A Direção Executiva (DE) do SNS foi criada e anunciada, há mais de 6 meses, com “pompa e circunstância” (até a cornetas, ou outros instrumentos mais virtuosos, terá tido direito), e talvez até com algum laivo de “Sebastianismo”.

Compreende-se uma e outra circunstância. No primeiro caso, dadas as miseráveis condições a que os últimos anos de governação socialista tem conduzido o nosso SNS; no último, dado o reconhecido (e inegável) mérito do seu principal protagonista, o Prof. Doutor Fernando Araújo (a quem tenho tido o privilégio de chamar amigo).

A maioria, onde me incluo, acreditou que viria aí a tão necessária e urgente mudança.

Mas quando a música para de tocar e de nos embalar (e já parou), habitualmente, a realidade surge, mais nítida, e somos obrigados a encará-la, sem rodeios, emoções, ou falinhas mansas.

Está tudo igual ou pior no nosso querido SNS:

  • Há mais utentes sem médico de família. E continua o fanatismo ideológico, que levou ao fim das bem-funcionantes parcerias público-privadas, a impedir que se avance para modelos de contratualização desse serviço com os privados;
  • Aumentou o tempo de espera para cirurgia;
  • Aumentou o tempo de espera para as consultas;
  • Continuam a sair profissionais de saúde do SNS (os salários e restantes condições de trabalho no SNS não melhoraram, bem pelo contrário);
  • Continuam vários centros hospitalares/ instituições de saúde sem mudança de liderança ou, sequer, sem que a mesma liderança seja nomeada, estando os seus conselhos de administração/direção em “gestão corrente” há vários meses (tenho uma “desconfiança fundada” sobre as causas, mas guardarei recato);
  • Continuam a existir roturas na capacidade de resposta das urgências gerais, com incapacidade para lidarem com “picos” (que se vão “aplanando”) de procura;
  • Continuam a existir urgências de diversas especialidades encerradas, mesmo que de forma mais “ordeira”, mas sem que fique assegurado a todos os utentes o acesso e a segurança que seria necessário e imprescindível. A este propósito impõe-se comentar o lamentável caso do bebé de 11 meses que morreu em Portimão, alegadamente à espera de ser transferido para a Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, onde existiriam os cuidados de saúde de que precisaria. Não é adequado (eventualmente, nem honesto) afirmar-se que “Todos os meios clínicos e técnicos foram colocados à disposição…”, quando o único meio clínico e técnico de que este infeliz lactente precisaria em primeira instância, era uma ambulância, que estava inoperacional por falta de um médico. E as alternativas, menos qualificadas, foram disponibilizadas, aparentemente, bastante tempo depois. Tudo isto acontecendo num quadro de encerramento da urgência pediátrica de Faro, onde essa mesma ambulância está sedeada. Há ainda o caso da morte lamentável do recém-nascido de Santiago do Cacém, num alegado caso de alguma desorientação e eventual perda de tempo (precioso) no transporte e assistência à mãe, novamente num contexto de encerramento de urgências, desta feita de obstetrícia.
  • Continuam a faltar camas de cuidados paliativos (e bem importantes seriam, na oferta da mais do que exigível qualidade de vida, dignidade e diminuição do sofrimento aos doentes terminais, por oposição ou, pelo menos, como alternativa, à eutanásia tão compulsivamente perseguida por estes sucessivos governos socialistas);
  • Continuam a faltar camas de cuidados continuados e, talvez tão ou mais importante, faltam soluções integradas/ integradoras entre a saúde e a segurança social para resolver os casos cada vez mais numerosos e complexos dos doentes, maioritariamente idosos, que não tendo necessidade de continuar internados nos ditos “hospitais de agudos”, também não estão, muitas das vezes, em condições para serem “despejados” na sua própria casa ou na casa de familiares, habitualmente sem condições para os receber e, adequadamente, cuidar (e o carinho, infelizmente, não chega). É cansativo continuar a ouvir falar destes utentes como de “casos sociais” ou “altas sociais”, como se de indigentes se tratassem. Não é qualquer casa que está preparada para receber um doente em cadeira de rodas ou acamado. Não é qualquer familiar que está preparado para as rotinas diárias que muitos destes doentes (pessoas!) precisam. E esta realidade, que também envolve os cuidadores informais que ainda continuam esquecidos, será cada vez mais volumosa e complexa, dado o envelhecimento da população, o número crescente de pessoas sem médico de família e o aumento progressivo do custo de vida.

E se nem tudo será por causa da DE, verdade é que também não encontrou soluções.

Acabou a música de embalo. A DE falhou. Não passou de uma boa intenção, com bons protagonistas, mas que, em rigor, nunca saiu do emaranhado da teia administrativa em que foi criada, esmagada entre muitas outras entidades com competências sobreponíveis, sem conseguir ver os seus estatutos aprovados (ao fim de mais de 6 meses!), sem conseguir ter a equipa e as condições que necessitaria, mantendo-se apenas um grupo de 6 pessoas, provavelmente tristes nesta fase, a tentarem fazer, num barraco anexo ao Hospital de São João, aquilo que, alegadamente, várias centenas nunca conseguiram fazer nas instituições já existentes (ARS, ACSS, etc.).  Será que temos, num lado, excelente liderança sem soldados, e noutro teremos, eventualmente, excelentes soldados sem líderes à altura …não teria sido mais fácil mudar estes últimos? Ou a meritocracia foi mais uma promessa vã desta DE?

Depois do filme “Os 7 magníficos”; do controverso filme de Tarantino “Os 8 odiados”; há agora, em mais uma obra pindérica de ficção de António Costa, “Os 6 tristes no barraco”.

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