Na semana passada tivemos o Dia Internacional da Mulher e uma consequente avalanche de berros machistas e feministas em relação à necessidade ou falta dela de termos um dia dedicado ao tema. Há uns meses deixei aqui a minha opinião. Confesso que o último ano foi intenso. Foi provavelmente o ano em que mais vezes fui atacada pelos meus ideais feministas, por ser “agressiva”, por ser “bossy”. Um ano em que a discussão por vezes se perdeu em pormenores irrelevantes linguísticos. Um ano em que tantas vezes ouvi pessoas ridicularizem movimentos como o #MeToo e a fazer comentários como “agora já nem se pode sorrir a uma mulher sem se ser atacado”. Que o que era difícil era ser-se um homem branco de classe média. Enfim.
No entanto, hoje decidi refletir sobre o outro lado da moeda. Decidi olhar para dentro e dar dois conselhos às leitoras (que também se aplicam a muitos leitores) que têm até agora sido essenciais na minha vida. Porque acredito que um grande passo para a nossa batalha feminista pela igualdade é o autoconhecimento e empoderamento.
Sendo uma pessoa ambiciosa e perfecionista, toda a vida me esforcei por corrigir as minhas falhas e pontos fracos. No entanto, num momento profissional de maior dúvida, um mentor disse-me algo que ficou comigo até agora. Disse-me que nunca serei recordada pelos pontos fracos que corrigi ou pelos meus pontos médios. E que o meu “cartão de visita”, a minha imagem de marca, seriam sempre os pontos fortes, e que devia ser neles que eu me deveria focar na minha carreira. Que me devia focar em tornar os pontos fortes em mais fortes e não os pontos fracos em médios.
Este momento foi essencial para eu compreender duas coisas: o quão relevante é uma pessoa conhecer-se bem a si própria, e o quão importante é ter mentores na nossa vida.
A partir deste momento, decidi verdadeiramente abraçar um estilo de trabalho e de liderança próprio. Decidi também refletir profundamente quanto aos meus valores e as minhas prioridades, sem medos. Saber claramente quais são as minhas preferências no modo de me relacionar e de trabalhar, conhecer os meus temas “não-negociáveis”, e lutar abertamente por eles. Comecei a acreditar que era por isso que eu traria valor a qualquer relação, equipa ou empresa.
Sabem quais são os vossos pontos fortes? Se perguntarem a um superior ou a um par, qual será a resposta? Se perguntarem a um amigo ou familiar? Sei que tendencialmente as mulheres são menos autoconfiantes, por isso hoje, ao lerem estas linhas, peço-vos que reflitam sobre isso. Porque todos temos pontos fortes.
Quando olho para trás, sinto-me também extremamente agradecida por ter tido mentores e mentoras que me apoiaram e fizeram acreditar que tudo era possível. Naquele momento em que questionava as minhas capacidades, ter um momento de “reality check” com uma pessoa em quem confio e que admiro foi essencial para ultrapassar a dúvida. Hoje, sempre que posso, não só me rodeio de mentores e mentoras que me apoiam e aconselham, como também me voluntario como mentora. Não tenham medo de pedir apoio e não menosprezem o valor do vosso caminho e da vossa experiência até agora: para muitas pessoas, a vossa partilha poderá ser o empurrão necessário na direção certa.
Portanto, mulheres, hoje os meus dois conselhos são: conheçam-se a vós próprias e entre vós. A reflexão e partilha serão essenciais para se valorizarem, para os outros vos valorizarem, e para atingirem os vossos objetivos e os vossos sonhos.
Inês Relvas tem 28 anos e é consultora na The Boston Consulting Group. Tem experiência principalmente nas indústrias de serviços financeiros, bens industriais e retalho em Lisboa, Madrid, Londres e Luanda. Juntou-se aos Global Shapers Lisbon Hub em 2014 e é a atual curadora para 2017/2018
O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o futuro do país, com base nas respetivas áreas de especialidade, como acontece com este artigo. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.