Antes de se iniciar este último confinamento, presidentes de politécnicos, reitores e ministro afirmavam em uníssono com alunos e professores que o Ensino Superior é seguro e que deve ser presencial. Contudo, a promoção de uma ex-secretária de Estado a especialista e um novo desenho do plano de emergência atirou as universidades para o limbo, com uma apologia de que o ensino à distância “só lhes faz é bem”. Não muito longe desta ideia está o “e o que devem fazer é preparar para trabalhar”, numa apologia de tornar os politécnicos e as universidades no instituto de emprego, agora em modo telescola.
Já vimos de tudo nesta linha. Desde a formação de médicos, que nos juravam que era perfeitamente possível de ser feita integralmente “à distância” (sem assento), até aos músicos que tocariam na orquestra por Zoom (como se não existissem problemas de latência, para não falar em todo o mirabolante deste “mundo novo”).
Apesar de, a muito custo, estar previsto o regresso às atividades letivas a 19 de abril, no inconsciente coletivo ainda está a ideia do “focus group” (desculpem, “auscultação por consenso” coordenada por uma “especialista”) de que as universidades não são algo essencial.
As consequências são óbvias. Arriscamos perder mais um ano, com os problemas que já vimos no passado, quer de ensino, quer de inserção, quer de socialização (que constrói e integra a partilha do Conhecimento).
Um ministro não pode atirar tudo para os politécnicos e para as universidades e dizer “resolvam-se”, como se fosse um irresponsável. Cabe ao ministério garantir uma rede de testagem, um plano de vacinação e uma articulação em rede que não é o “salve-se quem puder”. Está muito bem que se preocupe com o Espaço, mas não foi escolhido para diretor da Agência Espacial Portuguesa. Foi empossado para tomar responsabilidade de coordenar a ação num setor.
Nessa responsabilidade cabe também garantir que se cumpra a legislação no caso do prolongamento dos prazos de entregas de teses e no prolongamento das bolsas (os confinamentos não poupam só dinheiro, antes trazem vários custos que não podem ser suportados só pelos mesmos).
Não podemos continuar com tibiezas quando é o futuro da provisão de Conhecimento que está em causa. É preciso ação e a defesa de um setor.