A nomenklatura ocidental atribui a ascensão das novas direitas ‘populistas’ sobretudo ao problema da imigração. Porém, a pressão migratória descontrolada é um efeito da crise da democracia liberal e não a sua causa.

Com este desvio da percepção, a oligarquia vigente (que inclui a classe política, a casta negociante adjacente e uma vasta hoste mercenária de fazedores de opinião pública) procura disfarçar o declínio evidente do seu próprio modelo político liberal-globalista e em particular do projecto da União Europeia.

Declínio fartamente demonstrado tanto pelo Brexit como pela subida ao poder de governantes soberanistas, Giorgia Meloni na Itália, Viktor Orbán na Hungria, Robert Fico na Eslováquia, etc. E também pela muito provável próxima reeleição na América do isolacionista Donald Trump.

É inquestionável que as novas direitas pós-liberais estão a captar os receios e as esperanças das pessoas comuns melhor que os partidos sistémicos. E que uma ventania de revolta social e de mudança política sopra hoje na Europa e mesmo em todo o Ocidente.

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A que se deve esta nova rebelião dos povos? A meu ver, ela tem principalmente duas causas: a crise de representatividade da democracia liberal (dominada há muito por aparelhos e mecanismos oligárquicos); e o enfraquecimento da soberania do Estado-Nacão (fruto das ideologias globalistas e do projecto federalista europeu). Na prática, as pessoas deixaram de confiar em elites que decidem conforme interesses alheios e opacos; e temem a fragilização irreversível da segurança e da identidade nacionais.

Em consequência, emerge o soberanismo orgânico, identitário e protecionista, contra um modelo individualista-liberal e apátrida que se tornou vicioso, suspeito e perdeu representatividade.

Para superar a profunda crise da democracia liberal sem se cair em arriscadas derivas caudilhistas, talvez conviesse olhar para novos horizontes. E pensar num modelo mais equilibrado de organização da sociedade politica. Num contrato social ou constituição pós liberal. De natureza mista, que combinasse democracia, monarquia e aristocracia. A democracia representando o princípio da legitimidade; a monarquia o princípio da unidade; e a aristocracia o princípio da qualidade.