No passado dia 13 de Agosto, Israel e os Emirados Árabes Unidos (EAU) anunciaram ao mundo um acordo de normalização das suas relações, que contou com a mediação do Presidente norte-americano, Donald Trump, e a promessa do Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu, da suspensão dos planos para anexação de áreas da Cisjordânia, num contexto em que, tanto o governo de Israel, como o dos Emirados Árabes Unidos partilham profundos receios nos domínios da segurança, tendo como principal preocupação a permanente ameaça representada pelo Irão e pela sua política no espaço regional. Nesse sentido, uma das primeiras medidas de Israel passa pela suspensão de uma anexação imediata de áreas da Cisjordânia, ocupadas pelas suas forças desde a guerra de 1967, a chamada Guerra dos Seis Dias, que pôs em confronto directo Israel e alguns países árabes, com resultados dramáticos para estes últimos. No entanto, e para que não existam dúvidas, Netanyahu sempre foi dizendo que a anexação não está fora dos planos de Israel; mas que, simplesmente, foi adiada1. Este acordo está, igualmente, a ser entendido (e aproveitado) pela actual Administração norte-americana, como uma relevante vitória diplomática, após as fracassadas negociações com a Coreia do Norte e o Irão. Num horizonte não muito distante, este acordo poderá significar a dissolução da Autoridade Nacional Palestiniana, levando Israel a assumir a responsabilidade pela segurança na região, e, consequentemente, ao inevitável aumento das tensões no plano regional. Este acordo foi, desde logo, considerado por alguns países, entre os quais o Irão e a Turquia, com largos interesses em toda a região, como uma verdadeira “traição à causa palestiniana”, admitindo mesmo a aplicação de medidas retaliatórias de natureza diplomática, tendo como destinatários, pelo menos para já, Israel e os Emirados Árabes Unidos. De recordar, que a Turquia foi o primeiro país de maioria muçulmana a reconhecer o Estado de Israel. Outra das possíveis consequências do acordo, será o do desencadeamento de actos terroristas em território dos EAU. Ainda assim, é de esperar que outros países árabes apoiem a iniciativa, ainda que discretamente, como é o caso da Arábia Saudita, tendo em conta a importância crescente dos EAU em toda a região, onde o Irão será, bem provavelmente, o grande opositor de Israel.

No domínio das relações entre Israel e os EAU, o Acordo de Paz poucas novidades traz ao entendimento entre os dois Estados que, na verdade, têm mantido, ao longo dos últimos anos, uma relação de proximidade. Todavia, este acordo, envolvendo um país árabe, tem, como efeito imediato, a quebra do consenso existente, desde há décadas, entre os parceiros árabes, relativamente às suas relações com o Estado judaico, abrindo espaço ao aprofundamento das históricas tensões que têm assolado todo o Médio Oriente. Da sua parte, a própria Liga Árabe acabaria mesmo por deixar cair uma iniciativa, através da qual condenava o acordo de normalização das relações entre Israel e os EAU, o que, segundo alguns especialistas, mostra corresponder à sua manifesta incapacidade de condenar os EAU, e o seu implícito alinhamento, o que prenuncia o fracasso do longo processo reivindicativo palestiniano. Esta posição poderá ser entendida como uma nova realidade política adoptada pela Liga Árabe, o que, inevitavelmente, abrirá espaço a próximos entendimentos entre outros países árabes e Israel. A liderança dos EAU afirma, entretanto, a sua vontade de continuar a apoiar o povo palestiniano e a perspectiva de uma solução de dois Estados entre Israel e a Palestina.

Desde sempre que a política externa do Estados Unidos da América para o Médio Oriente foi defendida pelas suas diferentes Administrações com o propósito tanto de proteger o seu grande aliado na região – Israel -, como o de garantir o abastecimento de petróleo de outros parceiros do Golfo Pérsico. Este alinhamento norte-americano com Israel, logo a partir de 14 de Maio de 1948, data da sua criação, com base numa resolução aprovada no ano anterior pela Organização das Nações Unidas (ONU), e que estabelecia a divisão do então território da Palestina em dois Estados, um árabe e um judeu, provocou a pronta oposição dos Estados árabes vizinhos, e que viria a resultar numa sucessão de guerras, submetendo o povo palestiniano a uma dramática dispersão geográfica. Este histórico conflito, agravado com o tempo, continua, ainda, por resolver, mesmo num contexto de alguns acordos pontuais e provisórios entre Israel e alguns Estados árabes – quase sempre sem consequências práticas. Da sua parte, os Estados Unidos nunca esconderam o permanente e estratégico patrocínio a um dos protagonistas da contenda – Israel -, dada a enorme influência política e financeira de figuras judaicas junto da sociedade norte-americana.

