Os preços do petróleo estão a subir e, como sempre, lemos em muitos artigos que a culpa é da OPEP e da Rússia. No entanto, se a OPEP e os seus aliados fossem todo-poderosos e os impulsionadores dos preços do petróleo, por que razão o petróleo de Brent e o petróleo West Texas Intermediate (WTI) baixaram drasticamente em 2022? A OPEP apenas reage à procura, mas não determina os preços de mercado, é price-taker.

O WTI subiu 13% no acumulado do ano, mas só começou a aumentar em Maio, tendo subido apenas 6% em relação ao ano passado. A 90,7 dólares americanos o barril, está ainda longe do máximo de Junho de 2022 de 122 dólares/barril, mal atingindo os níveis de novembro desse mesmo ano.

O que fez os preços do petróleo caírem desde os máximos de Junho de 2022? Os aumentos das taxas e a contracção monetária fizeram com que todo o sector de matérias-primas caísse para níveis anteriores à invasão da Ucrânia, apesar dos cortes de produção, do risco geopolítico e da reabertura chinesa. Os preços das matérias-primas são impulsionados por factores monetários e a postura agressiva dos bancos centrais globais acelerou a descida, apesar dos desafios da cadeia de abastecimento e dos limites à produção. Aliada à oferta monetária mais restritiva e aos aumentos das taxas, a produção dos Estados Unidos e de países não pertencentes à OPEP compensaram o impacto negativo dos limites a algumas exportações da Rússia e da OPEP. A concorrência funciona. Por último, os preços do petróleo baixaram, uma vez que a procura asiática acabou por ser mais fraca do que a estimada, com a produção industrial global a diminuir, especialmente nas economias desenvolvidas.

A baixa do preço do crude foi uma combinação de factores monetários, aumento da oferta dos Estados Unidos e procura global mais fraca. Esses três fatores alteraram-se agora em simultâneo.

Não podemos culpar a OPEP quando os preços sobem e ignorá-la quando os preços baixam.

Nos próximos cinco anos o maior desafio para o mercado petrolífero nas economias desenvolvidas é auto-infligido.

Os governos e as instituições financeiras de todo o mundo declararam guerra ao investimento em combustíveis fósseis com base no pressuposto errado de que a oferta e os preços não seriam afectados. De acordo com o JP Morgan, existe um subinvestimento crónico na indústria de petróleo e gás que ultrapassa os 600 mil milhões de dólares por ano. Em 2022, com os preços do petróleo a subir para os já mencionados 122 dólares/barril, as empresas de todo o mundo continuaram a reduzir o investimento na exploração e produção. O investimento foi mantido ao mínimo e mesmo alguns gigantes europeus do sector de energia começaram a promover a sua estratégia de “saldo zero em emissões”, ignorando a realidade energética global. O investimento total na indústria petrolífera e de gás ficou abaixo da respectiva depreciação pelo sexto ano consecutivo e de acordo com o Goldman Sachs.

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A transição energética não pode acontecer por imposição ideológica. Requer tecnologia e concorrência. A destruição dos incentivos ao investimento no sector e a imposição de uma visão ideológica, não industrial, da energia tornou as economias desenvolvidas mais dependentes dos combustíveis fósseis.

Quando os políticos decidem, ignoram voluntariamente os cálculos económicos porque acreditam que é o mundo político que dita os preços e não a relação oferta-procura. A análise económica foi abandonada e o resultado é um cenário extremamente negativo.

As economias desenvolvidas destruíram todos os incentivos para investir na diversificação e na segurança do abastecimento de petróleo e gás, impulsionadas por uma visão ideológica do mundo, sem ter uma alternativa viável, abundante e flexível. Assim, quando a Administração americana impõe mais restrições ao investimento nesta indústria e a União Europeia decide reduzir a capacidade nuclear e proibir o desenvolvimento de recursos nacionais, tudo o que fizeram foi tornar as suas economias mais dependentes de fornecedores estrangeiros.

