Face ao descontentamento demonstrado pelas companhias aéreas low cost na localização de Alcochete para o novo aeroporto de Lisboa, que se vai designar Luís de Camões, o ministro das Infraestruturas e Habitação não se vê condicionado: “não é uma companhia aérea que condiciona as decisões do Governo”, afirmou, na quarta-feira, em entrevista à CNN.

Tanto a Ryanair como a Easyjet congratularam o governo pela decisão, mas, ao jornal Eco, a Easyjet mostrou-se desagradada e não se comprometeu a voar para o aeroporto Luís de Camões. A Ryanair já havia manifestado a discordância em relação à opção pelo Campo de Tiro de Alcochete, mantendo a preferência pelo Montijo, além do presidente executivo da empresa se mostrar “dececionado” com a decisão por esta só estar concluída daqui a 10 anos. Em resposta a estas críticas, o ministro destacou que “Portugal é um país com uma longevidade muito maior que uma Ryanair e com uma independência nas suas decisões que não são compagináveis com qualquer tipo de condicionamento, típico dessa companhia que refere [Ryanair]”.

Em entrevista à CNN esta quarta-feira, Miguel Pinto Luz disse que “é a própria concessão [da ANA] que terá de pagar o aeroporto”. Clarificou que a Vinci não avança com o dinheiro por si só, mas através da concessão: “A Vinci é uma empresa que detém uma concessão, a concessão é do Estado, os aeroportos são do Estado”, por isso, “a construção tem de ser fruto da geração de recursos financeiros da própria atividade da Vinci no atual e no novo aeroporto”, referiu. O ministro não quis avançar mais detalhes sobre o modelo de financiamento para não comprometer as negociações com a empresa.

Uma “quase unanimidade” dos partidos da oposição

Miguel Pinto Luz relembrou o governo de Sócrates, da geringonça e o despacho revogado de Pedro Nuno Santos para dizer que, agora, “há uma grande diferença em relação a outros momentos históricos” e que existe “um consenso muito grande” entre os partidos para a construção do novo aeroporto.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O PAN foi o único partido que na quarta-feira se manifestou contra a decisão do Governo de construir o novo aeroporto de Lisboa em Alcochete. “Não faz sentido que se fale de uma solução de médio prazo, já que não se considera a qualidade de vida e a qualidade ambiental. Não podemos ter decisões desta dimensão que afetarão gravemente uma das maiores bacias de água doce do país”, considerou a deputada do PAN, Inês de Sousa Real.

Quanto às críticas de Pedro Nuno Santos que questionava ontem, no debate quinzenal, a fundamentação para a expansão no aeroporto da Portela, o ministro das Infraestruturas e Habitação referiu que o deputado do PS “escolheu fazer politiquice em vez de política séria”, uma vez que o Governo anterior já tinha, no entender do atual Executivo, aprovado a ampliação da capacidade da Portela, além da melhoria operacional.

Ampliação do terminal sul do aeroporto de Lisboa em apreciação ambiental

O BE, PCP e Livre querem esclarecer eventuais contrapartidas à ANA, por isso, pinto Luz reiterou, na mesma entrevista, que todas as obras de ampliação no Aeroporto Humberto Delgado “têm caráter provisório” e serão feitas “de forma gradativa ao longo destes 10 anos”. Face às exigências dos partidos da oposição para a apresentação de detalhes e números da execução do aeroporto, o ministro disse, ainda, que as negociações com a ANA só agora vão começar e que “o governo só ainda tem 33 dias [de vida]”.

Mais 10 anos e mais de 10 mil milhões. O aeroporto Luís de Camões, o TGV para Madrid e a nova ponte em 9 respostas

Alcochete como centro de desenvolvimento sustentável

Pinto Luz defende que o aeroporto constitui uma oportunidade para o desenvolvimento do Arco Ribeirinho Sul, e que Alcochete pode tornar-se numa cidade-aeroporto, capaz de oferecer treino aeronáutico, corresponder a uma “enorme” procura internacional e acima de tudo apostar em combustíveis fósseis sustentáveis já que, segundo o próprio, “o paradigma da aviação vai mudar”. Uma aposta que vê possível com a colaboração entre o ministério do Ambiente e da Energia e a tecnologia nacional.

Quanto a uma possível “luz vermelha” de um nova avaliação ambiental do aeroporto em Alcochete, Pinto Luz afastou exercícios de futurologia, reiterou que o Governo tem um único plano, “um plano A”, e acredita convictamente existir “condições para que essa declaração de impacto digital seja positiva”.