Não sei o que é viver em ditadura. Provavelmente, muitos dos que me leem também não, mas isso não nos impede de refletir sobre o significado das comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril.

Nos anos que antecederam a Revolução dos Cravos, enfrentávamos uma crise económica que condenava o nosso país à mediocridade e as pessoas desconheciam o significado de ter direitos civis e políticos, que hoje todos consideramos inegociáveis e irrenunciáveis.

Abril de 1974 trouxe-nos esperança, mas 50 anos volvidos mergulhamos

novamente numa crise socioeconómica que alimenta a revolta, o descontentamento e que serve como terreno fértil para discursos, à esquerda e à direita, que vão em contramão com os valores que a revolução preconizou.

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De Abril ainda está tanto por cumprir, um pouco por todo o país. Da saúde à educação, passando pela habitação, pela justiça, pelo abandono de largas parcelas de território, o Estado tem falhado aos portugueses, especialmente aos mais vulneráveis e sem voz, que acabam por ceder aos cantos de sereia e a promessas vazias de quem nada tem para lhes oferecer.

25 de abril de 2024: Temos 1,5 milhões de portugueses sem acesso a médico de família. Muitos destes são idosos, crianças e grávidas. Tratam-se de algumas das franjas mais frágeis da nossa população, que veem um direito tão basilar ser-lhe negado, porque as políticas dos últimos anos condenaram o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ao abismo.

25 de abril de 2024: Os professores, que há 50 anos eram alvos dos condicionamentos de um regime ditatorial, são hoje vítimas dos efeitos da incapacidade dos governos do PS e do PSD, que têm alternado no poder, de reformar o país. Enquanto isso, os nossos alunos – milhares deles sem professores a pelo menos uma disciplina – ficam aquém nos rankings internacionais e deixaram de ver na escola uma efetiva oportunidade para subirem no elevador social.

25 de abril de 2024: Quem recebe 1400€ líquidos por mês está entre os 10% de salários mais altos do país, sendo considerado rico e tributado como tal.

25 de abril de 2024: Uma carga e um esforço fiscais recorde, que condenam jovens e as demais famílias à emigração porque no seu país todos os meses vivem asfixiados em impostos e não conseguem subir na vida pelo trabalho.

25 de abril de 2024: A habitação, um direito essencial, é hoje taxada como se fosse um bem de luxo, sendo negada a milhares de jovens e de famílias.

Cinco décadas volvidas, o caminho para uma sociedade mais livre e justa não estará concluído enquanto todos estes direitos continuarem a ser negados. E, continuando a ser negados pelos que nos governam, em mera alternância e não em alternativa, escancaram aos falsos defensores da liberdade e de uma outra República, que nem sabemos bem com que configuração, as portas das instituições democráticas.

A Iniciativa Liberal não cede um milímetro. Não recua perante a chantagem entre a manutenção do mais do mesmo ou o regresso a tempos sombrios a que Abril pôs fim. Persiste, pois, na defesa da liberdade económica, política, social, conquistada a 25 de Abril de 1974, contra uma direita retrógrada e autoritária, mas celebra também essa liberdade que só se concretizou graças ao 25 de Novembro de 1975, que travou as forças da esquerda radical, que pretendiam instalar no país uma ditadura de sinal contrário.

Para os liberais, as duas datas são indissociáveis porque a memória de ambas permite-nos viver num país onde coexistem os valores da liberdade, da democracia representativa, o respeito pelo Estado de Direito e a valorização das instituições.

A liberdade não tem donos. É uma conquista de cada português, que exige ser assinalada, recordada, vivificada, celebrada, cumprida. Por ela, e por todos nós, temos de nos opor aos extremos que as corroem. Temos de dizer não à chantagem dos falsos defensores da liberdade.