Segundo uma pesquisa feita com 10 000 crianças e jovens adultos, aqueles que viverão por mais tempo sob os efeitos dessa crise e poderão ser as futuras lideranças para resolvê-la, cerca de 56% consideram que os humanos estão condenados a um desastre climático e se sentem impotentes em relação a isso.

De certa forma, esta percepção é completamente compreensível.

Vivemos um período em que os efeitos das mudanças climáticas são claros: desde os contínuos recordes de temperaturas até aos diversos desastres ambientais, como cheias e ondas de calor extremo.

Associado a isso, a literacia sobre sustentabilidade a que a maioria da população tem acesso ainda é insuficiente. Ao mesmo tempo, apesar do consenso entre a comunidade científica sobre a sua relevância, o tema se tornou relativizado pelo extremismo do atual debate político – fragilizando os necessários avanços nessa área.

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Consequentemente, é natural que as pessoas se sintam mais pessimistas, o que tende a desincentivar as reações individuais a uma problemática cujas consequências são coletivas.

A Economia Comportamental, baseada em parte na fusão dessa disciplina com a Psicologia, também é capaz de trazer algumas explicações para esta situação.

A primeira relaciona-se com o conceito de Difusão de Responsabilidades. Numa crise de dimensões globais, não é tão intuitivo pensar que devemos fazer parte da sua solução – principalmente quando existem outros agentes com maior poder de impacto, como os governos e empresas, e bilhões de pessoas que podem agir em nosso lugar.

A segunda está associada à influência externa em nosso comportamento. Muitas vezes, analisamos a maneira como agem aqueles que nos cercam, para tomarmos decisões coerentes com esse grupo. Dessa forma, no contexto das mudanças climáticas, podemos erroneamente interpretar a comum inação coletiva como um sinal de que não é preciso atuar individualmente.

Por conta disso, tanto os sentimentos de medo, impotência e desinteresse, resultantes do nosso atual contexto, quanto as irracionalidades que permeiam o comportamento humano são capazes, afinal, de limitar a ação individual contra as alterações climáticas.

E não podemos contentar-nos com essa situação.

Acredito que cada um deve, pelo menos, tentar ajustar os seus comportamentos para que estejam mais condizentes com a solução dessa problemática, dentro de sua realidade social, geográfica, cultural e financeira.

Entretanto, é sempre necessário sublinhar que a capacidade de ação não é uniforme na sociedade. Por exemplo, um relatório da Oxfam indica que, em 2019, os 1% mais ricos do planeta emitiram a mesma poluição de carbono que dois terços da humanidade. Por isso, não há dúvidas de que existem agentes que contribuem mais para o problema e devem, por conseguinte, aderir de forma mais intensa às suas soluções.

Então, o que podemos fazer, como indivíduos, nessa situação?

Estima-se que 65% das emissões de gases de efeito estufa estão direta ou indiretamente relacionadas com o consumo doméstico e um estudo quantificou o seu impacto, baseado em diferentes elementos do nosso quotidiano.

Em suma, utilizar meios de transporte coletivos ou ativos, optar por energias renováveis nas residências e adaptar a dieta para incluir mais opções à base de plantas são algumas das opções eficazes para reduzir as emissões individuais. Assim, ao praticar as alternativas que nos são acessíveis, podemos tanto trazer impactos positivos para o meio ambiente quanto aliviar a sensação de impotência que se tornou recorrente.

Outra ação relevante é desenvolver o hábito de conversar sobre este tema, para partilhar inseguranças, avanços individuais, dúvidas, entre outros. Muitas vezes menosprezamos a capacidade de impacto de um ato tão simples, mas é nestes diálogos que podemos ter contato com pontos de vistas distintos, inspirar e romper alguns de seus mitos, resultados essenciais para a construção de soluções coletivas.

Acresce que o envolvimento com a política é crucial. O combate às alterações climáticas depende do desenvolvimento de fortes políticas públicas e legislações, capazes de definir como nos adaptamos às suas consequências e evitamos a sua expansão. Assim, eleger pessoas capazes de enfrentar essa crise e cobrar-lhes para que a sustentabilidade guie as decisões locais, nacionais e internacionais é um primeiro (grande) passo.

Enfim, todos temos um papel na superação das alterações climáticas, obviamente com diferentes níveis de responsabilidade. Não creio que ultrapassar essa crise dependa apenas de decisões individuais, mas sem elas poderemos ter menos hipóteses de produzir soluções que sejam efetivas, duradouras e abrangentes, decisivas para o momento em que vivemos.

Observadorassocia-se aos Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.