O ano de 1989 parece tão distante, mas na verdade foi ontem. Queda do muro de Berlim, liberdade para os países marxistas da União Soviética, tombo do socialismo autoritário que aterrorizava o mundo. Começou a respirar-se melhor. Uma onda de otimismo varreu a Europa e populações sob o jugo da tirania abraçaram sociedades abertas e cada vez mais unidas. Depois de experiências falhadas em todo o mundo, os adoradores de Marx fugiram de um lado para o outro, depois de descoberto o pântano das atrocidades, da miséria e da barbárie humana.
Lembro-me de ver na TV o concerto dos Pink Floyd na renascida Berlim, a celebrar a queda do muro de ferro e o nascimento de uma nova ordem mundial. Mas quem achava que o marxismo tinha sido aniquilado de vez, estava bem enganado. Apenas se reagruparam e mudaram de tática, colocando-se em lugares-chave da sociedade e eventualmente conquistando o poder através do controlo da cultura, da educação e da comunicação social.
Mas porque é que os adoradores de Marx, com todas as suas denominações, têm tanta resiliência e conseguem contaminar tantos jovens? Um investigador chamado Sam McFarland fez uma pesquisa em 137 membros do Partido Comunista Soviético, precisamente em 1989, chegando à conclusão da “existência de relações tipificadas universais do fundamentalismo e das orientações religiosas” ou, por outras palavras, que o comunismo é como uma religião. Aqui vou mais longe e estabeleço um paralelismo do marxismo com perturbações de personalidade, introduzindo a questão sobre até que ponto tem as características de uma doença mental.
Os transtornos mentais descrevem qualquer anormalidade ou comprometimento de ordem psicológica, sendo que atingem cerca de um quarto das pessoas nos países desenvolvidos. Cada vez nos deparamos mais, por exemplo, com jovens que têm a sensação de direito a exigir admiração constante e excessiva. Mas a perceção exagerada da própria importância, é acompanhada de falta de empatia. Neste caso, estamos a falar de narcisismo e de pessoas que chegam a um nível tal que consideram que elas próprias vão fazer resultar uma ideologia tentada e falhada vezes sem conta, responsável pela miséria e o massacre de milhões de seres humanos. Mas recusam-se a ver para além do seu hedonismo e vivem em pequenos mundos românticos onde um dia são revolucionários heróicos como o Che Guevara (na verdade era um psicopata homofóbico), noutro são filósofos como Franz Fanon (incentivador de violência extrema na África e na Ásia) ou jornalistas livres como Robert Fick (apoiante do regime talibã e amigável com terroristas do médio-oriente).
Também muito comum entre marxistas, é a caraterística vincada da dialética do oprimido e opressor. Dividem as pessoas em classes sociais, raças, sexo e tudo o mais que conseguirem. Por isso revelam-se paranóicos, fazem-se de vítimas e tem tendência a ser quezilentos, hostis, reivindicativos e com a mania da perseguição. Principalmente nas redes sociais, confrontam de forma violenta quem não concorda com eles. Por outro lado, têm grande dificuldade em compreender situações do mundo real ou em confiar fora do próprio círculo, o que revela um comportamento esquizoide. Como as suas crenças ideológicas têm um poder castrador, não têm interesse no efeito que as suas ações podem ter nos outros. É maior o desejo extremo de obedecer a livros poeirentos e agradar e meia-dúzia de camaradas, do que ter uma rede de amigos e confidentes.
O distúrbio de personalidade antissocial está intimamente ligado a comportamentos que revelam desrespeito pelas regras e pelos direitos dos outros, ocorrendo sobretudo com elementos de base anarquista ou jovens que acabaram de chegar a partidos ou organizações, pretendendo agradar e alcançar uma posição superior. Se perdurar, são iniquidades que podem durar uma vida inteira. O mesmo acontece com o borderline, que habita numa dualidade maniqueísta a preto e branco: os socialistas e os neofascistas, os revolucionários e os reacionários. Vivendo nesta situação limite, refugiam-se constantemente nas redes sociais ou nos grupos políticos, onde depressa mudam de opinião sobre as pessoas. Não aceitam críticas, oscilando entre os complexos de superioridade moral e o sofrimento autocompadecido de membro de minoria. Já a personalidade histriónica é cada vez mais habitual e até exacerbada pela internet, a televisão e a comunicação social, onde podem exteriorizar as manifestações emocionais excessivas e a grande necessidade de atenção. O desejo de agradar a meros desconhecidos é incontrolável, seja pela sedução ou provocação, o botox ou a cirurgia plástica, os protestos estridentes ou o ataque a obras de arte da humanidade.
A conclusão é que vale a pena refletir seriamente se os comportamentos extremistas de índole política são fruto de perturbações mentais ou se, pelo contrário, há ideologias que são elas próprias causadoras de transtornos. O marxismo é a mais óbvia, pela forma como contamina pessoas em todo o mundo e não só na Venezuela, Cuba, China e mais recentemente o Brasil. Todo o mundo ocidental, há bem pouco tempo julgava estar a entrar numa era de paz, liberdade, união e desenvolvimento. Mas de repente esta doença regressou, deturpando a mente e a razão em lugares que nunca antes havia alcançado. A única forma de a combater não é com vacinas ou medicamentos, mas através da razão e do conhecimento, da experiência e da ciência. E sobretudo com os valores que construíram a nossa civilização e que ainda a sustêm.