O resultado das eleições em Itália surpreendeu muitas pessoas, mas não foi verdadeiramente uma surpresa. A Itália é o país que trará problemas para o euro e para a União Europeia. Se por um lado é too big to fail, o que nas instâncias comunitárias e do BCE joga a seu favor, por outro tem bloqueios e desequilíbrios macroeconómicos severos, não apenas no rácio da dívida no produto, mas também na sua incapacidade crónica de crescer. Ora um país estagnado é o terreno fértil onde a insatisfação aumenta e onde germinam ideias e partidos extremistas e radicais. A vitória de Meloni é o reflexo de um país bloqueado e desiludido, incapaz de se reformar e de se desenvolver.

Um país que não cresce é um país em que as condições de vida da população estão estagnadas. Se vivêssemos uma época em que, por razões de sustentabilidade do planeta, as pessoas estivessem acomodadas, em termos de expectativas, ao não crescimento, isso não seria um problema. Mas não estamos. A maioria entre nós espera melhorias no seu nível de bem-estar. Isto é reforçado por aquilo que Thorstein Veblen escreveu há cerca de cento e vinte anos. Temos tendência a comparar-nos com outros que estão melhor que nós e a nossa satisfação depende disso. Ora no exercício da comparação europeia não nos saímos nada bem.

Um país que não cresce é um país em que os jovens podem encontrar emprego, mas com salários tão baixos que, na primeira oportunidade, vão para o estrangeiro à procura de melhores condições de trabalho e remuneratórias.

Um país que não cresce e tem uma dívida pública elevada, é um país que não consegue reduzir significativamente os impostos. Um país que não consegue remunerar adequadamente os seus médicos, enfermeiros, professores, juízes, auxiliares de ação educativa, guardas florestais, inspetores.

É por isso que o Ministério mais importante deste governo é o da economia, apesar de ter sido, neste governo, expurgado em grande parte da área da transição digital. Sou dos que considera António Costa Silva como um elemento chave para o sucesso deste governo. O regozijo que vejo na oposição (o que é natural), mas também nalgumas hostes socialistas, com as divergências de opinião acerca da baixa da taxa de IRC, é preocupante. Faz-me recordar não tão velhos tempos (2016) em que Mário Centeno era relativamente desconhecido, não tinha ainda apresentado resultados, estava sob forte tirocínio do PSD na Assembleia da República, que o considerava um alvo a abater e já havia algumas vozes socialistas céticas, e ponderando a sua substituição. António Costa segurou-o, e bem, e espero que faça o mesmo com Costa Silva. Mas não basta segurá-lo, é preciso acolher algumas das suas ideias estruturantes para o país.

Portugal tem várias semelhanças com Itália. É também um país que não cresce há cerca de duas décadas. Tem também um rácio da dívida no produto muito elevado.  O lado positivo é que temos conseguido nos últimos anos, com excepção do efeito pandemia, reduzir o peso da dívida e do défice. O lado negativo é que somos um país bastante mais pobre o que faz com que o sacrifício associado a este processo de desendividamento seja relativamente maior. Nos últimos quinze anos tivemos uma crise financeira, uma política de austeridade imposta externamente e alimentada internamente, uma pandemia e agora, uma guerra, que, através da inflação, tem levado ao nosso empobrecimento.

O muito difícil equilíbrio desta legislatura reside nisto: se por um lado é necessário continuar o caminho de consolidação das finanças públicas enquanto a economia estiver a crescer, por outro uma velocidade excessiva fará alimentar perigosamente os populismos e os radicalismos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR