De repente, há duas ou três semanas, o 1.º ministro decidiu promover a nóvel ministra da Habitação – uma pasta ignorada até então – e fazer deste novo tema mais um desses inúmeros problemas sem solução com que o país tem vivido desde a tomada do poder pela «geringonça» em 2015. Entretanto, a tragi-comédia da TAP prossegue desde a primeira venda falhada no início do século XXI, promovida pelo governo Guterres e assinada por António Costa.
Pretende este agora fazer da habitação um novo objecto de propaganda em favor dos pobres e contra os ricos perante a queda generalizada da economia nacional com a inflação e a perda do poder de compra. De repente, desapareceu a capacidade do SNS para resolver a situação sanitária da população perante a pandemia e agora o soçobro de áreas como a ginecologia e a pediatria frente à queda da fecundidade e ao colapso paralelo da geriatria em relação aos idosos! Perante a situação, o governo embarcou num ataque puramente ideológico à medicina privada que tanto o PS como o PSD tinham vindo a generalizar desde o início do séc. XXI, culminando com a regressão da esperança de vida em Portugal abaixo do 30.º lugar…
Desta vez, o governo não poupou os argumentos mais populistas contra os estrangeiros que têm vindo a adquirir casas e andares onde gozar de melhor clima e contra os estudantes e investigadores que beneficiam das bolsas da UE a fim de contracenar temporariamente com as universidades locais, o que só nos faz bem a todos, quanto mais não seja para aprendermos as línguas uns dos outros!
Só falta ao PS e à auto-proclamada «esquerda» impedir a entrada dos imigrantes que têm vindo a compensar a falta de mão-de-obra, enquanto os jovens portugueses que se apanham com o «curso superior» não hesitam em emigrar para os países da UE onde ganham mais dinheiro e aprendem como se faz. Esta é a realidade populista em que António Costa mergulhou!
Mário Soares pretendeu entrar na futura UE sobretudo para que esta nos protegesse dos inimigos políticos do interior. Hoje, Portugal só subsiste graças ao dinheiro que a Europa não pára de nos dar há 36 anos, enquanto a entrada na «moeda única» há pouco mais de 20 anos só nos fez cair ano após ano na escala dos membros da UE, conforme está reflectido na dívida externa (115% do PIB), a qual só baixou uns pontos porque a inflação aumentou… e os juros também!
Não serão, certamente, as anunciadas manipulações governamentais para conter o aumento do custo da habitação que produzirão qualquer alteração significativa do actual panorama habitacional. Com efeito, nada faz prever uma procura anormal, desde logo porque a população portuguesa continua a diminuir regularmente e não é a imigração que mudará isso de forma significativa.
Se há um número importante de pessoas que necessitam urgentemente de habitação decente, mas não possuem os meios necessários, então o Estado deve constituir um «fundo» destinado a resolver rapidamente tais situações. Segundo os especialistas, ninguém possui mais habitações livres do que o Estado português. Este que anuncie essa disponibilidade e já contribuirá para conter a alta dos preços da habitação!
Não é preciso obrigar os particulares a desfazer-se das habitações que eventualmente possuam: podem necessitar delas ou pô-las no mercado. Finalmente, quanto aos preços, o Estado pode – e já o fez muitas vezes no passado – intervir nos preços de inúmeras maneiras: já estão todas inventadas. Em suma, onde quer o 1.º ministro chegar com esta inesperada intervenção no domínio da habitação que o PS anda a espalhar nos órgãos publicitários sem se perceber porquê nem como? Quanto a mim, é só propaganda!
Com efeito, as principais características do mercado habitacional português são conhecidas e semelhantes às dos países europeus meridionais. A demógrafa Alda Botelho Azevedo publicou há pouco tempo uma síntese completa da habitação em Portugal que merece ser consultada a fim de saber o que realmente se passa no país ou não.
Segundo a autora, havia em Portugal cerca de 6 milhões de habitações em 2018 com pouco mais de 10 milhões de habitantes (2021), os quais constituem por sua vez 4 milhões de agregados familiares, sendo meio-milhão dos habitantes idosos isolados (65 anos+) sempre em aumento. Quanto aos níveis de bem-estar, houve melhorias desde o início do século mas não se esperam grandes mudanças durante a actual crise mundial.
Desde logo, a ausência de políticas públicas relativas a um eventual aumento dos nascimentos e ao envelhecimento cada vez maior da população entregam o país ao seu destino. Em suma, o PS não tem mais nada para dar senão propaganda e arrebanhamento de votos com promessas populistas e mesmo racistas que têm pouca probabilidade de cumprir os desígnios de um partido de manifesta crise.