Nos últimos anos, têm vindo a ser dados, por alguns Estados do Golfo [Pérsico], sinais de abrandamento de tensões com Israel, a que não será estranho o desgaste provocado por longos e inconsequentes conflitos, para além das relações de entendimento que alguns desses Estados já têm com os Estados Unidos. Não deixa, todavia, de ser estranho, o facto de os EAU terem sido sempre contrários aos planos de Israel de anexar, unilateralmente, alguns dos territórios da Cisjordânia. Outro factor, provavelmente o mais preocupante, está relacionado com a percepção do crescente perigo que o Irão representa, tanto para Israel, como para outros Estados árabes. De resto, esta aproximação seguramente será usada pela Irão e líderes religiosos conservadores da região do Golfo, como pretexto para o desencadeamento de profundas animosidades, protagonizadas, sobretudo, por extremistas sunitas e iranianos, tendo como destinatários, para já, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita e o Bahrein. Para além das razões de âmbito securitário, outras há, estas de carácter comercial e tecnológico, que reforçam, naturalmente, a premente necessidade de entendimento a um nível mais abrangente. É, pois, neste contexto que, ao longo dos mais recentes anos, a diplomacia tem vindo a emprestar um relevante contributo na procura de um cada vez mais alargado consenso entre os países da região. Há, contudo, um problema que persiste: o povo palestiniano, para o qual a ideia de normalização no relacionamento entre os Estados árabes e Israel vai continuar a permitir a ocupação da Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Enquanto isto, o Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirma que a normalização das relações com os Estados do Golfo é o seu objectivo, tendo em conta o facto, segundo ele, de não haver líderes palestinianos que se mostrem dispostos a uma negociação já proposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump, no sentido de uma efectiva integração de Israel, em todo o contexto regional; de resto, na linha dos seus antecessores. Trump, entretanto, vê neste acordo mais uma importante cartada no jogo eleitoral, enquanto candidato a um segundo mandato na Casa Branca. Trata-se, afinal, de uma relevante conquista, segundo os seus apoiantes, no que à sua política externa diz respeito.

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Ao fim de décadas de sucessivas tentativas falhadas por ambos os signatários, que sempre alimentaram o propósito de um melhor relacionamento entre Israel e os Estados árabes, surge, finalmente, a oficialização do entendimento, ainda que, de momento, de âmbito restrito, naturalmente motivado por interesses políticos, securitários e económicos, e como reflexo de uma nova configuração geopolítica em toda a região do Médio Oriente, onde Israel compartilha com os países árabes a profunda preocupação com a presença de forças jihadistas, em particular na Faixa de Gaza, no Egipto e na Jordânia, e as crescentes ameaças, nuclear e convencional, que o Irão representa. Este sentimento de mútua solidariedade por parte de alguns países árabes, parece estar a ganhar terreno com base na percepção de que Israel poderá, rapidamente, tornar-se um parceiro a ter em conta; pesem, embora, manifestações contrárias por parte das populações envolvidas neste já longo conflito.

