Rádio, jornal, podcast, televisão. Palavras e expressões como “liberal”, “os liberais”, “o liberalismo”, aparecem múltiplas vezes. Frequentemente, alvo de crítica superficial e de invocação dos “papões liberais” pelos seus adversários políticos, ou seja, ideias erradas mas facilmente comunicáveis e com previsível impacto negativo na opinião pública, com o objetivo de deturpar o que é “ser liberal”.
Mas então o que é isso de “ser liberal”?
Um liberal identifica-se com o Liberalismo, uma corrente de pensamento consolidada durante o Iluminismo dos séculos XVII e XVIII. O Liberalismo desdobra-se em várias correntes e domínios, mas há um conjunto de bandeiras que são clássica e orgulhosamente defendidas por alguém que é “liberal”.
Em primeiro lugar, a liberdade individual. Assente numa visão humanista, cada indivíduo deverá ser o timoneiro da sua vida, gozando da liberdade nos seus mais variados domínios: liberdade de expressão, liberdade de associação, liberdade religiosa e política, liberdade e autodeterminação sexual, não se esgotando a lista. É a liberdade como um todo, para todos os indivíduos. Qual o limite a esta liberdade individual? A interferência com a igual liberdade de outro indivíduo.
Em segundo lugar, o Estado de Direito. Tendo como garantida a liberdade política, um liberal defende este princípio fundamental para a estabilidade e justiça social. O Estado de Direito estabelece que o poder do governo e das suas instituições está sujeito e limitado por leis claras e previsíveis, aplicáveis a todos os cidadãos de forma igual. Ninguém está acima da lei, incluindo os próprios governantes. É um dos valores fundadores da União Europeia.
Por último, a liberdade económica. Aqui, valoriza-se a livre iniciativa (como manifestação de liberdade individual), defende-se a propriedade privada (em oposição ao coletivismo, defendido pelo socialismo e comunismo, em que a identidade, propriedade e interesses individuais estão habitualmente subordinados ao Estado) e promove-se a concorrência. Um liberal valoriza a liberdade económica como motor de empreendedorismo, inovação e investimento, de forma sustentável e amiga do ambiente.
O que não é ser liberal?
Ser liberal não é querer “privatizar tudo”. Ser liberal é aproveitar da melhor forma possível todos os recursos existentes (públicos, privados e sociais), para uma sociedade harmoniosa e próspera e para alavancar a liberdade individual. Sem preconceitos ideológicos.
Ser liberal não é querer “acabar com o Estado social”. A garantia de direitos fundamentais (tais como a saúde, educação e habitação, entre outros) e proteção social em situações de fragilidade (por exemplo, desemprego) será sempre defendida por um liberal. Ser liberal é defender um Estado pouco interventivo na vida de cada um de nós, mas com medidas eficazes (ou seja, capazes de atingir o resultado a que se propõem) e eficientes (fazendo-o com o menor desperdício possível de recursos).
Ser liberal não é defender o “capitalismo selvagem”. Um liberal defende uma intervenção limitada do Estado na economia. Contudo, para evitar potenciais desigualdades, falta de proteção social e eventuais problemas associados à desregulação extrema, um liberal reconhece ao Estado a possibilidade de intervenção para garantir liberdades individuais e direitos fundamentais.
Ser liberal não é “ser de direita”. Esta dicotomia do espectro político clássico não traduz a verdadeira abrangência do que é “ser liberal”. O foco no indivíduo e a valorização da liberdade individual de cada um de nós, permite abarcar políticas económicas tipicamente associadas com a “direita política”. Para além disso, este primado da soberania individual também destaca as preocupações sociais e a defesa da autodeterminação do indivíduo em diversos domínios sociais e culturais, para promover uma sociedade inclusiva, habitualmente conotadas com a “esquerda política”.
Concluindo, o que é isso de “ser liberal”? Em poucas palavras, se vês a Liberdade como o grande motor do desenvolvimento humano, harmonia social e prosperidade económica, então és liberal e não sabias.