Vejo alastrar por aí uma nova idolatria dos ricos. Não se trata já da cupidez ou ambição excessiva das riquezas, aquele velho pecado abrangido pelo Décimo Mandamento, “Não cobiçarás a casa do teu próximo”, etc.
Não. Para além da cobiça, da eterna busca ávida dos bens materiais e do enriquecimento, existe hoje um fascínio lorpa pelas próprias pessoas dos ricos, como se fossem vacas sagradas.
Pouco importam os respectivos méritos ou defeitos. Nenhuma apreço pela educação, a cultura e o pedigree ou tradição de servir o bem-comum, por todos aqueles atributos que justificavam no fundo a existência de um escol social – uma classe de ‘Optimates’ que elevasse a consciência moral e o gosto geral da comunidade, constituindo uma referência colectiva e um estímulo civilizacional.
Ao invés, temos instalada a devoção pura e simples do rico. Pouco importa que a sua fortuna tenha tido origem em negócios fraudulentos ou na lavagem de capitais comprometedores; que ele seja notoriamente analfabeto ou relesmente manhoso; que tivesse roubado os seus próprios empregados, arruinado centenas de famílias e lesado o Estado e o seu próprio povo, afundando-o ainda mais na miséria; que com as suas vulgaridades luxuosas e pseudo-esplendorosas esteja de facto a desfigurar o país, actualmente sobretudo o património paisagístico da costa alentejana e o que ainda sobeja de Cascais.
Estamos por conseguinte num ponto em que os ricos são admirados só por serem ricos. Mais do que invejado ou odiado, como antes, o milionário hoje é mistificado e reverenciado como um ícone delicioso. Resultado provável do alargamento súbito de uma classe média emergente e bastante deslumbrada, que não possui ainda a educação nem o espírito crítico das antigas burguesias estabelecidas.
O Pato Bravo é portanto o ícone sagrado da religião monetarista do nosso tempo. Uma espécie de Mamon bíblico, mas de Resort.