Agora que é conhecida a Presidente da Comissão Europeia para os próximos cinco anos, a Sra. Ursula von der Leyen, ministra da defesa alemã, é altura de percebermos qual a pasta que Portugal deve escolher e exigir face ao futuro próximo que temos por diante.

Conhecendo a influência dos países maiores como a França, Alemanha, Espanha, e mais recentemente a Polónia e também outros países mais a leste, as pastas mais emblemáticas estarão já asseguradas ou comprometidas. A agricultura, contudo, sendo uma pasta da maior relevância para a União, é habitualmente atribuída a um país pequeno: o actual comissário é da Irlanda, o anterior da Áustria.

Também a geografia e os interesses geoestratégicos têm peso nestas escolhas e o facto é que nunca houve um país do Sul a assumir esta pasta. Ora, se há ocasião em que a agricultura terá destaque e pragmatismo na condução política da UE, é agora. Assuntos como as alterações climáticas, a água e as secas, o sequestro de carbono, o relacionamento com o Mercosul e o Canadá, as relações comerciais de produtos alimentares com a China, Israel ou África do Sul, e muito especialmente todos os assuntos relacionados com sanidade animal e segurança alimentar, são temas em que a Europa vai ter de intervir através de quem domine, não apenas os próprios assuntos e respectivos dossiês, mas muito especialmente quem conheça bem a “casa e os seus  corredores”. A região mediterrânica tem neste complexo puzzle uma importância e vulnerabilidade acrescidas. Portugal deve escolher a pasta da Agricultura.

A CAP há muito defende que o sector agrícola no seu conjunto é um pilar estratégico para o desenvolvimento económico do País. Os números mais recentes referentes às exportações demonstram-no e os agricultores vêm acompanhando a evolução e revolução tecnológica gigante que o mundo vem desenvolvendo nesta matéria. Nem sempre o sector é visto como o reconhecemos e defendemos, muito fruto de campanhas ideológicas que a sociedade nos tempos mais recentes vem alimentando nos chamados países desenvolvidos, ou do primeiro mundo, mas a realidade evidencia um planeta mergulhado num desafio alimentar sem precedentes, a braços com a necessidade de duplicar a sua capacidade produtiva em pouco mais de 30 anos, para fazer face a uma população estimada em perto de 10 biliões de pessoas em 2050. A Agricultura, conjugada e em estreita relação com valores de protecção ambiental, queiramos ou não, é a base das soluções, nunca a causa dos problemas.

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Aqui chegados é o momento de reafirmarmos a importância que a Agricultura tem numa Europa que soube, através de uma verdadeira política comum, garantir comida para todos e a preços baixos, de tal forma que as pessoas se habituaram a considerar que a alimentação está assegurada e esquecem-se que nem sempre assim foi. Importa garantir que essa segurança se mantenha e é por isso que a Política Agrícola Comum continua a mover os países e os seus governos com a veemência que é conhecida. Insisto, a pasta da Agricultura é das mais importantes.

No actual governo do Partido Socialista a pasta da Agricultura é ocupada por um homem que conhece bem Bruxelas e os tais corredores que acima refiro. Foi relator da última revisão da Política Agrícola Comum que chega agora ao seu final. Sabe bem o quão difícil é negociar dossiês complexos e abrangentes que incluem matérias tão diversas quanto as múltiplas actividades que se praticam numa Europa extensa e multifacetada. Foi inclusivamente agraciado pelo governo de França pelo resultado do seu trabalho em prol da Europa e da sua Agricultura. Resta-nos insistir, após o que acima escrevo, que Portugal deve reivindicar para si a pasta da Agricultura. A Europa não ficará seguramente indiferente a essa escolha, assim o nosso Primeiro Ministro também o considere.

Presidente da CAP