Embora a Terra seja um refúgio que nos proporciona recursos essenciais e as condições necessárias para a nossa sobrevivência, a realidade expõe uma profunda desigualdade na qualidade de vida, em diferentes partes do mundo. Enquanto algumas áreas desfrutam de tecnologia avançada, serviços de saúde de excelência, educação de qualidade e uma abundância de alimentos, milhões de pessoas ainda lutam diariamente contra a pobreza extrema, a escassez de água potável, a fome e as doenças.

Se, atualmente, com uma população mundial de cerca de 8,16 mil milhões, a humanidade já enfrenta diversas crises — climática, biodiversidade, recursos naturais, alimentar, hídrica, poluição, desigualdade social, pobreza e migrações —, a previsão de que poderemos chegar a aproximadamente 9,41 mil milhões, em 2050, segundo estimativas das Nações Unidas, irá certamente agravar este quadro. A questão que se coloca é: conseguiremos nós como sociedade, em 25 anos, garantir uma qualidade de vida digna para mais 1,25 mil milhões de habitantes, especialmente considerando que a maior parte desse crescimento ocorrerá em países menos desenvolvidos?

A pressão populacional crescente, somada à exploração intensa dos recursos, já está a levar a Terra aos seus limites. A procura insaciável por alimentos, água, energia e outros recursos naturais, impulsionada por modelos de produção insustentáveis e políticas económicas de curto prazo, está a devastar ecossistemas cruciais, como florestas e oceanos e a causar uma perda massiva de biodiversidade. Este colapso dos sistemas naturais, essenciais para regular o clima e produzir alimentos, não só intensificará a crise alimentar, como também colocará em risco a segurança global. As regiões mais ricas, as quais têm os meios para transitar para práticas sustentáveis, continuam a consumir desproporcionalmente, enquanto os países em desenvolvimento, que já enfrentam dificuldades económicas e sociais, são os mais afetados pelas consequências ambientais, económicas e sociais dessa exploração. A falta de justiça global é evidente: quem menos contribuiu para a crise, seja ela climática, alimentar ou de recursos é quem mais sofre os seus impactos e tem menos capacidade de se adaptar.

A expansão economicista associada ao extrativismo intensivo e contínuo está no cerne de muitos dos problemas, que enfrentamos hoje. A lógica de um crescimento ilimitado num planeta com recursos finitos não é viável… Apesar de reconhecerem a importância da sustentabilidade, muitos governos ainda priorizam interesses imediatos em detrimento de uma gestão eficiente dos recursos, pelo que, as respostas, até agora, têm sido fragmentadas e insuficientes. Há uma clara ausência de um plano coordenado e global para enfrentar os desafios demográficos, ambientais, sociais e económicos. Se nos centrarmos naqueles que serão considerados os dois bens mais essenciais para a humanidade – água potável e alimentos – verificamos que as ações de quem tem o poder de decidir deixam muito a desejar. Cerca de 785 milhões de pessoas sofrem de escassez de água. Mais de 850 milhões de pessoas passam fome, entre as quais, milhões de crianças correm o risco de morrer devido à subnutrição grave. Se não somos capazes de fornecer comida e água de forma adequada aos cerca de 8 mil milhões de pessoas em todo o mundo, como seremos capazes de sustentar aqueles que estão a nascer agora e os que irão nascer no futuro?

O grande desafio que enfrentamos vai muito além do económico — é técnico, social e, sobretudo, ético. Estamos num ponto crítico, em que o modo como decidirmos agir nos próximos anos determinará o tipo de planeta que as futuras gerações herdarão. Será um legado de cooperação global e inovação sustentável, ou uma catástrofe de escassez, migrações forçadas e conflitos por recursos? A desejável resposta a esta pergunta exige uma mudança profunda no paradigma que tem sustentado o desenvolvimento económico mundial. O atual modelo, que prioriza o crescimento a qualquer custo, precisa ser repensado de forma a integrar práticas que respeitem os limites do planeta. É urgente que se desenvolvam políticas globais coordenadas, que promovam não apenas um equilíbrio entre o crescimento humano e a preservação do meio ambiente, mas também a redução das desigualdades. Precisamos de uma abordagem que integre justiça social e ambiental, permitindo que as futuras gerações herdem um planeta onde possam prosperar. A grande questão é se ainda iremos a tempo de reverter o caminho que estamos a seguir.

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