Para que não haja dúvidas, no seguimento da minha escritura Novo Aeroporto de Lisboa (NAL)  Temporada 1 Episódio N, defini a Temporada 1 com N episódios por ser uma série tão antiga que os  episódios são incontáveis. O anúncio do Governo sobre a decisão da localização do NAL no campo de tiro  de Alcochete parece finalmente vir pôr um termo à Temporada 1.

Vamos então dar início à segunda  temporada que promete ser tão duradoura e repleta de episódios que a definição desta série é difícil: de  Ação tem pouca e é lenta como se viu, de Comédia julgo que o povo português não achou nem achará  piada nenhuma, salvo a vocação tradicional portuguesa de fazer piadas com tudo, até com a sua desgraça  (digamos que é um fator de descompressão psicológica). Receio que a definição fique para quem goste de  séries de Drama ou de Terror, mas daquelas que fazem lágrimas ou pesadelos.

Ora vejamos: a localização  do NAL foi definida por este Governo com base no relatório da Comissão Técnica Independente (CTI) mas  nada garante que seja definitiva antes ou quando o ciclo político mudar, ou por outros fatores externos de  pressão. Recomendo a leitura do excelente artigo de opinião de Pedro Santos Guerreiro (PSG) intitulado  “O aeroporto de Alcochete não existe” (CNN), onde descreve as prováveis vicissitudes que antevê, caso  não surjam imprevistos.

Ora o horizonte temporal previsto por PSG é tão vasto que em minha opinião até  pode colocar em causa as previsões de aumento de número de passageiros e de número de voos que  justifiquem a construção de um novo aeroporto. E algumas delas são já visíveis: já várias vezes comentei  que a Fé em Nossa Senhora de Fátima para que tudo se resolva é muito louvável e partilho-a, assim como  centenas de milhares de devotos (O Santuário de Fátima tem mais presenças de devotos que o Santo  Sepulcro em Jerusalém).

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Mas também temos que fazer a nossa parte e corrigir a nossa gestão no que diz  respeito, por exemplo, à indústria turística portuguesa: temos escolas de hotelaria, mas os jovens que lá  são formados não encontram emprego dignamente remunerado e compatível com a formação em que  investiram. Resulta que os empresários da indústria hoteleira se queixam de não haver pessoal para  trabalhar (pudera!) e parece que compensam com pessoal de qualificação desconhecida (e mais barata) , a qual esperam qualificar. (E já neste ponto, insisto que qualificar não é sinónimo de salários baixos).  Obviamente esta atuação terá que se refletir na qualidade do nosso produto e evitar turistas insatisfeitos  que não se absterão de contar as suas experiências em Portugal.

Por outro lado, Portugal já não é assim  tão barato em alojamento e restauração e irá sofrer com o investimento em turismo em países como a  Albânia, Croácia, Montenegro (o país, não o nosso PM). Os próprios portugueses já escolhem a Espanha  como destino de férias por ser mais barato. Sem turistas em quantidade suficiente, as receitas do Estado  irão baixar e ficam as nossas lindíssimas praias (de água fria, que por acaso até gosto assim) para aqueles  que acham que há turistas a mais (quando se reformarem, talvez mudem de ideias).

Assim, a localização  do NAL fica por agora decidida, mas para os próximos episódios não é certo que siga este enredo. De  qualquer modo que interesse tem uma série se não houver um vilão? Entretanto o Ministro das  Infraestruturas e Habitação parece ter apanhado a partitura da Magellan 500 relativamente ao tema  musical de o novo aeroporto de Lisboa não representar qualquer custo para os contribuintes portugueses. Parece que no que toca a esta Obra Pública todos os seus defensores estão de acordo em que os  contribuintes portugueses não vão pagar nada. Pois está enganado Sr. Ministro. Os portugueses já estão  a pagar com a especulação imobiliária em terrenos e habitações (e consequentes impostos) na zona de  influência do aeroporto, e que obrigará a Hospitais, Centros de Saúde, Médicos de Família,  Escolas, Indústrias e empresas afetas ao aeroporto e não só, ou seja, Saúde, Educação, Habitação, Apoios  Sociais e Trabalho. E certamente tudo por conta do Estado Português. É que mais população obriga a mais  e melhores condições de vida. E obviamente necessitará de uma nova ponte forçosamente ferroviária e  rodoviária.

