«Devemos o termo “Novilíngua” ao arrepiante retrato de George Orwell de um Estado totalitário ficcionado. Mas o aprisionamento da linguagem pela esquerda é bem mais antigo. Começou com a Revolução Francesa e os seus slogans. O que mais fascinou Orwell foi a Internacional Socialista e o ansioso envolvimento da intelectualidade russa. (…) Desde o início que o movimento comunista tem lutado pela linguagem, apreciando as teorias marxistas porque, em parte, estas ofereciam rótulos para moldar as ideias de amigo e inimigo e dramatizar os conflitos entre ambos. Os rótulos eram necessários para estigmatizar os inimigos internos e justificar a sua expulsão: os revisionistas, esquerdistas infantis, socialistas utópicos, sociais-fascistas e por aí em diante. O sucesso de tais rótulos a marginalizar e a condenar os opositores fortaleceu a convicção comunista de que podíamos mudar a realidade se mudássemos as palavras».
Tolos, Impostores e Incendiários, Pensadores da Nova esquerda,
de Roger Scruton, Quetzal Editores

A linguagem manipula a maneira de pensar, logo a sua alteração modifica também os comportamentos.

«As pessoas que se descrevem como sendo de esquerda acreditam que as opiniões e os movimentos políticos podem ser organizados em esquerda e direita e que, se não formos de esquerda, então somos de direita. Ao mesmo tempo, através de uma inesgotável campanha de intimidação, os pensadores de esquerda têm tentado tornar inaceitável ser-se de direita. Uma vez identificados como de direita, os nossos argumentos são inaceitáveis, o caracter desacreditado, a nossa presença no mundo é um erro. Não somos adversários com quem discutir, mas uma doença a ser erradicada». (Ibid.)

A Novilíngua ocorre sempre que o propósito primordial da linguagem – descrever a realidade – é substituído pelo propósito rival que é o de exercer poder sobre a realidade. Os muitos pensadores de esquerda, como Lacan, Deleuze e Althusser, dedicaram o seu trabalho à desconstrução do que era considerado legalidade, autoridade, legitimação do poder, luta e dominação. Como salienta e reforça Michele Foucault, no seu livro Vigiar e Punir, por detrás da linguagem estão as estruturas secretas do poder. “ Um déspota estúpido pode subjugar os seus escravos com correntes de ferro; mas um verdadeiro político prende-os ainda mais com as correntes das suas ideias (…). O elo é tanto mais forte quanto não soubermos do que é feito”.

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De acordo com o dicionário, Novilíngua é uma língua  ou discurso voluntariamente ambíguos ou eufemísticos, usados para enganar ou manipular,geralmente usado em contexto político ou para fins propagandísticos.

Na ditadura do pensamento o diálogo não é possível, a verdade e o óbvio foram expulsos, só existe a propaganda para os espíritos que se vão familiarizando com a imposição repetitiva do “politicamente correcto”. A Verdade foi retirada, só há opiniões e todas valem o mesmo. Desvinculação total, já não somos livres na verdade, mas livres da verdade.

Analisando a conjuntura internacional, a queda do Muro de Berlim, em 1989, deu início a uma nova era de tendência globalizante no domínio da cultura, da educação com novos contornos éticos. A ONU – Organização das Nações Unidas – posicionou-se como a única instituição capaz de implementar a globalização humana a longo prazo.

Desde 1990 que a ONU organiza uma série de conferências internacionais, cobrindo todos os aspectos da vida em sociedade. O seu objectivo é construir uma nova visão do mundo, uma nova ordem global, um novo consenso sobre normas, valores e prioridades para a comunidade internacional do século XXI.

Num pós revolução cultural que tinha desconstruído os valores tradicionais ocidentais, apressaram-se a reconstruir uma nova ética global, sem Deus, sem Pátria e sem Família. Tudo envolvido num hipotético “consenso”, num misto holístico de neutralidade, de liberdade e de muito laicismo.

Mudando os paradigmas urgia mudar também a sua linguagem. Marguerite Peeters, em A Globalização da Revolução Cultural Ocidental, dá alguns exemplos que nos podem ajudar a compreender melhor os conceitos destruídos que devem estar ausentes nesta estratégia: Verdade, amor, caridade, marido, mulher, esposo, esposa, pais, pai, mãe, filho, filha, família, pudor, castidade, razão, inteligência, decência, esperança, fé, pecado, bem, mal, etc, etc. O filósofo Jacques Derrida chegou a sugerir a alteração do Código Civil francês para que fosse eliminada a palavra casamento, a fim de resolver o estatuto jurídico dos pares homossexuais.

Assim, paulatinamente, fomos assistindo a uma vertiginosa transformação da linguagem, através da difusão instantânea e planetária dos meios de comunicação.

A ética global coloca-se acima de tudo: da soberania nacional, da autoridade de pais e professores e dos ensinamentos das grandes religiões do mundo. O seu grande objectivo é desconstruir deliberadamente o pensamento, a consciência, a humanidade e a realidade. Este esvaziar antropológico, conduz à emergência do poder dos engenheiros sociais, que passam a controlar e manipular todos os indivíduos.

Depois de um mundo virado ao contrário, em que os homens tiram licença de maternidade, a religião é substituída por espiritualidade, a família tradicional por novas formas de família, os esposos por parceiros, os pais por progenitores, pouco parece restar da civilização ocidental. Nietzsche matou Deus e o homem, à deriva, foi abalroado por esta onda de destruição implementada pela governança global, através da novilíngua.

Mas será assim tão apocalíptico o cenário? Os anti filósofos, protagonistas deste excesso laicista utópico, originaram também uma reação positiva na humanidade, ao regresso a uma sociedade menos egoísta, mais solidária, e consciente de que o seu sentido de vida não é horizontal, mas vertical, não é imanente, mas transcendente, num chamamento e sentimento divino para ser mais e melhor. O Homem sabe-se criado e amado, reconhece que não é um meio, mas um fim, não é um “que”, mas um “quem”, recusa ser uma marionete nas mãos dos globais poderes invisíveis, mas um ser livre nas mãos de Deus.