Um dos principais motivos de interesse das próximas eleições europeias é que tanto Pedro Nuno Santos como Luís Montenegro estão obrigados a vencer, ainda que por razões diferentes.
Para Pedro Nuno Santos, a obrigação de vencer decorre desde logo da sucessão de derrotas desde que o novo líder do PS tomou posse. Tendo assumido a liderança do PS em Janeiro deste ano, Pedro Nuno Santos estreou-se com uma derrota nas eleições regionais nos Açores em Fevereiro, continuou com uma derrota nas eleições legislativas nacionais em Março e terá muito provavelmente uma terceira derrota nas eleições regionais na Madeira ainda no presente mês de Maio. Se perder as europeias em Junho, conseguirá acumular quatro derrotas em meio ano de liderança, um desempenho a que o PS não está de todo habituado.
Além da possível acumulação de quatro derrotas eleitorais sucessivas para o PS, importa recordar que Pedro Nuno Santos teve um desempenho decepcionante na campanha para as legislativas, denotando excesso de radicalismo e falta de preparação em vários momentos importantes.
Por fim, no que diz respeito ao actual líder do PS, a obrigação decorre também da forte concorrência interna. Pedro Nuno Santos ganhou porque tinha o aparelho do partido na mão e um forte carisma, mas a oposição interna está viva e bem organizada – e certamente não deixará de aproveitar caso a liderança do PS continue a somar desaires sucessivos. Além da oposição, acresce que Pedro Nuno tem a seu lado uma líder parlamentar alinhada com a sua liderança mas que dá sinais de o poder rapidamente transcender. Cada intervenção pública de Alexandra Leitão reforça o contraste de qualidade e preparação com o actual líder e não será de espantar que um número crescente de socialistas comece a pensar que Leitão teria um melhor desempenho como líder do que o próprio Pedro Nuno Santos.
Relativamente a Luís Montenegro, a obrigação de vencer as europeias resulta desde logo da arrojada escolha de cabeça-de-lista para a AD. Sebastião Bugalho tem inequivocamente talento comunicacional, argúcia e potencial político, mas ser lançado como cabeça-de-lista pelo PSD é uma aposta muito arriscada que responsabiliza em primeiro lugar o próprio Luís Montenegro.
Luís Montenegro está obrigado a vencer também pela sua insistência nas “linhas vermelhas” face ao Chega. Mesmo depois de o “não é não” se ter revelado incapaz de conter o crescimento muito significativo do Chega, a liderança do PSD mantém-se fiel à sua estratégia, descartando qualquer possibilidade de tentar estabelecer uma maioria de sustentação à direita para a governação. Um desaire da AD nas europeias – em especial se acompanhado de um bom resultado do Chega – denunciaria e evidenciaria ainda mais o fracasso dessa estratégia.
Finalmente, Montenegro está também obrigado a vencer para que as condições de governabilidade não se deteriorem ainda mais. Com uma maioria escassa e sem entendimentos que lhe permitam garantir uma base parlamentar de apoio mais ampla, o PSD ficará ainda mais fragilizado caso não consiga vencer as europeias.
Tudo considerado, avizinham-se umas eleições europeias interessantes, nas quais a imprecisa mas inevitável leitura nacional dos resultados será ainda mais vincada dada a proximidade temporal com as legislativas. Dependendo do resultado das europeias, Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro (ou ambos) podem ficar com a sua vida enquanto líderes ainda mais complicada.