Entretanto, Miguel Pinto Luz afirma que não é uma companhia Low Cost que condiciona a ação  do Governo para o novo aeroporto. Pois não Sr. Ministro, lá nisso tem razão. Há que respeitar a nossa soberania (fundamentada no nosso arsenal financeiro?). Mas pelos vistos o Sr. Ministro não percebe que  nenhuma companhia aérea voa com aviões vazios. Para que um voo seja rentável, a ocupação de um avião  médio tem que ser pelo menos 80% e os destinos das Low Cost passarão a ser os que lhes enchem os  aviões. Não serão as companhias Low Cost que ditarão a ação do Governo relativamente ao novo  aeroporto. Pelo contrário, a ação do Governo vai ser ditada é pelo comportamento do mercado da oferta  da indústria turística e da competitividade que disponibiliza face ao produto português. Para valer a pena  construir um novo aeroporto, é necessário que existam passageiros que o justifiquem para não termos  outro “elefante branco” como Beja (que por sinal podia ser fortemente rentabilizado, mas parece que “isso  dá muito trabalho” de organizar ou como é costume dizer-se para desmotivar e justificar a inércia de quem  não quer fazer nada: “isso é complicado”).

Ter como adquirido que o aumento do número de passageiros  e de turistas vai atingir um número em milhões que justifique um novo aeroporto, exige da nossa parte  uma vigilância contínua e exigente da qualidade, seriedade e competitividade do nosso produto turístico (ações gananciosas como pedir 1000 (mil!) euros por noite num hotel nas Jornadas Mundiais da  Juventude, é cavar a sepultura do turismo em Portugal. É certo que foi uma festividade religiosa. Mas que  vai dar uma péssima imagem de Portugal, não tenho dúvidas. Como outro exemplo, aquele taxista que  escolheu o trajeto de ir à margem sul antes de levar um cidadão não nacional ao hotel, que ficava a 10  minutos do aeroporto), ou esse número será tão certo como acertar no Euromilhões.

Com o devido  respeito pelos especialistas que perderam noites a fazer relatórios e projeções de aumento de passageiros,  parece que à semelhança dos apostadores, por enquanto o povo português só tem perdido dinheiro.  Portanto, no aspeto dos custos a suportar pelo contribuinte português parece que estamos num cenário  em que nos “oferecem (?!) os baralhos de cartas e as fichas”, mas temos que pagar a construção do casino e respetivos acessos. Desde os contratos de concessão da Vinci, às taxas aeroportuárias (já aumentaram?!),  as Obras Públicas serão sempre pagas pelo contribuinte português.

E por falar em companhias aéreas Low  Cost, de que é que as Administrações da TAP, principescamente pagas, estão à espera para entrar nesse  negócio. Expliquem, porque queremos saber. Não é novidade para a TAP porque já foi o único acionista  da Air Atlantis, que apesar de ser uma companhia de características charter andava com os aviões tão  cheios que se via obrigada a ter voos regulares de vários aeroportos de Inglaterra para destinos em  Portugal. A Air Atlantis acabou por ser extinta, não por não ser rentável, mas porque incomodava a TAP, e pôs-se a jeito devido à má qualidade da sua gestão (vamos ter sempre ao mesmo vilão). Quando  trabalhei na Air Atlantis vendi um voo charter a uma orquestra que ia de Londres para Roma com escala  em Lisboa para um concerto, com uma margem fantástica e o voo não se concretizou porque o Sr.  Comandante Diretor Geral das Operações de Voo não o autorizou por motivos de segurança (ou por estar  melindrado por não ter sido informado) e teve que ir um dispendioso Boeing 707 Cargo levar a Roma os  instrumentos musicais e voltar vazio, agora com um fantástico prejuízo para a companhia. Percebi logo  que tinha que ir procurar sustento noutro sítio porque este tipo de “tricas” só podiam ter um desfecho.  Tivesse havido visão e a TAP teria agora uma companhia Low Cost a fazer concorrência à Ryanair e à EasyJet  (e outras) e seria uma boa fonte de rendimento. Tenho tido péssimas experiências na TAP (com exceção  do pessoal de cabine e das equipas de pilotagem) e acabo sempre com a impressão de ter uma companhia  de bandeira com o serviço de uma Low Cost (enfim, ou porque tenho azar e/ou porque depende dos  destinos).

Continuo a acreditar no potencial económico português e na sua capacidade de inovação para  gerar negócios que permitam a nossa soberania financeira e fortemente convencido que no setor do  transporte aéreo, também temos uma cartada a jogar. A não ser que haja um forte interesse em manter a  TAP atrofiada em benefício de outras companhias aéreas. O Dr. Miguel Pinto Luz, já que é ministro, deve  excluir-se do clube dos que acham que os portugueses são ingénuos e em vez disso passar o seu tempo a  procurar e concretizar áreas de negócio para o Estado português e a excluir processos de financiamento  do NAL Luís de Camões, danosos para o contribuinte português. A responsabilidade do cargo que exerce  assim o exige. E se vê que fala para depois emendar ou atenuar o efeito das suas afirmações, ao menos tente imitar o PM, que fala pouco e quando fala é para anunciar medidas concretas e fundamentadas sem  ter que vir emendar as suas declarações a seguir (ou pelo menos assim parece e vamos ver por quanto  tempo).