Manuel Heitor, em entrevista publicada a 2 de Setembro no Diário de Notícias, lança a ideia da criação de três novas faculdades de Medicina, com um curriculum mais light para formar médicos de família. Ficamos sem perceber se ele não domina o ensino médico, o que é grave, ou se pensa em criar uma nova profissão intitulada “médico de família”.

O ensino médico em Portugal (e na Europa, ao contrário do que o ministro diz na entrevista) é composto por uma formação pré-graduada (da responsabilidade do seu ministério) que habilita os alunos com o grau de mestre em Medicina. Após a conclusão do curso – e no caso português de um ano de prática clínica, pois as faculdades existentes não conseguem dotar os alunos das competências necessárias para serem médicos autónomos – os médicos ingressam numa especialidade (Cirurgia, Medicina Interna, Saúde Pública, Medicina Geral e Familiar – que é uma especialidade como as outras), com duração entre quatro e seis anos, de acordo com a complexidade da mesma, para obterem o grau de especialista. Esta formação é “em serviço”, trabalhando como médicos nas respectivas especialidades, com graus de autonomia crescentes ao longo dos anos.

Portanto, a escolha da especialidade de um médico acontece após a conclusão do curso de Medicina. Quererá Manuel Heitor criar uma nova profissão – médico de família – num curso que habilite directamente a este título? Os regulamentos europeus definem bem quais são as competências necessárias para se formar um médico. E, para isso, é necessário um ou mais hospitais com as valências necessárias (que Vila Real, Évora e Aveiro não têm).

Se pensarmos na necessidade de competências para cada especialista, há duas especialidades que são muito abrangentes: Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna. São as especialidades que precisam saber muito sobre a sua área e um bocadinho de todas as outras. São especialidades que, para além das suas atribuições específicas, funcionam como organizadores de cuidados, guiando os doentes no sistema, tendo de ter a sensibilidade de perceber de que outras especialidades os doentes precisam. E para isso têm de ter contacto com elas todas durante a sua formação…

Das duas uma: ou Manuel Heitor demonstra que não percebe nada de educação médica, ou quer ensaiar a criação de uma nova profissão.

Se criar uma nova profissão, “mata dois coelhos de uma só cajadada”. Cria médicos de família em grande número, com a limitação destes não poderem emigrar porque os seus cursos não são reconhecíveis em nenhum país europeu. E fica resolvida a incapacidade do SNS captar os seus recursos.

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