Qualquer pessoa de bom senso esperaria que o novo governo da AD aproveitasse a oportunidade do debate na Assembleia da República sobre o Estado da Nação para apresentar ao País uma estratégia de desenvolvimento e de crescimento económico, com dois ou três elementos motores da transformação da política e da economia nacionais.  Poderiam ser os que defendo há muito, a educação e a industrialização, ou outros que o governo considerasse mais importantes no sentido de arrastarem o País na direcção do desenvolvimento e do crescimento económico. Infelizmente, nada disso aconteceu, e o tempo do debate é gasto no habitual frenesim dos ataques político/partidários.

Acredito que se aquilo que preconizo tivesse sido feito o governo e os partidos que o apoiam teriam saído pela porta grande, criando uma atmosfera política favorável para posteriormente apresentarem propostas mais detalhadas a integrar nos grandes objectivos estratégicos definidos, se possível propostas devidamente quantificadas, com datas de excecução e os resultados previstos. Ou seja, seria uma profunda mudança relativamente aos governos anteriores do PS, o que conduziria a melhores resultados políticos do que as meras acusações que fazem a alegria de alguns meios de comunicação.

No sentido de ajudar a definir uma estratégia tenho para mim algumas certezas:

(1) os apoios da União Europeia divididos por uma miríade de objectivos não terão quaisquer efeitos transformadores;

(2) o crescimento económico acima dos 3,5% de média anual é essencial para a realização das mudanças necessárias;

(3) as exportações portuguesas, num país com um pequeno mercado interno, terão de crescer rapidamente até um mínimo de 70% do PIB, como a base para maior crescimento futuro;

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(4) os apoios do Estado devem ser canalizados para a industrialização de grandes empresas, nomeadamente estrangeiras, no sentido de criar mais e melhores empregos, oriundos principalmente das pequenas empresas que sobrevivem em más condições económicas e financeiras e com baixos salários e baixa produtividade, ou seja, tal como aconteceu com a AutoEuropa que esteve na base do aparecimento de centenas de novas empresas industriais;

(5) A logística de qualidade é essencial para a atracção do investimento estrangeiro de empresas industriais integradoras;

(6) a inovação será o principal elemento para o crescimento das empresas de base nacional;

(7) a maior distribuição da riqueza produzida não pode crescer acima da produtividade;

(8) os custos dos factores que mais afectam o sector industrial, como a logística, a energia e os impostos, terão de ser controlados e serem um elemento da atratividade do País.

Dito isto, parece que estou a ouvir os teóricos da economia a dizer que o futuro da economia portuguesa são as novas tecnologias, a investigação, os quadros altamente especializados, os novos sectores industriais e não só. Descansem os teóricos, eu até concordo, mas nas condições existentes na sociedade portuguesa, nomeadamente na educação, essa visão não é realista no curto prazo, e não será com impostos mais baixos para os jovens até aos 35 anos que o panorama mudará em tempo útil.  Essa é a razão por que considero necessária uma revolução no sistema educativo, nomeadamente nas creches e no pré-escolar, de forma que todas as crianças, as pobres, as remediadas e as ricas, tenham um desenvolvimento semelhante até à entrada no ensino oficial. Desenvolvimento baseado não apenas em alguns conhecimentos, mas também e principalmente nos comportamentos e nas competências. Essa revolução que preconizo passa por instalações da mais elevada qualidade, por educadores qualificados, pela alimentação e por transporte que garanta a assiduidade e a pontualidade. A ideia é que as crianças bem tratadas na infância lutem na adolescência através do estudo e na vida adulta através do trabalho, para não serem pobres.