Não é fácil dizer não. Nomeadamente para quem gosta de agradar e se preocupa com o bem estar dos outros. O desejo de ir ao encontro dos outros, pode por vezes, contrariar o seu bem estar. Não quer desiludir os outros ou há uma parte de si, que se confunde a achar que se estiver sempre disponível e a concordar com o que que lhe é pedido, passa a ser bem aceite, pessoa apreciada, admirada e gostada?

O ideal do ego é uma dinâmica psíquica que ocorre de acordo com o modelo que se constrói, normalmente a partir das referências parentais/educacionais, e relaciona-se também com o peso da influência superegóica.  Este ideal do ego vai contribuir para tecer aspirações e ideais que a pessoa faz por cumprir, por achar que assim põe em práctica o que deve ser.  Neste registo, diz-se mais vezes sim e menos vezes não. É-se obediente à ideia de se sentir que se está a fazer o que é certo, o que deve ser.

Mas, é efectivamente certo não impor limites? Como pode ser errado dizer não, quando tal é em função de preservar o cuidado com o próprio? Quantas tarefas se acumulam por não se dizer não? Quantas relações destrutivas se aguentam por não se dizer não? Quantas ilusões se criam por não se dizer não? Quantas maleitas físicas aparecem por não se dizer não? Quantas dificuldades surgem na relação com os filhos por não lhes dizer não?

É importante manter um equilíbrio entre os sim’s e não’s. É importante imperar a noção da realidade do que é possível e impossível. É importante ser capaz de se afirmar e não sobejamente se anular.

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Por volta dos 2/3 anos uma criança começa a dizer não. Diz não como uma forma de afirmar a sua vontade própria, de conquistar a sua autonomia. Tem noção da diferenciação entre si e o outro, e procura nesse sentido o reconhecimento da identidade em construção que ambiciona vincar. Claro está, que se estiver permanentemente a evidenciar-se e a dizer que não a tudo, torna-se insuportável socialmente e veicula sobretudo conflitos. Fará parte da sua aprendizagem mediar a sua vontade e a dos outros, afirmar-se e ceder. Se, ao contrário, for demasiado conciliadora e não for capaz de se fazer prevalecer, ficará encolhida e pouco confiante.

A criança, ao longo do seu desenvolvimento, vai gerir dizer não e integrar também a capacidade de ouvir não. Afinal, terá de compreender o balanço em colocar limites mas também entender os limites da realidade. Umas vezes imperar, outras vezes, frustrar-se.

Não é o adulto também confrontado com a necessidade de encontrar este equilíbrio? De defender o seu amor próprio sem cair no colorido narcísico? De lutar umas vezes para estabelecer limites às demandas externas,  em prol da sua defesa e outras vezes, de aceitar outros limites  externos, em função de que não pode ser sempre tudo como se quer?

A força do não assume a polaridade da coragem e da resistência. A importância do não influi no discernimento de destrinçar o que explicita e implicitamente lhe faz bem, de deitar fora o que é dispensável e não precisa carregar como mais um peso na sua vida. Analisar o que sim, deve manter porque lhe é benéfico e o que não deve suportar mais porque lhe é nefasto, é crucial para conseguir delimitar o seu equilíbrio físico e emocional.

Ser capaz portanto de dizer não a situações que lhe são desfavoráveis, é legítimo. Interiorizar e assentir o não que traça idem os limites dos outros, é aceitável.

anaeduardoribeiro@sapo.pt