Ouvir o Ministro da Educação é um desfio à nossa inteligência e uma provocação à paciência. É impossível não sentir um misto de indignação e de revolta.

Indignação porque veio confirmar as piores suspeitas, as escolas não fecharam a tempo porque o Ministro não queria colocar à evidência a sua incompetência. Afinal, nada tinha sido feito para preparar as aulas à distância. Os 400.000 computadores cuja aquisição foi anunciada, com toda a pompa e circunstância pela voz do Primeiro-ministro, para serem distribuídos às crianças, nunca chegaram, ficaram presos na incompetência, na ligeireza e na irresponsabilidade de um Ministro.

Revolta porque para proteger um Ministro sacrificou-se um confinamento eficaz, sacrifício pago com maior número de infectados, colapso dos serviço de saúde e, consequente, muitas mortes.

Quando esperamos um ensino que descubra o melhor de cada um, defrontamo-nos com um Ministro que captura o mérito e a excelência.

Vê o mundo à sua dimensão, pequeno, muito pequenino.

Mentalidade tacanha, não percebe que hoje somos cidadãos do mundo, os outros vão continuar a estudar, à distância ou presencialmente vão aprender, vão evoluir, vão crescer. Os outros são os Espanhóis, os Franceses, Alemães ou Chineses, todos que não tenham um Ministro ao serviço da mediocridade.

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Não perceber que pertencemos a um mundo global, onde as qualificações de cada um são a arma mais eficaz para combater desequilíbrios e desigualdades, é não perceber nada de função que, infelizmente, está a desempenhar.

A desigualdade começa na incompetência de quem nos governa, quem compensa os danos que um ministro, refém da inveja, provoca numa geração?

É de inveja que estamos a falar, é de inveja que o Ministro sofre. Por mais que apregoe, equivocamente, a igualdade, os conceitos mantêm-se muito distintos. O princípio da igualdade exige que se aproxime quem tem menos de quem tem mais. A inveja funciona em sentido inverso, satisfaz-se reduzindo tudo ao nível mais baixo.

Mas, se a farsa de que as escolas não eram fonte de contágio serviu para esconder o grande fracasso do governo na aquisição de meios informáticos que garantissem ensino on-line a todos os alunos e professores, não podemos deixar de confrontar este Ministério e este Ministro com este tremendo fracasso.

Não consta que o confinamento tenha afectado a produção de equipamentos informáticos, o governo nunca se queixou de falta de disponibilidade financeira, a segunda e terceira vaga estavam previstas desde o verão, o que impediu o governo de democratizar o ensino à distância.

Esta é uma pergunta que não poderemos deixar sem resposta.

Vivemos tempos desafiantes, com a vida em suspenso por imensas variáveis que não dependem de nós, desde logo o vírus SARS COV2 e a terrível pandemia. Se nestas variáveis “independentes” pouco podemos fazer, o mesmo não é verdade nas variáveis que dependem de nós, ou seja, na prevenção, na preparação e na mitigação das consequências.

Ajustar o calendário escolar, empurrando a sua extensão para o verão, é lógico e faz todo o sentido, aliás só por si destrói a narrativa de que não era possível interromper a actividade escolar. Mas, a duração imposta pela gravidade da situação pandémica obriga a um confinamento por varias semanas, pelo que poderia e deveria ser aproveitado para aulas on-line de recuperação para alunos que revelam atrasos na aprendizagem, assim o Sr. Ministro tivesse comprado os computadores.

Não há maior desigualdade que sujeitar uma geração à mesquinhez de um Ministro. Cada minuto que o Ministro esteja a mais no Ministério da Educação, é um minuto adiado para a futuras gerações.