Nunca se falou tanto em burnout como agora. Mas a expressão que comumente, hoje, vai sendo utilizada, tem feito um longo caminho desde os centros de investigação clínica (cunhada em 1974 pelo Psicólogo Herbert Freudenberger), dos consultórios de profissionais de saúde, das universidades, para as casas das pessoas e famílias, para os media, para as redes sociais e mais demoradamente para os locais de trabalho. Recentemente, a síndrome de Burnout ganhou mais visibilidade e atenção pelo fenómeno ter sido introduzido na Classificação Internacional das Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde.
Para melhor compreender o fenómeno da síndrome de exaustão profissional, que é vivenciado por pessoas que atingiram o seu limite, esgotando os recursos que têm disponíveis e que se manifesta através de um conjunto amplo de sintomas (afectivos, cognitivos, físicos e comportamentais) e envolve sempre a exaustão emocional, a despersonalização e uma sensação de ineficácia e de falta de realização pessoal, é incontornável reflectir sobre o significado que o trabalho e a carreira actualmente têm, muito relevante no projecto de vida das pessoas: possibilitador de identidade pessoal, de sentido diário de existência e de contributo para a vida em comunidade. Como tal, a satisfação no trabalho, as oportunidades para desenvolver o potencial e continuar a aprender, as lideranças apoiantes e promotoras de autonomia, o engagement com a organização são dimensões críticas valorizadas e procuradas pelos trabalhadores/ colaboradores. Num mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) o paradigma do trabalho tem-se alterado, deslocando a ênfase da responsabilidade pela gestão da carreira das empresas/organizações para os indivíduos, aumentado a competição, a pressão e a intensidade do trabalho, a instabilidade laboral e a insegurança, o que contribuirá para o aumento dos riscos psicossociais e de processos disruptivos e de adoecer em locais de trabalho pouco saudáveis (potenciadores de stress, depressão e exaustão). Os impactos na saúde (física e psicológica) traduzem-se em consequências prejudiciais quer para os colaboradores quer para os empregadores e organizações (absentismo, presentismo, diminuição da produtividade e da qualidade do trabalho, enviesamentos na tomada de decisão, conflitos e degradação do clima de trabalho, rotatividade e intenção de sair) – custando até várias centenas de milhões de euros às empresas Portuguesas.
É provável que o burnout represente um problema social urgente nos próximos anos, atendendo às transformações profundas que se observam na sociedade no geral e no mercado em particular e, por isso, afecte transversalmente diferentes gerações. As pressões competitivas na indústria de manufactura com origem no mercado global, o processo contínuo de capacitação do consumidor no comércio e serviços e a ascensão e declínio da indústria de alta tecnologia estão entre os factores que provavelmente mais afectarão os níveis de desgaste dos colaboradores em diferentes sectores. E não, a recuperação de processos de Burnout não se faz apenas e só pelo tratamento das pessoas que o experienciam, sem a melhoria das condições e ambiente de trabalho. A prevenção e a promoção da saúde psicológica e do bem-estar nas empresas poderiam reduzir perdas de produtividade em pelo menos 30%, no entanto, pouco mais que 10% das empresas Portuguesas possuem procedimentos para lidar com os riscos psicossociais, o que seguramente nos revela que o burnout não está na moda para as organizações do nosso país, que todos sabemos ser rico e com elevados níveis de igualdade e de justiça social.