Todo o sistema de transportes está intimamente relacionado com a questão energética. Se quisermos tornar os transportes mais sustentáveis, as fontes de energia que os alimentam têm de ser alteradas. Em alguns casos estas alterações há muito que aconteceram, basta verificar que comboios tínhamos na primeira metade do século XX e os que temos hoje.
Apesar de na segunda metade do século XX os comboios passarem a ser movidos a eletricidade, isso não foi suficiente para alterar o paradigma. Não existe um ganho ambiental substancial, se estivermos a locomover comboios com eletricidade proveniente de fontes fósseis. Aplicando-se o mesmo princípio aos automóveis.
Perante esta realidade, é de sobremaneira importante fazer a progressiva, mas total, descarbonização do sector electroprodutor. Para tal, precisamos de mais barragens, preferencialmente com ciclo reversível, e de substituir as velhas centrais térmicas convencionais (carvão e gás), por centrais nucleares de última geração. Por muito que a sociedade seja contra a energia nuclear, não é possível carregar o carro elétrico ou tomar um banho quente com ideologia.
Nos últimos anos, a humanidade lançou-se numa corrida em busca da tecnologia mais adequada à transição ambiental do sistema de transportes. Com base nesta vontade de mudar, soluções como as baterias de lítio e o hidrogénio verde têm-se apresentado como possíveis alternativas aos derivados do petróleo. O problema é que até agora todas as alternativas para uma descarbonização total demonstraram ser inferiores ao petróleo, no que diz respeito à sua viabilidade económica e de utilização.
Há uns anos a esta parte, vários governos, da Europa e não só, decretaram a “Emergência Climática”. Claro que ninguém sabe o que significa esta expressão, nem mesmo os seus promotores. Se não vejamos. Quando estamos perante uma emergência a nossa reação é agir de forma célere, se não houver necessidade de agir desta forma, é porque não é uma emergência. Em Portugal até se fez uma lei de bases do clima.
Por toda a União Europeia, circulam diariamente milhares de camiões, muitos deles fazendo transporte de longa distância. Perante emergência climática, o que está a ser feito de imediato para atender a essa emergência? A resposta é nada. Continuamos à espera de um milagre tecnológico ou de capacidade de investimento para descarbonizar o sector dos transportes.
Qualquer pessoa bem informada, sabe que não é preciso inventar coisa nenhuma para tirar esses camiões das estradas europeias. A rede ferroviária já existe e há muitos anos que é possível alimentar um comboio com energias renováveis. Se fosse constituído um sistema logístico europeu com base na ferrovia para o transporte de mercadorias, em poucos anos seria possível reduzir as emissões em muitos milhões de toneladas de CO2.
Uma empresa do concelho de Armamar, assessorada por um despachante sul-coreano, consegue exportar maçãs para mercados tão distantes como a Arábia Saudita. Se é possível fazer isto com bens perecíveis no transporte marítimo, o que nos impede de fazer o mesmo no transporte ferroviário?
Para calar os ativistas do clima, a União Europeia anda entretida a decretar emergências climáticas e a proibição da venda de carros de combustão depois de 2035. Enquanto isso a ditadura chinesa tenta implementar o projeto ferroviário da Nova Rota da Seda, para substituir o lento e poluente transporte marítimo.
É preciso reconhecer o trabalho que tem sido feito na União Europeia na implementação das energias renováveis, mas isso não é suficiente. Enquanto os chineses tentam implantar um sistema ferroviário transcontinental, a União Europeia não consegue fazer o mesmo dentro de portas.
Não precisamos de descarbonizar todo o sistema de transportes, podemos continuar a fazer emissões de CO2, só não o podemos a fazer ao nível atual. É perfeitamente aceitável que um camião diesel saia de Armamar com um contentor de maçãs, percorra 20 Km até à estação ferroviária do Peso da Régua. Esse contentor passaria por vários centros logísticos ferroviários até chegar (por exemplo) a Berlim. Aí um outro camião diesel faria mais 20 Km até ao destino final. Dos 2575 km que separam Armamar de Berlin, 40 km seriam feitos com recurso ao diesel e os outros 2535 Km com recuso a eletricidade isenta de emissões de CO2. A uma média de 25l por cada 100km, teríamos reduzido o consumo de diesel em 633l. Contas feitas às emissões de CO2, desde a produção, transporte até ao consumo do diesel, teríamos evitado emitir para a atmosfera cerca de 2 tons de CO2.
Nos que diz respeito aos automóveis também não é preciso inventar nada. A maioria das pessoas usa o automóvel para fazer pequenas deslocações diárias. Se todos os carros da União Europeia fossem híbridos plug-in com uma autonomia de 60Km, poderíamos reduzir as emissões de forma drástica. Esta é uma solução que já existe e que pode ser aplicada de imediato. No híbrido plug-in que uso diariamente, consigo uma redução de emissões na casa dos 80%. Para que isto fosse uma verdade absoluta, as pessoas teriam de carregar a bateria do carro na rede elétrica e não com recurso ao motor de combustão.
Um dos fatores que limita a expansão dos carros elétricos é o facto de a rede de distribuição de eletricidade não estar preparada para carregar todos os carros à hora a que a maioria das pessoas chega a casa. Como os carros híbridos têm uma autonomia mais reduzida que os elétricos, também consomem menos quando estão a carregar. Se compararmos um carro elétrico com 600km de autonomia, com um híbrido plug-in com uma autonomia de 60Km, grosso modo, este último, exigiria menos 90% da rede elétrica. Tornando a carga de veículos híbridos viável no imediato. Para além das limitações da rede elétrica, um híbrido plug-in consumiria menos 90% de lítio, o que limitava o impacto ambiental da sua mineração e a necessidade de afetar recursos financeiros à construção de refinarias e fábricas de baterias.
2035 é já daqui a 12 anos, até lá será necessário gastar muito dinheiro na ampliação da rede elétrica, construção de novas centrais de energia renovável e de centrais nucleares, minas e refinarias de lítio, fábricas e gasodutos para o hidrogénio, etc. Isto tudo tem de ser feito num cenário de incerteza económica e de ameaças à segurança global. Por sorte os responsáveis políticos que estabeleceram estas metas em 2020, já não estarão em funções governativas em 2035. Por isso não terão de dar a cara pelo seu falhanço.
Pensem como seriam as emissões de CO2 se o sector electroprodutor estivesse totalmente descarbonizado, se retirássemos das estradas todos os transportes rodoviários de longo curso e se o sector automóvel conseguisse uma redução de emissões de 60%. Todo isto é possível com tecnologia que já existe.
Se estamos perante uma emergência climática deixem-se de conversa fiada e façam já alguma coisa. Ou será que é só propaganda?