Espanha é campeã do mundo de futebol feminino. Jogou melhor, foi mais competitiva e mais eficaz. Glória e honra para as suas atletas, para a estrutura que proporcionou o título mais cobiçado do mundo e para todos os espanhóis que apoiaram e vibraram com esta selecção.

Hoje, todo o país deveria estar a comemorar, a celebrar o desempenho das suas atletas. Foram e são um exemplo de dedicação, de resiliência e, sobretudo, de superação.

Superação é descobrir mais em si mesmo, é acrescentar novos limites aos limites, é ultrapassar a meta e continuar. Este é o exemplo que Espanha tem hoje para mostrar ao mundo, ao invés, está mergulhada numa autofagia colectiva.

Um gesto, um momento, um episódio isolado, ofuscou todo o trabalho de uma equipe, todo o percurso de anos, todo o esforço acumulado.

O gesto é um beijo impulsivo, é um gesto não ponderado, impensado e diria mesmo intempestivo e inadequado.

Mas, um gesto é um gesto, não pode substituir uma história. Este é o ângulo por onde vale a pena olhar. O título de campeãs é o corolário de um percurso, o prémio por um caminho trilhado, um exemplo de que vale a pena ser resiliente, que a vida não se decide por um momento, mas pelos trajectos que se percorrem.

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O desporto é exactamente isto, é uma escola de resiliência onde em cada derrota aprendemos a recuperar, a corrigir, até chegar à vitória.

O que estão a fazer a Luis Rubiales é o oposto. O oposto do exemplo da selecção, o oposto do propósito do desporto.

Condenar uma pessoa, destruir uma carreira de sucesso, por um momento é um desrespeito para com os valores nobres que o desporto sempre nos ensinou e que a selecção espanhola tão bem homenageou.

A Suspensão imposta pela FIFA, sem qualquer inquérito prévio, denuncia uma FIFA refém de agendas do politicamente correcto, uma FIFA que sacrifica a justiça ao mediatismo, uma FIFA que julga a pessoa por um momento, ignorando todo o percurso, uma FIFA de má consciência.

A FIFA que suspendeu Rubiales, por um beijo imponderado a uma atleta, é a mesma FIFA que organizou o último campeonato do mundo no Qatar, país onde os direitos das mulheres são negados, onde o futebol é coisa de homens e o futebol feminino é proibido.

É caso para perguntar: quantas caras tem a FIFA?