O milénio anterior ficará registado na História de Portugal como o da aventura da independência. Independência iniciada no século XII, com a revolta de um filho contra a mãe, confirmada em inúmeras batalhas contra inimigos estrangeiros, ora de protecção ora de expansão do território, ampliado nos séculos XV e XVI com a fundação de um império colonial ‘onde o sol nunca se punha’.

O que é possível constatar é que, enquanto as questões se resolveram pela força das armas, Portugal pôde manter a sua independência. Pôde mantê-la ainda quando passaram a resolver-se pela via da política. No momento em que a independência passou a jogar-se no domínio económico, o País claudicou.

No dealbar do milénio anterior, Portugal parecia já não ter condições para resistir, primeiro, à ‘invasão espanhola’ e, segundo à ‘invasão europeia’. Muito menos à maturidade do processo de ‘globalização’, cujo embrião concebeu com os Descobrimentos.

Do milénio em curso, Portugal poderá (deverá?) esperar a perda da independência!

Independentemente de variações circunstanciais, tantas e tantas vezes manipuladas no sentido da indução de falsas percepções, a economia portuguesa definha e não revela capacidade para competir com as grandes e, até mesmo, com as pequenas economias da Europa. Se, por força da ‘globalização’, a amostra fôr o Mundo, o cenário não melhora, substancialmente, em termos absolutos.

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A agricultura, já em declínio no final do milénio anterior, acentuou a tendência e 60% dos alimentos que comemos são já importados. A indústria não resiste(iu), salvo excepções, que o são mesmo, à perda de competitividade decorrente do factor ‘dimensão’, inibidor do fenómeno das ‘economias de escala’, por um lado e, por outro, dos ‘custos de contexto’ inerentes à que, já tendo sido vantagem comparativa, quando da assumpção da vocação atlântica, agora, com a ‘europeização’, se tornou a desvantagem competitiva típica das nações periféricas.

Os subsídios compensatórios da União Europeia, ao longo de quase quatro décadas, têm vindo a servir, em larga escala, directa ou indirectamente, para alimentar o ‘oportunismo preguiçoso’, habituando-nos a viver à custa de outros, fomentando uma ética de subserviência, legitimando uma cultura de dependência e fomentando hábitos de consumo que não têm qualquer correspondência com a riqueza produzida, legitimados indecentemente com o chavão da ‘globalização’.

Daqui a mil anos, é muito provável que Portugal não seja já um Estado: seja pouco mais que uma região costeira.

Uma extensa costa, com o atractivo de se situar no extremo ocidental da Europa, que os europeus (muitos? alguns? poucos?) escolherão (ou não…) para passar uns dias ao sol – se a desertificação, consequência provável das alterações climáticas, o permitir… – e comer algum peixe e marisco, se a sua pesca ainda nos fôr permitida pela ‘numenklatura’.

O interior dessa cada vez mais estreita faixa costeira – mais uma vez as alterações climáticas a ‘ditar as suas leis’…- será, porventura, um deserto com ‘meia dúzia’ de pontos de interesse, relíquias do passado, testemunhos de outros tempos, onde os turistas, que não se contentem com o ‘virtual’, pararão para umas compras típicas e tirar umas fotografias, se estes hábitos ainda persistirem…

O milénio anterior foi o da aventura de um pequeno povo, localizado nos confins da Europa, que conquistou a sua independência, teve uma expansão fulminante e entrou em declínio. Este milénio, com a perspectiva acrescida conferida pelos escassos anos já decorridos, dificilmente reservará a este povo, cuja recessão numérica acelerada coloca, em abstracto, o dilema ‘Miscigenação ou Extinção?’, qualquer papel de relevo…

É terrível pensar assim?

Por vezes é necessário ganhar distância em relação ao que somos, observar a realidade para além da nossa circunstância, sair de nós para nos observarmos de fora, para estruturar o pensamento e a reflexão…

A verdade é que a História não tem um fim!…

Nenhuma conquista é definitiva!…

Nenhuma etapa é a última!…