Iniciámos a contagem decrescente para as celebrações dos 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974. Uma data histórica de libertação da tirania e de afirmação da vontade coletiva dos Portugueses em prosseguirem a construção de uma sociedade assente nos valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Valores maçónicos, firmados de forma categórica aquando da revolução francesa de 1789.
Lamentavelmente, no entanto, decorrido quase meio século sobre esse momento profundamente transformador, a Maçonaria Regular permanece à margem do protocolo do Estado, não é incluída nas celebrações oficiais da República e, por vezes, é antes pelo contrário tratada de forma ostensivamente discriminatória. Mesmo em democracia. Mesmo depois de ter combatido essa mesma discriminação durante a ditadura.
Recentemente, a convite da Grande Loja Regular de Portugal para uma conferência, esteve no nosso país um membro da Grande Loja Nacional Francesa, e especialista nas ‘Constituições de Anderson’, documentos datados de há 300 anos e que são considerados fundadores da maçonaria inglesa e, portanto, da maçonaria moderna. Como então foi referido, a Maçonaria Regular está atualmente preocupada com “O evitar dos exageros esotéricos e alquímicos, tanto quanto os desvios deístas, ateístas e materialistas”. Para os maçons regulares, recorde-se, é mandatória a crença num ser superior, “Grande Arquiteto Do Universo” que supremamente nos ilumina neste caminho marcado pela contínua busca da perfeição e da verdade, orientado pelo Bem e pelo equilíbrio da relação connosco mesmos, e entre nós e os outros.
Desde 1723 – para não irmos mais atrás e nos ficarmos pela data das ‘Constituições de Anderson’ – a incompreensão para com os maçons regulares foi profundamente sentida onde existiu tirania e ditadura; sempre que o pensamento único se quis impor, aí foram os maçons proibidos de se reunir. Foi assim com Hitler e com Estaline, com Mussolini e Franco e com Salazar, para citar apenas alguns dos mais recentes opressores da liberdade de reunião e de expressão.
Na Assembleia da República, por iniciativa de partidos democráticos, foram na legislatura anterior obrigados regimentalmente os deputados a declarar a sua condição de pertença à Maçonaria. Com a oposição do Partido Socialista, é certo. Mas sem que esse mesmo partido, agora em maioria absoluta, viesse repor a salvaguarda do direito da liberdade dos indivíduos e o respeito pela privacidade das opções filosóficas e espirituais e crenças de cada um, direitos que – como dissemos na altura – ficaram postos em causa no lugar que entre todos seria o mais insuspeito para esta decisão; a Assembleia da República, a casa por excelência da nossa democracia.
Os maçons regulares não pretendem tratamentos de favor ou de exceção. Pretendemos apenas ver reconhecido um papel historicamente comprovado ao lado da liberdade e da democracia, e interventivo no apoio solidário a inúmeras causas da sociedade civil, em Portugal como além-fronteiras, com destaque para os países de língua oficial portuguesa. Queremos tão somente que exista um tratamento, por parte do Estado, similar ao que existe em países como os EUA e Inglaterra, França e Alemanha ou Suécia.
Nesse sentido, irá a Maçonaria Regular iniciar diligências no sentido de um diálogo empenhado e aberto com as entidades competentes, no sentido de podermos vir a contar com a inclusão oficial da Maçonaria Regular nas celebrações dos 50 anos de Abril, ao lado de tantas outras organizações e instituições, religiosas ou laicas. Essa é uma missão a que nos propomos, contribuindo assim para ultrapassar estes 300 anos de incompreensão.