Nesta nova configuração regional, outro actor a ter em consideração é a Turquia. No decurso dos últimos anos, a Turquia e os Emirados Árabes Unidos têm vindo a apoiar milícias opostas na guerra civil na Líbia. A Turquia, ainda que aliada do Qatar, tem suscitado enorme desconfiança, política e ideológica, junto de alguns Estados do Golfo, nomeadamente, a Arábia Saudita, o Bahrein e os EAU,  que se opõem firmemente ao crescente protagonismo turco e iraniano. Esta circunstância foi aproveitada pelo presidente norte-americano, que anunciou que o Reino do Bahrein aceitou, igualmente, normalizar plenamente as suas relações diplomáticas com Israel, o que, conhecidas as boas relações entre o Bahrein e a Arábia Saudita, constitui mais um sinal de uma nova dinâmica que tem vindo a verificar-se na região do Médio Oriente, com claro prejuízo para as pretensões iranianas. Do lado oposto, a Autoridade Palestiniana condenou, de imediato, a decisão do Bahrein, considerando-a um acto de “traição à causa [palestiniana]”, para além de confirmar a recusa do Bahrein em promover, a seu pedido, uma reunião de emergência da Liga Árabe no sentido de rejeitar o acordo de normalização entre Israel e os EAU2. Surgem, entretanto, rumores sobre a provável normalização de relações entre Israel e outros países árabes, como, por exemplo, Omã, Sudão e Marrocos3. Existe, igualmente, a crença de que o Iraque possa, a breve trecho, aderir a este movimento, ainda que, da parte da população iraquiana, seja manifesta a sua oposição. Ainda, assim, a normalização das relações entre Israel e o Iraque terá de conhecer melhores desenvolvimentos4. Objectivamente, o cenário de um alinhamento árabe com as pretensões israelitas, empurrará, de modo inevitável, o povo palestiniano para uma situação dramática. Na verdade, este ambiente de normalização generalizada entre israelitas e árabes, mais não é do que uma postura concertada contra o inimigo comum – o Irão -, mesmo considerando que, do lado dos EAU, exista um longo historial de laços económicos com os iranianos, e da presença de uma larga comunidade iraniana no Dubai5.

Fruto das mais variadas motivações, as reacções à assinatura do acordo não se fizeram esperar, as quais, de um modo geral, estão a ser vistas com reservas por parte de alguns países do Golfo6, encontrando-se, de um lado, os que o denunciam como um claro estrangulamento da chamada Questão Palestiniana, onde se perfila a maioria dos Estados árabes, e do outro, os que entendem que o documento constitui um forte contributo para a paz e a estabilidade de toda a região do Médio Oriente, desde há muito desejada pelos diferentes actores políticos, sem que tal signifique, contudo, o fim de um sentimento de solidariedade com o povo palestiniano. É nesse sentido, que, de acordo com a posição dos líderes dos EAU, o Tratado pressupõe, entre outras condições, o fim da anexação de áreas da Cisjordânia ocupadas pelos israelitas. Descrente destes propósitos, a Autoridade Palestiniana rejeitou, de imediato, o acordo, tendo sido secundada pelas organizações palestinianas Hamas e Fatah que, apesar das suas reconhecidas divergências, têm procurado encontrar soluções comuns para a manutenção da luta contra Israel. Também a Turquia e o Irão se apressaram a manifestar a sua viva condenação pela assinatura do acordo, considerando-o uma “traição à legítima luta do povo palestiniano” e à “perpetuação dos crimes sionistas”. O presidente turco Erdogan viria mesmo a revelar a sua intenção de considerar o corte de relações diplomáticas com os EAU, como acto retaliatório. Enquanto isso, a liderança iraniana alertaria para o perigo de interferência de Israel da região do Golfo, e para os riscos que os EAU correm, a partir deste momento, o que foi entendido pelo Conselho de Cooperação do Golfo como uma ameaça. O Iémen, por sua vez, opôs-se, igualmente, a esta iniciativa, afirmando a manutenção do seu apoio à Causa Palestiniana. A Jordânia, por seu turno, advertiu Israel para o que deve ser uma “escolha entre a paz e a continuação do conflito”, acrescentando que tudo dependerá das genuínas decisões de Israel. Também a posição do Kuwait foi, também, contrária à assinatura do acordo. Já para o Bahrein, este deve ser entendido como um “acto histórico que irá contribuir para a estabilidade e a paz de toda a região”, embora o governo se mantenha comprometido com a criação de um verdadeiro Estado palestiniano. Também o governo de Omã apoiou publicamente o acordo, apesar da oposição da liderança religiosa. No Egipto, o seu presidente, Abdel Fattah al-Sisi, um aliado próximo dos EAU, viria a saudar o acordo, na convicção de que o mesmo porá fim à anexação das terras palestinianas por parte de Israel, criando, consequentemente, um caminho de estabilidade e prosperidade em toda a região7. A Arábia Saudita, declarou, através do seu Ministro das Relações Exteriores, que o acordo poderia ser entendido como positivo, recusando-se, contudo, à normalização das relações com Israel, até que a paz seja formalmente assinada com os palestinianos, de conformidade com a Iniciativa de Paz Árabe8.

