Foram divulgados recentemente os dados definitivos do Censos 2021. A sua análise, mesmo que superficial, vem confirmar preocupações deveras preocupantes!

A População Residente Total (PRT), 7% da qual de nacionalidade estrangeira, é pouco mais de 10,3 milhões, dos quais 45% vivem acotovelando-se nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto.

A Esperança de Vida à Nascença aumentou para os 81,5 anos, quase 5 anos mais que em 2001 e 18 mais que em 1960, o que é uma boa notícia: morremos mais tarde!

A má notícia é que, correspondentemente, estamos a envelhecer, constituindo Portugal, já hoje, o  3º país mais envelhecido da União Europeia. Por um lado, o número de Idosos – cidadãos com idade igual ou superior a 65 anos – subiu cerca de 21%, de 2 para 2,4 milhões entre 2011 e 2021, representando agora quase 24% da PRT. Por outro lado, com a idade média da Mulher ao 1º filho a subir dos 26 anos em 2001 para os 31 em 2021 e o Índice de Fecundidade Sintético a ‘despenhar -se’ de 3,2 em 1960 para 1,3 em 2021, o número de nascimentos por ano reduziu-se drasticamente, de 214 235 em 1960 para 79 582 em 2021, não obstante o valioso contributo dos cidadãos de nacionalidade estrangeira, cujos bebés já representam 14% do total de nascimentos.

Consequência, o número de Jovens – cidadãos de idade inferior a 15 anos – registou um decréscimo muito significativo de 1,6 milhões em 2011 para 1,1 milhões em 2021, menos 500 000 jovens em apenas 10 anos, representando agora somente 11% da PRT.

A conjugação destes dois factos é, portanto, uma muito má notícia: o Índice de Envelhecimento, se aferido pelo ratio “Nº Idosos / Nº Jovens”, evoluiu de 1,3 em 2011 para 2,2 em 2021, suscitando apreensão no plano da Sustentabilidade.

Pior notícia só mesmo o efeito ‘Dentista’: quando se pensa que o pior já passou, apercebemo-nos de que o pior, afinal, ainda está para chegar!… Estimativas credíveis para 2050, referem que a população idosa ascenderá a 3,2 milhões, 34% da PRT e a população jovem a 1,0 milhão, catapultando aquele índice para 3,2… Para mais, a mesma fonte revela ainda que, em 2070, mesmo com o efeito amortecedor da Imigração, que então representará 14% da PRT, esta evidenciará uma redução de 1,8 milhões de indivíduos.

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Como chegámos aqui?

As ‘luminárias do pensamento do costume’ invocarão, de imediato, no plano do racional, a guerra
colonial e a industrialização dos anos 60 do século passado, enquanto factores detonadores de
migrações internas – para além da assimetria do povoamento do território, acabaram por separar
gerações e justificar famílias de dimensão mais reduzida –, o desaparecimento do mercado de
arrendamento para habitação e o progresso da medicina no aumento da esperança de vida, entre
outros, como motivos de 1ª ordem.

A questão deve, contudo, recentrar-se, também, noutro domínio; como proferiu para a posteridade
Confúcio “aquele que não prevê coisas longínquas, expõe-se a desgraças próximas”. Foi o que fizeram gerações e gerações de pais ansiosos, ávidos de vida melhor, manifestando uma ‘miopia transgeracional’ degenerativa da pior estirpe do Egoísmo: o Egocentrismo com laivos de crueldade porque à custa dos descendentes, encontrando justificação, naturalmente fora de contexto, em Keynes quando disse “A longo prazo, todos estaremos mortos!”.

A questão, na sua derradeira instância, reveste-se de natureza filosófica, metafísica, não apenas, portanto, mística ou religiosa e constitui o magno desafio que o Criador colocou ao Ser Humano: com uma expectativa de vida na vizinhança dos 70/80 anos, incumbiu-o de tomar decisões, tornando-se delas refém, cujos efeitos se começarão a sentir, apenas, dezenas, centenas de anos depois… Desafio colossal só resolúvel mediante o apelo a um valor crescentemente escasso, independentemente da matriz cultural dos povos: a Fé!

Como Paulo escreveu aos Hebreus, a Fé é “a garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêm.” (He 11:1), acrescentando, contudo, quando se dirigiu a Tiago que “a Fé, sem obras, está morta.” (Ti 2:26).

Este é, pois, o divino Desafio: o desafio da Fé, o desafio de agir com Fé. Mas agir com Fé, já!… para que os efeitos da acção comecem a acontecer ainda este século!

NOTA: O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.