“Aquelas aldeias vão ter de ir pensando em mudar de sítio”. A frase é do ministro do Ambiente, Matos Fernandes, em declarações ao Jornal 2 da RTP. As aldeias, está bem de ver, são as do Baixo Mondego. O ministro acha agora que a “Natureza tem sempre razão”, o mesmo é dizer que no Baixo Mondego sempre haverá o risco de cheias — o que é verdade. Vai daí, mudam-se as aldeias — o que não faz sentido nenhum, pois naquelas terras sempre se soube o que eram cheias.
Se não estivesse em Portugal quase a chegar a 2020 pensaria que estava na União Soviética dos tempos de Estaline, quando também se pensava que se podia ultrapassar os incómodos colocados pela Natureza transferindo aldeias ou mesmos populações inteiras de um lado para o outro. Mas não: esfreguei os olhos e confirmei que estava mesmo em Portugal, na véspera de Natal, a ver imagens do Baixo Mondego inundado e a assistir aquilo que já estranhava não estar a acontecer, ou seja, a começar a ouvir ministros a dizer disparates.
Confesso que passei o fim-de-semana curioso à espera de ver qual seria o primeiro político a atribuir a culpa das cheias às alterações climáticas. Suponho que a época natalícia foi bondosa para o Bloco de Esquerda, e Catarina Martins, talvez por ainda se recordar do disparate do “grande problema da evaporação nas barragens”, manteve-se em silêncio. Coube assim a honra de inaugurar o dislate à novel ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, que de visita à zona das cheias lá entendeu considerar que “estas situações vão ser cada vez mais frequentes” pois “este é um efeito claro das alterações climáticas, em que secas severas dão lugar a situações como esta de forte precipitação em que os terrenos não são capazes de fazer a absorção da água”.
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