Na Europa, pese embora o aparente alheamento que o tema suscita junto dos seus líderes, e onde parece reinar, por parte de alguns dos seus responsáveis políticos uma compreensão limitada das novas realidades estratégicas na região, o acordo viria, ainda assim, a merecer uma generalizada aprovação. Para os Estados Unidos da América, o grande impulsionador do acordo, este representa uma “grande vitória para o mundo e, em particular, para os países do Médio Oriente, que enfrentam a permanente ameaça do regime iraniano, o principal patrocinador do terrorismo”9. Outra das fundadas preocupações da Administração norte-americana passa pelas crescentes influências chinesa e russa na região do Médio Oriente e Norte de África (MENA), o que a tem levado a considerar o seu reposicionamento hegemónico no mesmo espaço territorial. Em sentido oposto, o governo luxemburguês manifestou sérias dúvidas sobre a eficácia do acordo, desde que não seja respeitada a já preconizada solução de dois Estados. Entretanto, as Nações Unidas, através do seu Secretário-geral, António Guterres, saudaria a assinatura do acordo como um importante contributo para a promoção da paz e da segurança na região do Médio Oriente, num momento de particular instabilidade. Do lado da Rússia e da China, os dois principais concorrentes estratégicos dos Estados Unidos da América, a reacção foi de alguma contenção, com o Ministério das Relações Exteriores russo a sublinhar que “a estabilidade do Médio Oriente dependerá sempre da resolução do problema palestiniano”, ao passo que a China declarou, também através do seu Ministério das Relações Exteriores, o seu “indefectível apoio à autodeterminação palestiniana”. Esta contenção, marcada por sinais de uma estratégica ambiguidade, irá permitir aos líderes chineses a continuidade da sua crescente relação económica com os países da região, incluindo Israel, servindo, igualmente, para algum abrandamento da influência turca no Mediterrâneo Oriental. Comportamento semelhante é protagonizado pela Rússia, que vê no acordo uma imperdível oportunidade para o reforço da sua posição regional, assente no equilíbrio militar face ao Irão.

As autoridades de alguns países, a par de muitos analistas, já manifestaram a sua preocupação relativamente à possibilidade de que o acordo venha a alimentar a polarização e a radicalização em toda a região MENA. Apesar desse contexto desfavorável, alguns países, entre os quais a China, admitem que o novo cenário venha a resultar na oportunidade de uma continuada cooperação com os signatários do documento assinado no passado mês de Agosto. O Gigante Chinês, nesta e em futuras parcerias, o desejado equilíbrio no espaço mediterrânico, marcado que está pela crescente e nefasta influência da Turquia e do Irão, mesmo tendo em consideração o seu propósito de aprofundamento das relações diplomáticas com Teerão, obrigados que foram a reduzir significativamente a compra de petróleo e as relações comerciais, decorrentes das sanções internacionais aplicadas ao Irão. Outra das preocupações da liderança chinesa está, justificadamente, relacionada com a agressiva reacção iraniana ao seu eventual acantonamento, em resultado da actual e de futuras alianças, não podendo ignorar-se, igualmente, a intervenção de grupos radicais, como o Hamas, em Gaza, e o Hezbollah, em toda a região, sempre prontos a levar por diante acções terroristas em larga escala.

Considerações finais

O acordo Israel-Emirados Árabes Unidos, assinado no passado dia 13 de Agosto, não tem merecido o apoio consensual por parte da Comunidade Internacional; o mesmo está a acontecer entre os países árabes, directamente implicados, e aqueles que detêm interesses de natureza geoestratégica na região, em particular o Irão e a Turquia, para além das grandes potências – Estados Unidos da América, China e Rússia. São muitos, os que advogam que este entendimento vai relegar para segundo plano as iniciativas de solidariedade para com a Causa Palestiniana, deixando o povo palestiniano entregue à sua própria sorte, ainda que o acordo tenha sido assinado entre os dois Estados, no pressuposto de não ser dado mais nenhum passo por Israel em direcção à anexação de novos territórios da Cisjordânia.

