Não é só para complicar o acrónimo BRICS que algumas das maiores potências do mundo se juntaram à aliança económica. A introdução dos 5 novos países no dia 1 de Janeiro deste ano pode ter causado algum alvoroço no mundo do comércio internacional.
Inicialmente – e não formalmente – formado em 2009 – sendo que as 5 nações apenas se juntaram no ano seguinte – o BRICS contém os “vilões da ordem mundial”, por assim dizer; com a China e a Russia a liderar a aliança, são acompanhados também pela India, Brasil e a Africa do Sul, que de forma alguma são considerados menos relevantes neste âmbito. É uma organização inicialmente criada para fomentar o comércio entre nações que haviam anteriormente sido alienizadas pelo ocidente. Há quem diga até, e com uma certa razão, que o BRICS tem como principal função agir como um peso a contrabalançar o domínio do dollar americano no mundo internacional.
A instituição compõe mais de 40% da população mundial e é responsável por 28% da economia internacional, por isso excusado será dizer que está numa posição financeira muito favorável se estivermos a olhar por níveis superficiais.
Foi no verão de 2023, no summit BRICS na Africa do Sul, que os 5 novos países (naquela altura, eram 6) foram convidados a juntarem-se á lista de países pertencentes a esta aliança. Estes são nada mais nada menos do que o Egito, o Irão, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, a Arabia Saudita e a Argentina; sendo certo que com a eleição de Javier Milei no ultimo levou á retirada do país de uma aliança internacional que se afasta dos valores pretendidos pelo novo Presidente.
Agora, em 2024, podemos ver uma aliança que é composta pela Russia, a China e o Irão, entre outros. Que mensagem quererão estes três líderes enviar ao mundo, mais concretamente, aos Estados Unidos da America? São três dos países com relações mais turbulentas na história com os EUA, e estão esses mesmos três agrupados numa aliança.
A Russia sendo o que é, a relação desta com os Estados Unidos – que igualmente, é o que é – tem sido atribulada, o que fomenta o desejo da Russia querer posicionar-se contra a liderança dos EUA no mundo ocidental e consequentemente, no mundo internacional. A China também tem um interesse em competir com a hegemonia Estadunidense a nível mundial, e portanto visa adotar uma postura de liderança economica; apesar de, de certa forma, ser algo dependente dos EUA, e vice versa, a China espera que a aliança de que falamos seja uma maneira de se independentizar deste ciclo. Por fim, o Irão e os Estados Unidos estão noutro patamar quando se fala de um ambiente tenso. O Irão está carregado de sanções impostas pelos Estados Unidos, então é dizer-se pouco quando digo que a mensagem do Irão tentar resolver os problemas internos (altamente criados pelas sanções anteriormente faladas) com os rivais dos EUA, é uma muito pesada e cheia de significado.
Outro aspeto que não se pode ignorar da aderência dos 5 novos países ao BRICS é o facto de pelo menos 4 membros da aliança de 10, serem do MENA (Oriente Médio e Norte da Africa, em inglês Middle East and Northern Africa). A “Nova Ordem Mundial” intende com isto demonstrar novos interesses em países ricos e com muito a adicionar á mesa. Ao focar-se no Oriente Medio e Africa do Norte, o BRICS demonstra-se com uma estrategia não só geo-politica mas também económica cada vez mais inteligente e de certa forma intimidante para o mundo ocidental.
Sendo uma aliança aparentemente mais focada em assuntos do Oriente Médio, o BRICS posiciona-se como “oil-centric”, dando assim cada vez mais palco aos países desta area geografica em termos de petróleo e deixando os Estados Unidos a caminhar em bicos dos pés com a entrada da sua “aminimiga” Arabia Saudita na organização. É sabido que os EUA dependem largamente do petróleo da Arabia Saudita em troca de proteção contra forças militares regionais, portanto também é importante sublinhar que a entrada da Arabia Saudita numa alianca que tem como principal foco contrabalancar o poder quase total dos EUA na ordem mundial é algo problemático para este mesmo.
Podemos por isto, e devemos, ter em conta o poder do BRICS e a influencia que este pode ter na ordem mundial. Com alguns dos maiores produtores de petróleo do mundo, e por isso alguns dos mais ricos, numa só instituição, a influência dos Estados Unidos perde cada vez mais poder, e empurra mais países que são considerados azarões ou vilões, a pedir para entrar nesta aliança.
Para além de que, a posição em que os países do BRICS estão, numa aliança até agora económica, envia uma mensagem muito particular ao ocidente: “ninguém nos pôde parar de criar esta aliança, quem sabe qual é o proximo passo?” A realidade é que com esta informação é de se notar que a porta para uma futura e eventual aliança – talvez militar – fica entreaberta, e um ar frio vem de lá, portanto ao que parece, teremos de ficar atentos pela corrente de ar.
Estudante de Filosofia, Política e Sociedade na Radboud University, Países Baixos