O farol está plantado na costa à beira mar. Silencioso e enigmático. Dá conta da sua existência pelo seu jogo de luz e sombra. Presença, ausência. Ora ilumina e sossega, ora ensombra e pode dar medo. A alternância do seu movimento pode provocar em simultâneo alento e desalento. A luz dá-nos conta da realidade visível (objetiva). A sombra dá-nos conta da realidade (subjetiva) ligada mais à imaginação e projeção da realidade invisível que habita no mundo secreto da nossa psique.

Platão, na Alegoria da Caverna,  sublinha que o paradigma do conhecimento e da razão é a luz. É a luz que dá nitidez ao mundo inteligível. Mas, não se desvalorize o escuro e lembremos a obra notável do ensaísta japonês, Junichiro Tanizaki, que publicou em 1933 o Elogio da Sombra. Ao longo do livro, deparamo-nos com uma teoria que coloca a sombra no lugar do recolhimento, do tempo de espera que antecede a decisão do que fazer com maior clareza. É precioso este paradoxo do visível e invisível na tomada de consciência do que vemos na realidade externa e interna para obter um maior e verdadeiro conhecimento de nós mesmos.

Fixar o nosso olhar sob um farol coloca-nos na posição de viver dentro de nós o ilogismo da busca da verdade boa e má, luminosa e sombria, perceptível e imperceptível, elucidada e oculta, exata e confusa.

Lembremos o Farol em duas luzes de Edward Hopper (1927). A paisagem solitária e um tanto melancólica. A força da representação pictórica do farol. A quietude do enquadramento capta a nossa atenção. O impacto estético provoca-nos reflexão.  O farol é impetuoso. Deslumbra-nos.  Os faróis são encantadores e sedutores. E porquê?

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Os faróis fascinam-nos porque nos inspiram segurança. O farol é um elemento inspirador porque nos dá matéria para sonhar e pensar. O farol pode representar um paterno protetor e convoca-nos o lugar da terra firme onde podemos sossegar e aliviar das possíveis tempestades que atravessámos com os peixes do mar. A sua luz é também o sinal de esperança e orientação. A sua edificação fálica é sinal de força, vigor, estrutura estável, típica da retaguarda paterna mais do que a outra possibilidade hipotética de alusão atributiva também ao sexo masculino.

Perante as dificuldades da vida, saber que há um alguém farol que nos ilumina e orienta, permite-nos navegar com maior segurança e ousadia para nos aventurarmos a enfrentar a força das marés altas. Desejamos todos poder contar com uma referência sólida, humana, ideológica, que nos guie sempre a um bom porto.

anaeduardoribeiro@sapo.pt