Celebra-se a 4 de Setembro, e pela segunda vez, o Dia Nacional do Psicólogo, consagrado pela Assembleia da República na Resolução nº 147/2018.

Os comportamentos individuais e as relações são fundamentais e determinam a vida em comunidade, mas para atuar sobre a sociedade são também fundamentais mudanças sistémicas. Se um indivíduo zangado agride verbalmente um outro indivíduo na rua, podemos estar a falar de uma relação abusiva. Até certo ponto, podemos dizer que o individuo ofendido poderá possuir ou desenvolver as competências sociais e emocionais para lidar interna e comportamentalmente com esta situação. Mas, quando falamos em comunidades e sistemas sociais, o abuso, a iniquidade social ou a opressão experienciados por comunidades de pessoas, o princípio da aprendizagem ou competência socioemocional individual não se aplica da mesma forma no sistema. São agora vários indivíduos e múltiplas formas de experienciar, em interseção, por exemplo a iniquidade.

Falamos então de mudanças de comportamentos individuais e de mudanças sociais e de como umas impactam nas outras. A Psicologia e os psicólogos são cada vez mais necessários, em todos os ciclos da vida humana, nos mais diversos contextos da vida dos indivíduos e das comunidades, usando e cruzando todo o seu conhecimento científico, intervindo para ajudar a lidar com o impacto das mudanças pessoais, sociais, ecológicas, culturais, políticas e económicas na saúde física e mental, promovendo competências, prevenindo ou recuperando, e simultaneamente contribuindo para outras mudanças sociais, capazes de gerar menos adversidades, menos iniquidades e mais inclusão. Psicólogos de todas as áreas atuam assim no stress ou sofrimento psicológico de crianças, jovens, adultos e idosos (e/ou na sua prevenção), e de outro lado dão contributos valiosos no desenho e implementação de programas e políticas baseados em evidência, que impactam em vidas humanas.

Psicólogos que intervêm em idades precoces e na infância, antecipando e investindo nos períodos de desenvolvimento especialmente propícios, podem ajudar a conquistar décadas de saúde, bem-estar e qualidade de vida, oportunidades riquíssimas de desenvolvimento de competências com impacto ao longo da vida, prevenindo vulnerabilidades individuais e sociais, aumentando a resiliência, a saúde, a produtividade individual e coletiva e antecipando um envelhecimento mais saudável e ativo. Os estudos sobre a plasticidade cerebral na adolescência indicam que as oportunidades de investimento neste período são igualmente críticas para os jovens. E sabemos como os psicólogos podem contribuir para facilitar o acesso a uma educação diferenciada e de qualidade, enriquecendo os ambientes educativos com o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, promovendo relações de envolvimento e compromisso com as famílias, e de maior participação dos jovens na comunidade, assegurando um contributo significativo dos jovens de hoje e homens de amanhã, governantes de uma família própria ou do nosso país, em ordem a uma sociedade humanamente mais sustentável. O seu contrário também é válido, e o desinvestimento na intervenção psicológica (per se ou em ecossistema com outras ciências e profissões) carrega incomensuráveis consequências a longo-prazo para a saúde mental, bem-estar e ajustamento social, bem como para o aumento da probabilidade de danos colaterais como as incapacidades, pobreza, desemprego, violência, consumos, delinquência ou outros problemas de saúde pública.

Mais tarde, na idade adulta, são também os mais fiáveis e comprometidos com o seu trabalho, os que trabalham em equipa e de forma produtiva, os que se preocupam com os seus colegas e com o seu trabalho, os que demostram solidariedade, os que mais preenchem o perfil dos novos recrutadores. Sabe-se hoje que a par da racionalidade, as emoções, a sua capacidade regulatória e um sentido de autoeficácia são componentes essenciais para tomadas de decisão eficazes, para a liderança, performance laboral, trabalho em equipa, resolução de conflitos e, de novo em ciclo, para a satisfação, o envolvimento e o compromisso com o trabalho. E também aqui, nas organizações, os progressos têm sido notados quando a Psicologia e os psicólogos intervêm para apoiar na adaptação do trabalhador a condições organizacionais desafiantes ou no desenvolvimento de locais de trabalho mais saudáveis, através de programas capazes de rentabilizar as competências dos seus trabalhadores, aumentar a coerência entre a vida familiar e profissional, a sua satisfação, bem-estar e produtividade.

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Todo o percurso será igualmente relevante para as opções que fizermos para nos mantermos saudáveis, salvaguardados nas nossas competências cognitivas quando atingimos idades mais avançadas. Já não bastam o aumento da esperança de vida e as condições de saúde física e de mobilidade que as novas tecnologias e os novos fármacos ajudam a combater. A intervenção dos psicólogos na prevenção ou reabilitação de doenças cognitivas é essencial, bem como o seu apoio na promoção de um envelhecimento ativo e saudável (por exemplo, do ponto de vista da vida social ou do trabalho ou atividades pós-reforma), mais preenchido de propósito e de contributos para a sociedade, pois um sentido de autoeficácia é promotor da longevidade.

Não restam dúvidas, portanto, e é conhecido (mas talvez não tão operacionalmente reconhecido por todos) que mais psicólogos são necessários. Nos serviços de educação, de saúde, de justiça, desporto, nos serviços sociais, nas autarquias, nas comunidades. Mais psicólogos para mais saúde mental (e física). Mais psicólogos para menos stress e menos sofrimento psicológico. Mais psicólogos para mais inclusão. Mais psicólogos para menos iniquidades. Mais psicólogos para mais justiça social. Mais psicólogos para mais criatividade e produtividade empresarial. Mais psicólogos para um envelhecimento mais digno e mais saudável. Mais psicólogos e serão as nossas crianças, os jovens, os adultos, os idosos, as empresas e associações, os órgãos governamentais, a sociedade e uma nação, os maiores beneficiários no presente e no futuro. Mais Psicologia e mais psicólogos são excelentes indicadores de mais Inclusão e de mais Progresso Humano. Bem Hajam!

Vice-Presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses