O que é a dignidade? O que significa? Para que serve? Como explicar dignidade a uma criança ou a um adolescente? Foram estas as perguntas que fiz a mim mesma enquanto me preparava para participar no meu primeiro Dia da Dignidade em 2015.

Mas comecemos pelo início. A Global Dignity é uma organização sem fins lucrativos criada em 2006 por três amigos Young Global Leaders do Fórum Económico Mundial: o príncipe herdeiro Haakon (Noruega), o professor Pekka Himanen (Finlândia) e o fundador da Operação HOPE, John Hope Bryant (Estados Unidos). Os três aperceberam-se de que a única coisa em que todas as pessoas estão de acordo no mundo, independentemente de todas as suas diferenças, é que todos queremos ver a nossa dignidade garantida.

O conceito de dignidade contempla os seguintes princípios:

  1. Todos os seres humanos têm direito a uma vida digna;
  2. Uma vida digna significa ter a oportunidade de cumprir o potencial de cada um, com base no acesso a cuidados de saúde, educação, rendimento e segurança;
  3. Dignidade significa ter liberdade para tomar decisões sobre a própria vida, sendo que as mesmas são respeitadas e cumpridas;
  4. Dignidade deve ser o princípio básico orientador de todas as ações;
  5. Em última análise, a nossa própria dignidade é interdependente da dignidade dos outros.

Com base nestes princípios, o movimento promove todos os anos o Dia Global da Dignidade na terceira quarta-feira de outubro. Nesta iniciativa, são realizadas visitas a escolas e comunidades locais por todo o mundo, com o objetivo de promover e lecionar um workshop sobre dignidade para os mais novos. Em Portugal, a iniciativa é desenvolvida pelos Global Shapers Lisbon Hub desde 2013, tendo chegado a cerca de mil alunos e quatro escolas em 2015, e escalado para 3.000 jovens em 30 escolas em 2016 com o apoio do Alto Comissariado para as Migrações e da Marinha Portuguesa. Este ano, irá realizar-se a partir de amanhã por escolas espalhadas por todo o país. O dia é dinamizado por voluntários como eu, outros Global Shapers, e pessoas de outras organizações.

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Voltando a 2015. Entrei na sala de alunos do 8º ano que me foi atribuída e começámos por discutir que palavras associavam a dignidade. Respeito, amor, igualdade, compreensão, liberdade. Depois pedi-lhes para partilharem histórias pessoais sobre dignidade. Sabia que seria difícil fazê-los expor-se à frente da turma, portanto dei o exemplo: falei-lhes de momentos de bullying na minha infância, como me tinha tornado uma melhor aluna como mecanismo de defesa e para ganhar respeito, e o que isso tinha influenciado a minha vida.

A partir daí a conversa fluiu. Procurámos situações positivas do nosso dia-a-dia. Discutimos como tornar histórias de racismo, de xenofobia, de desrespeito, em exemplos positivos para a nossa vida. Compreendemos melhor os pontos de vista uns dos outros, compreendemos o que podíamos aprender e mudar. Partilhámos pequenos e grandes gestos que podíamos ter para garantir a dignidade de todos à nossa volta. E, no final, todos escrevemos num papel uma promessa de que atitude iríamos mudar para isso. Promessas tão diversas como “não vou chamar mais gorda à minha amiga”, “vou ajudar mais a minha mãe em casa”, “vou tentar mentir menos”. Compromissos que colámos num painel à vista de toda a escola, antes de nos juntarmos às outras turmas na sessão de plenário, para partilha e encerramento do dia.

Saí daquela escola a pensar que, se todos os adultos, pudessem fazer esta reflexão frequentemente, o mundo seria um lugar melhor. Se é importante para os jovens refletirem sobre dignidade, acreditem que os adultos participantes não são menos impactados pelas histórias e pelo ambiente do dia.

Portanto hoje, na véspera do nosso Dia Global da Dignidade de 2017 (18 de outubro), deixo-vos uma pergunta: se, como os alunos que participam neste dia, tivessem de escrever num papel que atitude iriam mudar para garantir que os princípios da dignidade são cumpridos, para ajudar a garantir a dignidade dos outros à vossa volta, qual seria a vossa promessa?

(Para mais informações sobre o Dia da Dignidade e a Global Dignity, visite esta página)

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Inês Relvas tem 28 anos e é Consultora na empresa global de consultoria estratégica The Boston Consulting Group, no escritório de Lisboa. Tem experiência principalmente nas indústrias de retalho, energia, serviços financeiros e bens industriais, em Lisboa, Madrid, Londres e Luanda. Licenciada em Gestão pela Nova School of Business and Economics, a sua curiosidade por resolver problemas levou-a a juntar-se à BCG após o seu mestrado em Gestão na Católica-Lisbon School of Business and Economics. Completou recentemente o seu MBA no INSEAD. Juntou-se aos Global Shapers Lisbon Hub em 2014 e é a atual Curadora para 2017/2018.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o futuro do país, com base nas respetivas áreas de especialidade, como aconteceu com este artigo sobre os impactos para a empresa da responsabilidade social corporativa. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.