Uma em cada cinco pessoas, já contactou a com a sensação de extrema ansiedade, que equivale a uma sensação de pânico.  Acontece muitas vezes não haver uma causalidade directa para explicar a inesperada turbulência interna sentida.

As crises repentinas que ocorrem traduzem-se por um extremo medo inexplicável, taquicardia, suores, tonturas, vómitos, dificuldade em respirar, sensação de desmaio ou morte iminente, dormência, visão turva, desrealização (sensação de desconexão da realidade, como estando a ver-se através de uma parede de vidro ou tudo meio nubloso,  sensação do que se vive ser meio irreal) e despersonalização (parece que se sente fora do próprio corpo ou que os pensamentos não são seus).

É comum na primeira crise a pessoa ir parar ao hospital por não compreender de imediato o que lhe está acontecer, e, associar o mal estar físico à possibilidade de um enfarte ou outro tipo de acidente cardiovascular. Defronta-se nas urgências com a toma de um calmante e a recomendação para procurar ajuda psicológica.

Somente a partir deste susto é que se coloca em causa o ritmo de vida, com as pressões das tarefas associadas, escolhas, fantasmas, angústias, tristezas, relações. A partir do corpo, que primeiro falou, equacionam-se possíveis afectos recalcados. Com as sensações corporais ampliadas, perscruta-se o estado emocional. Que sentimentos mais profundos, experiências passadas, expectativas futuras, eventuais traumas, podem influenciar a angústia presente?

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O mecanismo natural de ansiedade desencadeada para fazer face ao perigo iminente, numa perspectiva darwiniana, como estratégia de preservação da espécie num contexto de sobrevivência, são importantes ser activadas e é suposto acontecer. O problema é quando as respostas fisiológicas incorrem paralelamente a reacções emocionais fruto de uma visão distorcida da realidade, sentida como ameaçadora, quando não há a necessidade de incitar tais mecanismos de sobrevivência. Trata-se já de um fenómeno complexo, quando alguém age tal presa a ser caçada na selva e vive num constante estado vigilante por causa dos prováveis predadores. Se metaforicamente, poderão ocorrer em determinadas fases da vida, momentos desafiadores para superar factores externos assustadores, reagir à letra ao sentido figurado, perturba o equilíbrio mental.

É verdade que o elevado índice de ansiedade é um grande mal estar da sociedade actual e raras são as pessoas que passam ao lado deste desconforto tão entranhado no quotidiano. O ritmo desenfreado, num andar em bicos de pés para o futuro, acrescido do sentimento de falta de segurança e de uma sensação de falta de controlo, compromete a paz e a liberdade interior.

Já Freud, nos finais do século XIX, falou do desamparo como a angústia primordial dos sintomas de ansiedade. Dividiu três fontes possíveis da ansiedade: medo de algo objectivamente externo, medo de punição devido a um sentimento de culpa e um medo difuso, sem reconhecimento algum da origem do temor – muito comum nas situações de pânico.

O medo catastrófico altera a percepção da realidade; tanto como se olha e interpreta a realidade externa, como se sente a realidade interna. As reacções consequentes são desajustadas e influenciam comportamentos desadequados. O bem estar psíquico fica afectado e a pessoa pode ficar a sofrer cada vez mais para dentro e a sentir-se sozinha e isolada no seu sofrimento.

Sentir a falta de um porto seguro e de relações seguras, aumenta os níveis de ansiedade. A pressão que pode ser sentida no trabalho, a expectativa perante uma experiência de mudança de vida, defronte uma situação de provação, pode desequilibrar a estrutura de alguém que já não se sente à partida seguro e protegido. É de extrema importância a pessoa sentir que conta, ora com outros que lhe sirvam de apoio, ora por uma parte íntima que vive um sentimento de confiança e firmeza em si mesmo.

Pode também acontecer que uma excessiva expectativa com resultados a atingir no futuro, cause tensão e medo de que não se suceda o que se espera. E, quando esta tensão é em excesso e intensa, pode desencadear uma espécie de fenómeno paralisante. Não se anda para a frente, vê-se turvo o caminho que vem de trás e o presente é inundado pelo temor. Meio estonteante, esquece-se a linha da continuidade de uma estrutura edificante do próprio ego e é-se engolido pela angústia suscitada pela ansiedade.

A intensidade, persistência e continuidade dos sintomas de ansiedade ganha valor clínico, aproximando-se de um possível transtorno de ansiedade generalizada, quando inviabiliza a rotina “normal”. Aqui, é de extrema importância procurar ajuda psicológica. Num contexto psicoterapêutico, procurar compreender com maior profundidade os medos encapotados que estão a interferir no bem estar psicológico. Quanto maior for a consciência das possíveis fontes de conflito interno, maior será a capacidade de pensar e contornar o desequilíbrio emocional sentido. Jamais se controlarão factores externos desencadeadores de ansiedade mas a forma de lidar com os mesmos poderás ser amenizada.

anaeduardoribeiro@sapo.pt