Se a religião é o ópio do povo, então a ideologia tem sido o ópio da governação.

Os números de óbitos, internados e novos casos está novamente a aumentar.

Nos dois últimos meses houve celebrações do 25 de Abril, celebrações do 1 de Maio, manifestações contra o racismo, manifestações contra as antenas 5G e, ainda, o Sr. Primeiro-Ministro deu o exemplo ao ir assistir a um espetáculo no Coliseu. Tudo isto, coincidência ou não, decorreu no epicentro da esmagadora maioria dos novos casos. É certo que correlação não significa causalidade, mas sem exemplo não há liderança. O exemplo deverá vir de cima, embora raramente venha. Curva-se perante a ideologia e permite ajuntamentos muito frequentados como é exemplo a Festa do Avante, negando todas as outras. É um verdadeiro manguito a todos os portugueses não comunistas. Ainda hoje a CGTP anunciou nove concentrações para Lisboa.

Na sequência deste retrocesso, Portugal surge na lista negra dos destinos de viagem de inúmeros países. Os reflexos sobre o turismo, que justifica dois dígitos do nosso PIB, são devastadores e, com estes novos desenvolvimentos, esperam-se demasiado duradouros. Enquanto isso, o Sr. Primeiro-Ministro exclama “que bom foi poder ver o Algarve sem as filas e as enchentes de sempre”, troçando dos milhares de pessoas que perderam ou vão perder o emprego sustentado pelas “enchentes”. Perante as previsões de quebra de apenas um dígito do PIB, fruto da pandemia, rapidamente concluímos que se tratam de previsões elaboradas por políticos e não por economistas. Esta será, indubitavelmente, a pior crise da história democrática do nosso país.

O Sr. Primeiro-Ministro troçou novamente de mais uma classe profissional, oferecendo pão e circ… perdão, a Liga dos Campeões aos profissionais de saúde como reconhecido esforço por terem posto a sua vida em risco. Com razão, estes profissionais acusaram o ultraje que é proferir tais palavras. O Sr. Presidente da República parece não querer exercer a influência sobre o Governo, limitando-se a visitar fábricas e a preparar terreno para um futuro escrutínio nas urnas.

Quando se referiu a possibilidade de redução de salários por parte dos nossos governantes, estes limitaram-se a refutar a possibilidade como acto de populismo.

A DGS tem como missão a promoção da Saúde e a prevenção da doença, mas acometeu estas funções transformando-se num mero órgão politizado. Assim, foi notória a perda de alguma isenção e lucidez que deveriam pautar a acção de uma entidade com esta importância. A isto, soma-se uma inabilidade de comunicação, com mentidos e desmentidos e necessidade de clarificações com elevada frequência. Numa comunicação “para os outros”, jovens inconscientes, claro, a DGS já recomenda não ir a “festas e convívios com muitas pessoas”. Pois “amigo infecta amigo”. Excepto se for o Avante, onde parece não haver problema.

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A twilight zone da proibição de ajuntamentos de mais de dez pessoas por um ajuntamento de onze pessoas foi absolutamente sintomático, entre outras trapalhadas de São João e não São João que anterior e posteriomente se sucederam.

Como o Governo conseguiu que o PCP e BE pusessem o megafone no saco, nada se passa, nada se diz, nada se critica. Vivemos um aparente estado de apatia em que todos celebrámos um milagre português que nunca aconteceu e em que todos puderam ver que o rei vai nu.

No fim disto tudo, depois de todos os exemplos políticos supra elencados, os culpados são os jovens com as suas festas ilegais. O exemplo deveria vir de cima, mas apenas sabemos que o culpado é, mais uma vez, o que fica por baixo.

As moratórias e o layoff empurram com a barriga os efeitos na economia, como se estes não se tratassem de uma fatalidade. Talvez parte do atordoamento seja um misto desse protelar dos efeitos negativos, juntamente com a preocupação com a doença.

Merecemos mais, merecemos melhor. Merecemos liderança, modelos e exemplos. Não merecemos que nos digam que a perda de rendimento que milhões de portugueses sentiram na pele é populismo, merecemos que aqueles que ditam as regras sejam os que mais as respeitam.

De um cidadão que respeita as regras, que perdeu rendimento, mas dá o exemplo e tenta ser um modelo de liderança para os seus colaboradores.