Depois de Pedro Santana Lopes, José Sócrates, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, temos agora Pedro Nuno Santos (PNS) a ser escolhido pela comunicação social para governar o País. Num país em que os deputados já são escolhidos pelos directórios partidários e não pelos eleitores, será normal a coincidência de que os mais altos cargos políticos do País resultem de opções da comunicação social? Penso que não, nomeadamente porque os escolhidos são frequentemente levados ao colo e não expostos a verdadeiro contraditório. No caso de PNS e a julgar pelos dois programas que já vimos, isso é por demais evidente, dado o modelo escolhido de perguntas mais ou menos amigáveis.

Claro que me baseio em apenas dois programas e, assim sendo, tomo a liberdade de sugerir algumas perguntas que julgo úteis no sentido de ser possível julgar o verdadeiro posicionamento político do entrevistado, ainda que apenas quanto aos temas propostos. Até por serem questões que PNS nunca esclareceu publicamente como ministro. Por exemplo:

  1. Dado o senhor como ministro ter defendido a manutenção da bitola ibérica na ferrovia portuguesa, no sentido de evitar a concorrência internacional, considera realista que Portugal possa seguir uma política protecionista no contexto da União Europeia onde impera o mercado livre e uma economia de concorrência? E seria essa política generalizável a outros sectores? Ou não considera que essa política de defesa da CP e da Medway compromete a competitividade do conjunto das exportações portuguesas?
  2. Ainda sobre o mesmo tema, acha normal que Portugal não adopte a bitola UIC (europeia) porque os espanhóis não ligam a sua ferrovia a Portugal? Ou qual a razão por que nunca tratou do assunto em Bruxelas?
  3. É conhecida a sua defesa de uma aliança à esquerda e sendo o PCP e o Bloco de Esquerda adversários da participação portuguesa na União Europeia e na NATO, qual a sua posição relativamente a estas duas organizações? E se positiva, como esperaria poder conciliar essa divergência numa potencial futura geringonça?
  4. Tendo a escolha da CEO da TAP sido feita sob a sua orientação num processo de selecção internacional, como comenta ela ter sido demitida por dois ministros, nomeadamente num certo ambiente de espectáculo público de uma conferência de Imprensa? Ou como pensa possa vir a ser o resultado da decisão judicial?
  5. Ainda sobre a TAP, como encararia a venda da TAP, total ou parcialmente, a uma empresa norte americana, dado essas empresas não serem potenciais concorrentes do hub em Lisboa, que assim ficaria mais bem defendido?  Ou considera que não é possível defender o hub?
  6. Como encara a possível participação do PCP e do Bloco de Esquerda num futuro governo dirigido pelo PS?
  7. Qual a sua posição relativamente à reforma do sistema eleitoral no sentido de a aceitação dos círculos uninominais de forma aos eleitores poderem escolher os seus deputados? Ou a escolha dos dirigentes partidários através de primárias?
  8. Dado já terem passado alguns anos e agora com mais experiência, ainda sustentaria que os investidores alemães tremeriam no caso de Portugal não pagar as suas dívidas?

Estou sinceramente convencido que estas seriam algumas das perguntas que os portugueses fariam, se pudessem, ao entrevistado Pedro Nuno Santos, no sentido de poderem verificar a sua preparação para o cargo de primeiro-ministro. Todavia, com as perguntas higienizadas do costume é apenas tempo de antena.

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