Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 são um marco na história do desporto. Pela primeira vez, temos paridade de género, com igual número de homens e mulheres a competir. Comparando com os Jogos de Paris em 1900, onde pela primeira vez mulheres puderam participar, representando 2,2% dos atletas em competição, percebemos o quão longe chegamos. Esta conquista pode ser mais do que uma questão de números, e representa um motor para a transição social, contribuindo para alterar a forma como se encara o papel das mulheres no desporto e na sociedade.

A Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Género e o Empoderamento das Mulheres  (ONU Mulheres) identifica o desporto como uma ferramenta poderosa para empoderar mulheres e crianças. Estudos indicam que a prática desportiva fomenta o desenvolvimento de competências como: liderança, trabalho em equipa, autoestima e resiliência. Além disso, as jovens que praticam desporto tendem a permanecer mais tempo na escola, adiar a gravidez e conseguir melhores empregos. O impacto positivo vai além do campo, do tatami, ou da piscina, pode estender-se para a vida das atletas.

Os benefícios não param por aí. A paridade de género também fortalece economias e sociedades. Segundo o Relatório Global sobre as Disparidades de Género 2024 do Fórum Económico Mundial, eliminar disparidades de género promove mais crescimento, inovação e resiliência. Tendo em conta o ritmo atual, serão necessários 134 anos para alcançar a igualdade de representação entre homens e mulheres. Mas o desporto está a mostrar que podemos acelerar este processo.

A representatividade nos Jogos Olímpicos de 2024 vai além da competição, pode ajudar a moldar normas sociais e desafiar estereótipos. A cobertura desportiva desempenha um papel vital ao destacar essas histórias, promovendo novos modelos positivos e espaço para pessoas de grupos pouco representados. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer. A sub-representação das mulheres no desporto é ainda evidente: apenas 14% do conteúdo dos meios de comunicação desportivos é dedicado a mulheres; nenhuma atleta integra a lista de 50 atletas mais bem pagos em 2024; a presença de treinadoras mulheres é manifestamente baixa, apenas 1 em cada 10 treinadores nos Jogos Olímpicos são mulheres.

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A representatividade tem um impacto profundo no desenvolvimento da identidade e da autoestima das crianças. Estudos mostram que crianças que veem figuras semelhantes a si em papéis positivos, tendem a desenvolver uma autoimagem mais forte e saudável. Passam a acreditar que também podem alcançar sucesso. O desporto tem uma oportunidade única de mudar o discurso, questionar estereótipos negativos e promover a representatividade de outras pessoas. Pode gerar novos ídolos fortes e positivos, garantindo uma representação justa dos desportistas, independentemente do género, raça, etnia, religião, orientação sexual ou estatuto socioeconómico.

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 podem ser um trampolim na direção da igualdade de género. Mostram que, quando o desporto muda, podemos mudar todos (e todas). Garantir o equilíbrio de género na representação desportiva não é apenas um passo em direção à justiça, é uma celebração da diversidade e uma inspiração para as gerações futuras. Ao promover igualdade, respeito pela diversidade e inclusão, o desporto pode, em última análise, moldar uma cultura que reflete esses valores dentro e fora de seu contexto.

Uma jovem que hoje assiste aos Jogos de Paris, vê o que é possível. Vê exemplos a seguir, vê oportunidades e, acima de tudo, vê que pode pertencer. Esta parece-me ser a essência da representatividade: inspirar, empoderar e transformar vidas. E enquanto a jovem observa as atletas a competir com determinação e garra, sabe que o futuro também pode ser dela.

O Observador associa-se aos Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa