade é que nos esquecemos frequentemente da contribuição fundamental que outros elementos têm na promoção desta mesma inovação, dentro das empresas. Falamos, é claro, dos intraempreendedores.

Steve Jobs popularizou o termo quando descreveu a equipa por trás do primeiro Macintosh, mas ainda há um longo caminho a percorrer até que empreendedores – líderes de novos negócios ou projetos – e intraempreendedores – líderes de novos programas, produtos/serviços e políticas dentro da organização – recebam o mesmo tipo de reconhecimento.

O empreendedorismo e o intraempreendedorismo encontram-se intimamente ligados nos seus objetivos, ações e ambições. Apesar de contarem, cada um, com os seus riscos e oportunidades, são semelhantes na sua essência. E embora a estrada percorrida por ambos contemple diferentes caminhos, esta leva a muitos dos mesmos desafios.

Os intraempreendedores têm, aliás, muito em comum com os empreendedores, nomeadamente em atributos individuais, como apetência para o risco, proatividade, pensamento crítico e capacidade para resolver problemas. Acima de tudo, não são desistentes e agem como verdadeiros líderes, com convicção, empenho e perseverança. Estas características são valorizadas pelas empresas, tanto grandes como pequenas, e reconhecidas como essenciais para impulsionar a inovação e promover a mudança.

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Posso afirmar que a capacidade para se tornar intraempreendedor reside na maior parte de nós, caso nos seja dada essa oportunidade. Mas muitos não sabem por onde começar, até porque não há ainda muitos testemunhos de quem já passou por esta jornada. Assim, seguem dez dicas de como se tornar num intraempreendedor.

1. Pensar e agir como dono do negócio
Seja qual for o desafio, é preciso acreditar de forma inabalável que as coisas, de uma maneira ou de outra, vão resultar. Assumir responsabilidade pelo trabalho e tentar obter uma compreensão profunda do cliente é também crucial para uma abordagem bem sucedida. Nunca desistir é o mote.

2. Olhar para a frente e para fora; não para trás e para dentro
É demasiado fácil, no contexto empresarial, olhar para o próprio umbigo, focar-se no insignificante e servir apenas as necessidades de curto prazo. Ter a disciplina de olhar sempre para a frente e para fora da organização exige coragem e ousadia, mas é essencial.

3. Criar uma tensão criativa interna
Nem sempre é possível satisfazer cada stakeholder ao mesmo tempo. Por isso, é importante aceitar a diversidade de opiniões e que o alinhamento será um derivado; não o objetivo final. Evitar o consenso pode levar a algo excecional.

4. Definir métricas de sucesso desde o início
Mesmo que não se tenha sempre a noção do que é o sucesso, é possível orientar os colaboradores para um objetivo, ainda que este possa mudar ao longo do tempo. Depois, é preciso trabalhar no sentido inverso, para definir os blocos de construção internos que ajudarão a alcançar resultados bem sucedidos e gerar valor.

5. Criar momentum, desde cedo
Sucesso gera sucesso, por mais pequena que seja cada vitória. É por isso que os êxitos ao longo do caminho devem ser realçados junto das chefias, validando a liberdade para continuar a falhar, aprender e crescer. Identificar os frutos mais fáceis de apanhar pode ser uma boa estratégia.

6. Evitar níveis de precisão ilusórios
Não faz sentido medir os resultados das operações com a mesma fita métrica com que se medem os resultados do core business. Nas mais diversas áreas dentro da empresa, é aconselhável evitar um nível de interpretação científica dos números, ajudando os stakeholders a compreender o que é importante medir e a que nível.

7. Não utilizar dinheiro para resolver problemas
Neste campo, é importante ser criativo, sendo ponto assente que o dinheiro não incentiva soluções criativas como resposta a problemas. Abraçar a filosofia “lean startup” envolve reconhecer as limitações e contorná-las, independentemente de como estas surgiram.

8. Recrutar ex-atletas
Quer se trate de futebol, ioga, natação ou hóquei, os ex-atletas entendem o trabalho árduo que foi necessário para chegar ao mais alto nível nos seus desportos. Também eles sentiram, muitas vezes, o fracasso. Integrá-los nas equipas é, por si só, fator de motivação.

9. Celebrar cada pequeno milestone
Comemorar cada vitória, por mais insignificante que pareça, é fundamental para criar momentum, especialmente se a celebração for partilhada dentro e fora da equipa. Tendo como base cada sucesso, é importante envolver toda a equipa de forma regular e frequente, não esquecendo de reconhecer que os fracassos serão mais comuns do que os sucessos.

10. A pressão é um privilégio
Ninguém disse que ia ser fácil e a pressão será, definitivamente, uma constante. É crucial não deixar que a mente se deixe levar pela tentação de desistir, aproveitando cada segundo da jornada. Ser um intraempreendedor é um enorme privilégio e, em muitos aspetos, uma oportunidade única na vida.

A jornada de um intraempreendedor é repleta de desafios, mas também de possibilidades extraordinárias. Ao abraçar as dificuldades com resiliência e criatividade, o intraempreendedor tem nas suas mãos o incrível poder de transformar uma organização de dentro para fora, como um verdadeiro herói invisível. Já dizia George Bernard Shaw: “O progresso é impossível sem mudança, e aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada”.