A obsessiva preocupação do governo com o salário mínimo nacional, e de alguns partidos da oposição como o BE e o PCP, enferma de um mal não escrutinado pelos habituais comentadores televisivos e pelos jornalistas da imprensa subvencionada (o que é o mesmo que cartelizada).
A que mal aludimos? Precisamente o de nivelar por baixo os rendimentos disponíveis das famílias portuguesas. Não faltarão muitos anos até que profissionais qualificados (técnicos de saúde, professores, investigadores, etc.) sejam “varridos” com uma remuneração igual ou pouco acima da mínima, ou seja, verificar-se-á a tendência para um salário médio muito baixo comparativamente com os valores praticados nos restantes países europeus.
Por outro lado, é uma forma ardilosa de o governo aumentar as contribuições para a segurança social e assim permitir a diminuição (eleitoralista) da famigerada taxa de sustentabilidade, em relação à qual a própria Europa tem dúvidas.
Em 2014 os suíços rejeitaram em refendo (a prática referendária é habitual neste país, ao contrário de países como Portugal) o estabelecimento de um salário mínimo obrigatório, índice legislativo laboral que acabaram por aceitar em 2020 com a fixação do rendimento mínimo salarial em cerca de 4086 francos suíços (3785€), superior em mais de cinco vezes o nosso. Acreditavam eles na altura da rejeição que a sua implementação acarretaria a médio prazo a diminuição média dos rendimentos do trabalho. Não sabemos o que os fez mudar de ideias, mas o valor estabelecido está muito acima da média europeia, o que lhes dará folga ainda por muitos anos. Itália, Chipre, Áustria, Finlândia, Suécia e Dinamarca, são outros países que não têm, ou não tinham há bem pouco tempo, salário mínimo nacional.
Também o crescente desfasamento entre o IAS (Indexante dos Apoios Sociais), que em 2022 será fixado em 442,7€, é um fator de empobrecimento, porquanto todos os subsídios sociais são em função deste indexante.
A hipocrisia despudorada dos nossos governantes, com o conluio da maioria dos nossos deputados, vai ao ponto de negarem, ou subestimarem, a mais triste das evidências. Na verdade, a inflação prevista e o expetável aumento dos produtos e bens essenciais, fruto também do preço exorbitante dos combustíveis e das tarifas energéticas (dos mais altos da comunidade europeia), insistindo a tutela em manter os 65% de imposto sobre os combustíveis, “comerá” qualquer aumento salarial por mais simpático que seja.
O País precisa de medidas estruturais para salvar a economia e pô-la ao serviço da qualidade de vida dos portugueses, e não de remendos demagógicos e eleitoralistas, para não dizermos populistas, que é termo de que a esquerda caviar, a dos negócios misturados com a política, foge como o diabo da cruz.
Em suma, o aumento do salário mínimo nacional (erradamente designada como retribuição mínima mensal garantida – RMMG – uma vez que há pensões e outros rendimentos muito abaixo deste valor) de 665€ para os propalados 705€, mais do que uma esmola, será um presente envenenado que irá ser “derretido” nos primeiros dias do mês com o brutal aumento do custo de vida, com as taxas e taxinhas a insinuarem-se quais cobras venenosas no nosso espectro contributivo, com o pagamento de testes da Covid (a 25€ cada um), necessários por dá cá aquela palha, e da verba a despender com a aquisição reiterada de máscaras e líquidos desinfetantes a que a crise sanitária obriga.
Os nossos governantes, preocupados com um demagógico crescimento económico (parangona que cava mais o fosso entre ricos e pobres, já de si bem fundo) e não com um desenvolvimento sustentável para todos, estão a dar a pior lição de cidadania aos Portugueses e a afastá-los da participação e intervenção política, criando um povo amorfo, dependente, quer económica quer ideologicamente, isto é, um povo sem esperança nem futuro incapaz de pôr em causa quaisquer medidas governamentais por mais lesivas que sejam.