É com apreensão que assistimos ao encerramento das urgências pelo país fora. É algo que não deveria acontecer, pois compromete a qualidade da prestação dos serviços em saúde. Apesar de tudo se ter agravado com a pandemia, os problemas estão identificados há muito, estando agora à vista anos de desinvestimento.

A saúde volta a ser notícia de abertura dos telejornais pelos piores motivos. A Ministra da Saúde Marta Temido não tem soluções. Tem pensos rápidos, que passam por apostar nas medidas obsoletas do passado e que nos conduziram até aqui.

Obrigar as nossas grávidas à angústia e à incerteza do direito atempado a um serviço hospitalar é inadmissível. Os doentes têm direito a ser atendidos a tempo e horas. O sistema tem de responder como um todo, sem obstáculos, sem assimetrias e sem desigualdades territoriais.

O encerramento de qualquer área de uma urgência acarreta consequências muito perigosas. Pode colocar em risco a vida das pessoas, seja por atrasos no atendimento, seja por constrangimentos geográficos e de falta de meios. Além disso, a deslocação de doentes críticos e graves entre hospitais implica ambulâncias medicalizadas disponíveis, sendo necessário o acompanhamento de equipas médicas e de enfermagem diferenciadas, deixando a descoberto os hospitais de origem.

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Muitas culpas se apontam. Tentam fazer parecer que a culpa é dos médicos e do seu direito às férias. Isso não é verdade. Os constrangimentos já existiam.

O subfinanciamento crónico, a falta de competitividade do SNS e a desmotivação dos seus profissionais levou a que quase metade dos médicos inscritos na Ordem dos Médicos deixassem de exercer a sua atividade no setor público.

E então, qual o motivo de tanta notícia de telejornal? O motivo é que estamos a dar um grito de alerta, pois a situação neste momento é absolutamente insustentável. Não podemos ficar indiferentes ao que está a acontecer. Todos os profissionais de saúde e todos os portugueses têm de unir vozes e lutar contra políticas em saúde anárquicas e ineficazes.

O direito à saúde é universal. No entanto, em Portugal assistimos à falta de acessibilidade, tanto aos médicos de família, como às consultas de especialidade e, ainda, à realização de meios complementares de diagnóstico.

Isto não é gestão. Temos de zelar pela prestação de cuidados em segurança e pela qualidade do sistema de saúde.

Senhora Ministra da Saúde Marta Temido, os portugueses merecem mais e melhor!