Portugal é um país inteiro, com o seu território praticamente intacto ao longo de oito séculos, pelo que não se entende a frase escolhida por Pedro Nuno Santos para a sua campanha eleitoral. A menos que a grande família socialista, habituada a dominar meio Portugal através dos empregos no Estado, como nas empresas públicas e em algumas privadas, pretenda agora mais: “Portugal Inteiro”. De facto, a amizade de António Costa com muitas empresas privadas das telecomunicações tem permitido a obscena fidelização, o aumento imoral dos preços e, principalmente, a ausência de concorrência com o resultado do mau serviço prestado aos clientes, famílias e empresas. A mesma amizade com o sector da energia teve recentemente o seu ponto alto com o perdão à EDP do pagamento dos impostos pela venda das barragens a estrangeiros, isso sim o corte de uma parte do território nacional. Ou nos transportes com os seus habituais défices pagos pelo Estado e onde a organização dos serviços mostra à saciedade a impreparação dos dirigentes escolhidos e a falta de respeito pelos clientes, com greves permanentes e o prejuízo da economia. Ou o plano ferroviário destinado a proteger da concorrência internacional a recém-chegada Medway ou a velha CP.

Pedro Nuno Santos, depois da bagunça da gestão da TAP, de um plano ferroviário que representa uma traição à economia portuguesa a favor dos espanhóis que, segundo ele, não nos deixam ligar a ferrovia nacional à Europa em bitola UIC, parece agora pretender o domínio de “Portugal Inteiro”. Será porventura um excesso de ambição de um reconhecido voluntarista da política portuguesa, que se dispõe a decidir na hora os mais complexos problemas e, tal como o outro do nosso passado, também nunca tem dúvidas. Infelizmente, ainda não deixou a cultura da juventude socialista e não abunda a sua preparação para a tarefa de governar. Desde logo, a baralhação das ideias, a mesma ausência de estratégia que nos tem desgovernado ao longo dos últimos oito anos e o facto de ainda acreditar nas manhãs que cantam, através da adopção mal disfarçada dos objetivos do Bloco de Esquerda em direcção ao conceito caseiro do nacionalismo económico e o medo da concorrência internacional, como defendido na ferrovia. Uma nova Albânia na Europa seria, se os portugueses o permitissem, o resultado político deste decisor na hora de todos os problemas nacionais.

Ainda que olhe com alguma simpatia os esforços de alguns socialistas, como Francisco Assis e Álvaro Beleza, na sua tentativa de manter o PS nos limites da racionalidade social-democrata de Mário Soares, estou certo de que viverão uma dolorosa desilusão. De facto, o Partido Socialista, depois de Mário Soares e da sua visão e coerência estratégica, perdeu todo o sentido de direcção, perda acentuada pelo facto ter deixado de saber escolher os melhores socialistas para dirigir o País. A partir daí passámos a ter socialistas como José Sócrates, Armando Vara, Manuel Pinho, Eduardo Cabrita, Vitor Escária e João Galamba entre muitos outros, acabando agora com António Costa a ser forçado a substituir mais de quinze dos seus escolhidos por incompetência e má figura. Deixo a corrupção para outra oportunidade.

Ainda sobre esta importante questão de saber escolher as pessoas como condição do bom governo, recordo que há muitos anos, quando li nos jornais a nomeação de Salgado Zenha para ministro das Finanças, um advogado, ter ficado um pouco assustado apesar de sempre ter sido apoiante desse português ilustre, mas só fiquei preocupado até ter conhecido os nomes dos secretários de Estado, penso que Artur Santos Silva e Victor Constâncio. No caso de António Costa, outro advogado, nunca acreditei que pudesse ser mais do que um gestor do dia a dia, mas foi porventura a sua muito estranha escolha das pessoas que o acompanhariam, que deitou por terra quaisquer veleidades de desenvolvimento e de progresso do País nos últimos oito anos e o tornou o pior primeiro-ministro do período democrático depois do 25 de Abril.

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Nunca fui apoiante do professor Cavaco Silva, mas sou forçado a reconhecer que foi, com os dados conhecidos, o período de maior desenvolvimento económico dos últimos cinquenta anos. Estou certo de que em grande parte isso se ficou a dever a vários dos ministros desse período, como Luís Mira Amaral e a sua excelente equipa, Miguel Cadilhe, Eduardo Catroga, Laborinho Lúcio e alguns outros de que já não recordo o nome. Claro que também teve uma boa dose de arrivistas e corruptos, o que implicou alguns erros bem conhecidos.

Durante o período seguinte de António Guterres, este decidiu apoiar-se na juventude e com péssimos resultados, apesar da grande qualidade do ministério das Finanças sob a direcção de Sousa Franco. Foi a partir daí que se iniciou a decadência humana na governação do País, mau grado alguma ingenuidade e boas intenções através de inegáveis preocupações sociais. Todavia o pântano socialista não mais deixou de crescer até aos nossos dias.

Estas são algumas considerações úteis para decidir o voto em Março próximo. Porque acreditar que será através do imaturo Pedro Nuno Santos que se iniciará a necessária e por mim desejada regeneração do Partido Socialista, para mais com a carga dos restantes imaturos que o acompanham, é entregar à Senhora de Fátima os destinos de Portugal.

09-02-2024