Os governos ocidentais exigem agora que a OPEP produza mais e, ao mesmo tempo, dizem que os seus países deixarão de utilizar combustíveis fósseis dentro de dez anos. O acordo imaginário que nós, no Ocidente, oferecemos às nações produtoras de petróleo e gás é este: «Caros produtores, vocês têm de produzir tanto quanto exigirmos e têm de vender a preço baixo, investindo milhares de milhões de dólares no sector. Mas nós deixaremos de usar o vosso produto num prazo máximo de dez anos». Imagino que não haja pressa em assinar tal acordo.

É difícil acreditar que os produtores globais dos mercados emergentes ficarão entusiasmados com a perspectiva de eliminarem as suas exportações de energia apenas para importar mais engenharia de “transição energética” dos países desenvolvidos.

De acordo com fontes da OPEP, poderá haver um choque de oferta de dois milhões de barris por dia no Inverno de 2023. Outros analistas são mais prudentes, mas ainda vêem hoje um mercado difícil e que pode estar a piorar à medida que o custo do subinvestimento se torna mais evidente.

Toda a subida dos preços do petróleo desde Maio é impulsionada pela decisão precipitada dos bancos centrais de parar com a política de restrição monetária antes do fim da batalha contra a inflação e pela decisão equivocada de limitar os investimentos em recursos internos sem uma alternativa clara durante uma batalha geopolítica. Os governos criaram o seu próprio choque de oferta ao introduzirem opiniões ideológicas no sector energético. As alternativas ainda não são evidentes; a tecnologia e a disponibilidade não foram totalmente desenvolvidas, mas os políticos já decidiram quando a transição deve ficar concluída.

O crude não substituiu o chamado “whale oil” devido a decisões de ambientalistas ou políticos. O petróleo substituiu outras fontes de energia porque era mais fácil de armazenar, produzir e transportar. O crude e o gás natural provaram ser abundantes, fáceis de gerir e economicamente eficientes. Esta é a primeira vez na história da humanidade que a transição energética foi decidida por políticos sem permitir que a tecnologia, a concorrência ou o engenho humano apresentassem uma melhor alternativa, mais flexível e mais económica. As energias renováveis são óptimas, mas são intermitentes e voláteis. Precisamos de permitir que o mundo produza alternativas quando estas possam substituir efectivamente os actuais recursos energéticos sem destruir o nosso estilo de vida e a nossa economia.

Podemos culpar a OPEP pelo aumento dos preços do petróleo, mas o facto é que apenas reagem à fraca procura e aos preços baixos. A OPEP poderá aumentar a produção na sua próxima reunião, mas a realidade é que os problemas de fornecimento de energia foram criados pelos governos ocidentais e podem persistir. Em vez de permitir a concorrência de todas as fontes de energia e a alocação de capital para gerar os investimentos necessários à segurança do abastecimento e à transição energética, o que aconteceu é que podemos ter criado uma crise energética por desígnio político. As alternativas não estão disponíveis e os recursos internos que poderiam limitar os preços foram proibidos ou severamente limitados.

A ironia é que qualquer pessoa que entenda de energia sabe que não há transição energética bem-sucedida sem gás natural e energia nuclear, e isso requer incentivos para investir na segurança energética. Os governos não recuarão e preferirão uma descida dos preços da energia proveniente de uma recessão profunda a uma melhoria proveniente da diversificação e do investimento.

Esta pode ser mais uma crise energética criada politicamente. Infelizmente, em vez de aprender e mudar, muitos decisores políticos de países desenvolvidos preferirão impor restrições aos consumidores. Em última análise, o planeamento incorreto desta transição energética não é uma questão de soberania energética ou de alterações climáticas, mas uma forma de controlar os cidadãos. É por isso que muitos governos preferem assistir ao aumento dos preços da energia, porque isso lhes permitirá impor restrições aos consumidores.

Nota editorial: Daniel Lacalle é doutorado em Economia e gestor de fundos de investimento. Frequente colaborador de inúmeros orgãos de comunicação internacionais, é analista muito reputado e um dos mais influentes economistas de Espanha. Tradução do artigo original de 17/set/2023 pela Oficina da Liberdade.

Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.