Deste acordo, os imediatos vencedores são os EAU e Israel. Os EAU podem, a partir de agora, consolidar a sua parceria de segurança com Israel, a par de outros interesses comuns de âmbito regional, ao mesmo tempo que alardeiam a ajuda concedida aos palestinianos, com a “frustração dos planos israelitas de anexação de novos territórios da Cisjordânia”; algo que parece estar a ser ignorado pelo próprio Primeiro-Ministro israelita, Netanyahu, que afirmou ter-se limitado a “adiar, e não a cancelar, o plano de anexação; podendo o mesmo vir, ainda, a avançar”10. Da sua parte, Israel obtém, com este acordo, a resposta desejada para as suas profundas e históricas preocupações com a segurança humana e territorial. Entretanto, para a actual administração norte-americana, já em ambiente pré-eleitoral, o acordo representa uma “assinalável conquista diplomática”. Do lado oposto, estão, naturalmente, os derrotados; desde logo, o povo palestiniano, e os seus líderes, que, na verdade, nunca se mostraram capazes de criar condições para um resultado diferente. Novos desenvolvimentos são, assim, aguardados com enorme expectativa, marcados, inevitavelmente, tanto pelos protagonistas regionais – Comunidade Árabe, Irão e Turquia -, como pela presença das grandes potências mundiais – Estados Unidos da América, China e Rússia -, num verdadeiro jogo geostratégico, o que, do ponto de vista das lideranças europeias, conduzirá ao agravamento das actuais tensões entre os países do eixo Golfo-Egipto-Israel e o Irão, assim como entre o mesmo eixo e a Turquia e o seu aliado Qatar.

Aquilo que é considerado por Israel e, de momento, por alguns Estados árabes, como uma perigosa influência do Irão e da Turquia em toda a região, aliada à percepção de incapacidade de lhes fazer frente, justifica, plenamente, um sólido compromisso e aliança de todos aqueles que lutam contra a activa intervenção dos dois regimes, considerados como um inimigo comum, sendo certo que este posicionamento irá, inevitavelmente, resultar num certo alheamento das preocupações relacionadas com o conflito israelo-árabe. A favor da Causa Palestiniana joga o facto de as populações turca e iraniana estarem, de modo crescente e inequívoco, a contestar as respectivas lideranças. A normalização das relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos parece resultar do factual reconhecimento relacionado com as crescentes capacidades militares israelitas, a par do apoio manifestado pelas grandes potências mundiais. Na verdade, esta opção é, por muitos, entendida como a única verdadeiramente sensata para todo o universo árabe, cujas cicatrizes, dos não muito distantes confrontos com Israel, estão bem vivas. Este reconhecimento não nega, contudo, a legitimidade dos direitos do povo palestiniano, entre os quais se deve considerar a rápida recuperação dos territórios que lhes pertencem, de acordo com as resoluções internacionais. É, assim, expectável que outros Estados árabes sigam o exemplo dos EAU, e, agora, também do Bahrein, dando razão à velha máxima (cuja autoria é reivindicada por muitas nações): “Se não os podes vencer, junta-te a eles”.

(1) Monitor do Oriente Médio, 4 de Setembro de 2020
(2) Al Mayadeen
(3) Voice of America, 11 de Setembro de 2020
(4) Monitor do Oriente Médio, 3 de Setembro de 2020
(5) Al Jazeera News
(6) Al Jazeera News, 15 de Agosto de 2020
(7) Al Jazeera News, 15 de Agosto de 2020
(8) Trata-se de uma proposta aprovada pela Liga Árabe, na Cimeira de Beirute, de 2002, com o propósito de pôr fim ao conflito israelo-árabe, através do reconhecimento de Israel, por parte dos Estados árabes, em troca da retirada de Israel dos territórios ocupados, e da aceitação israelita do Estado da Palestina.
(9) Associated Press, 13 de Agosto de 2020
(10) Al Jazeera News, 13 de Agosto de 2020