A transformação da saúde digital veio realçar a necessidade de todas as entidades da indústria e prática médica operarem e manterem os pacientes no centro da prática clínica. O conceito do cuidado centrado no paciente adopta uma perspectiva consciente do paciente, nomeadamente a importância das interações do paciente com os prestadores de serviços e instituições. Esse esforço, em termos de centralização do paciente, influenciou as diretrizes e políticas nacionais em vários países e organizações, incluindo os EUA, Reino Unido, a UE e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Quando o paciente interage com o sistema de saúde, o mesmo fala com vários intervenientes ao longo do processo. No entanto, a saúde tem tomado direções inesperadas, incluindo colocar a centralização no paciente em circunstâncias maiores que estão a transformar a Medicina do século XXI.

O sistema de saúde faz parte de um ecossistema, um conceito maior onde atuam várias entidades centradas no paciente. Aqui a chave é o facto de haver outros intervenientes anteriormente não incluídos no sistema de saúde tradicional, como é o caso de empresas de Big Tech ou inovadores de soluções em saúde digital. Para além dos pacientes interagirem com o sistema de saúde, os intervenientes do sistema interagem também entre eles para a manutenção do bem-estar e cuidado centrado no paciente. Este novo paradigma de saúde colaborativa está a construir um novo ecossistema multipolar, incluindo hospitais e outros centros de saúde, empresas presentes na indústria médica, universidades, associações de pacientes, startups e SMEs, fundação e NGOs, entre outras instituições governamentais e regionais. Aqui, a colaboração é a junção de capacidades, interesses e conhecimento entre todas estas entidades presentes no ecossistema, com o propósito de criar iniciativas inovadoras ​​de mudança, e ir muito além da relação médico-paciente.

Dentro deste novo ecossistema todos partilham informação, engajamento e responsabilidade. Consequentemente, tanto o conhecimento como a tecnologia estão a convergir e a ultrapassar fronteiras entre as entidades. Logo, existe a necessidade de todas elas se agregarem e formarem consórcios de exploração de sinergias possíveis, em primeiro lugar para a cooperação na entrega de serviços, planos de formação profissional, inovação e investigação, e, em segundo lugar, para a reflexão sobre como a saúde está organizada e direcionada para a inovação, com a respetiva definição de requisitos e ajuda na implementação e participação de projetos piloto.

Estes objetivos não são só comuns ao sistema de saúde, mas também à estratégia de saúde digital a adoptar. Apenas através de colaboração será possível para as entidades implementarem iniciativas inovadoras para além dos projectos-pilotos e realizar soluções sustentáveis ​​e eficazes para ir ao encontro das necessidades da transformação da saúde de hoje e para o futuro. Sendo necessário, considerar o valor que cada entidade aporta, propor melhorias conforme as necessidades de cada um, mas encarar a solução como um ecossistema.

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Precisamos de uma transformação digital da saúde que respeite as entidades envolvidas e que seja ousada o suficiente para avaliar de forma colaborativa o que é necessário, o que não funcionou, o que é exagero e o que traz valor. Onde a mudança é necessária para melhorar a qualidade, a disponibilidade e o valor do atendimento, o que precisa de ser interrompido e o que vale a pena substituir ou adicionar no vasto panorama das evoluções digitais da saúde. Os hospitais ou as instituições governamentais são apenas duas peças neste ecossistema. A chave do sucesso de uma transformação sustentável da saúde do futuro está também nos restantes intervenientes. Onde podem as empresas, associações, startups e SMEs, fundações, entre outros, aportar valor, sugerir melhorias e contribuir no desenvolvimento e implementação de novas soluções?! A solução está na colaboração!

Maria Raimundo, 31 anos, é Engenheira Biomédica com mestrado em Empreendedorismo e Inovação em Saúde. Trabalha atualmente na Beta-i, consultora de inovação colaborativa, como Senior Account Manager, promovendo inovação de soluções digitais em Saúde em todo o ecossistema. Para além disso, a Maria contribui para o grupo de trabalho do projeto Moving Genomics to the Clinic, do World Economic Forum. Ao frequentar o programa de doutoramento do MIT Portugal, a Maria focou-se nos desafios da utilização e partilha de dados genéticos. Os seus interesses em eHealth, medicina personalizada, genética, nutrição e inovação levaram-na às Nações Unidas, ao MIT, para além de experiência profissional em startups. Juntou-se aos Global Shapers Lisbon Hub no final de 2019.

O Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.