Acaba de ser publicada a primeira grande compilação sobre o que se passou no mundo da energia em 2023. Trata-se de um trabalho do Energy Institute, em colaboração com a KPMG e a AT KERNEY, na sua edição nº 73.

A complexa compilação de dados relativos às diferentes fontes de energia que alimentam o mundo, os consumos, as emissões de gases com efeito estufa, por cada país e geografia é um exercício ciclópico. A análise dos dados permite múltiplas leituras que podem encher um compêndio.

Contudo, tentarei apurar os grandes “sinais”, as principais mensagens a retirar das estatísticas. Enfim, conforme veremos, na ótica das emissões de CO2, do recurso às fontes fósseis,  as notícias não são animadoras….

As principais constatações são as seguintes:

  • atingiu-se um máximo no consumo global de energia, com o petróleo e o carvão a levarem a um recorde de emissões.
  • também a geração de eletricidade com base nas tecnologias solar e eólica, atingiram o nível mais elevado de sempre.
  • o conflito na Ucrânia levou a Europa a consolidar uma nova logística no seu aprovisionamento de gás natural.
  • a dependência de combustíveis fósseis nas economias desenvolvidas terá atingido o seu pico.
  • as economias em desenvolvimento lutam por inverter a curva de crescimento do consumo de combustíveis fósseis, embora a China esteja a acelerar o recurso a fontes renováveis.

O consumo de energia no Planeta cresceu 2%. A economia mundial cresceu 3%. O sinal positivo é o facto do crescimento económico descolar do reflexo “linear” no aumento do consumo energético.

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Pela primeira vez na história o consumo de petróleo foi superior a 100 milhões de barris em cada dia!!… O consumo de petróleo e carvão aumentou, enquanto o gás natural estabilizou. Tal deve-se aos preços relativos e também a indisponibilidade de gás. Só a Índia consome mais carvão do que a União Europeia e os Estados Unidos em conjunto.

Enquanto o consumo de energia fóssil tende a atingir o pico nas economias avançadas, continua a crescer nas outras economias.

As emissões de CO2 foram superiores em 2% no planeta, ultrapassando pela primeira vez as 40 GT (giga toneladas) provenientes do consumo de fontes fósseis.

Desde Berlim, há 30 anos, o peso das energias fósseis, na satisfação da procura mundial, passou de 86% para 81,5%, apesar de serem consumidas mais toneladas equivalente petróleo de fontes fósseis do que em 1994.

A China ligou à rede mais potência renovável do que todo o Mundo somado!… Contudo, com 20% da população mundial e 20% do produto, a China consome 30% da energia mundial.

Apenas 1% do hidrogénio consumido tem origem em fontes renováveis.

Dois grandes constrangimentos marcaram a dinâmica do setor energético em 2023: os mercados financeiros e as limitações das redes elétricas.

Constata-se que os países ricos estão a descarbonizar – na Europa o volume de emissões diminuiu — enquanto os países pobres ainda estão numa rota de carbonização.

Enfim, como referi de início, outros dados e várias leituras podem ser retirados da compilação apresentada, registando-se algumas más notícias, mas também alguns sinais positivos com referência ao desejado e necessário caminho para a  transição energética.

Para não alongar registo apenas dois sublinhados:

  • o primeiro é que estamos longe do ritmo de transformação necessário para chegar aos objetivos traçados pela COP 28 no final do ano de 2023.
  • o segundo é a constatação de que existem diferentes realidades, ritmos, estratégias no processo de transição energética, o maior e mais complexo desígnio com que alguma vez nos confrontámos.